A reforma ministerial do governo Lula começa nesta sexta-feira com um ato contrareforma. Em dezembro, José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, que se considera mais um “corretor de afetos” e um “apagador de incêndios do que um ministro propriamente dito, comunicou a Lula que estava cansado e queria ir para casa.
Embora os dois sejam amigos de longa data e nunca tenham se desentendido, Múcio achou que sua vida pública terminara. Alegou estar de fato cansado e sob pressão da sua mulher para que se dedicasse mais a ela e aos filhos, além de próximo de completar 77 anos. Não tinha mais o que fazer no cargo.
Lula pediu-lhe para que ficasse e elogiou seu trabalho. Não seria fácil encontrar quem o substituísse. Estava satisfeito com o seu desempenho e ouvia dos militares que eles também estavam. Lembrou ser mais velho do que ele e que, no entanto, seguia firme. A democracia ainda corre riscos, Lula disse.
Múcio entrou de férias e voou para o Recife decidido mesmo assim a pedir demissão. À governadora Raquel Lyra (PSDB), de Pernambuco, com quem se encontrou em uma festa, Múcio disse, sem deixar margem à dúvidas: “Estou cumprindo aviso prévio”; a amigos, que deixaria o governo tão logo Lula o liberasse.
Foi Lula que duas vezes lhe abriu as portas para que entrasse no governo – em 2007, como ministro das Relações Institucionais, e mais recentemente, em 2023, como ministro da Defesa. Seria Lula, portanto, segundo Múcio, que lhe abriria as portas para que saísse. Mas isso estava longe de significar que poderia ficar. Não.
Está para ser contada a história de sua permanência no governo. E ela só depende de que Lula, amanhã às 9h, lhe peça para que fique. Ele pedirá e Múcio dirá sim. Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), ex-ministro da Defesa do governo Dilma Rousseff, confirma que Múcio “já topou ficar até o fim de 2025”.
Esta noite, a única coisa que um amigo de Múcio ouviu dele a respeito foi: “Não posso deixar Lula em um momento tão difícil”. Múcio não explicou por quê. Ao que tudo indica, ele já viveu momentos piores, como por exemplo, a tentativa fracassada de golpe do 8 de janeiro de 2023. E saiu-se muito bem.
Não há golpe à vista, somente muitas turbulências.
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