O World Liberty Financial (WL Token), iniciativa de Donald Trump, passou despercebido por muitos e até recentemente poderia ser considerado um projeto fracassado no universo das finanças descentralizadas (DeFi). No entanto, a vitória do republicano na eleição presidencial mudou o panorama, colocando o projeto no centro das complexas articulações políticas dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Segundo reportagem da Reuters, esse envolvimento inclui o representante especial do presidente norte-americano no Oriente Médio, questionamentos sobre conflitos de interesses dos atores envolvidos e uma parceria com uma plataforma de criptomoedas que, segundo autoridades e especialistas financeiros, tem sido utilizada por criminosos e grupos militantes apoiados pelo Irã, como Hamas e Hezbollah.
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Trump token: um pequeno panorama
A World Liberty Financial Inc. nasceu de uma parceria entre as famílias Witkoff e Trump apenas dois meses antes da eleição presidencial nos Estados Unidos.
O que começou como um negócio no setor de finanças descentralizadas logo se transformou em uma aliança política, culminando na nomeação de Steve Witkoff, magnata do setor imobiliário e líder da família, como enviado especial de Donald Trump para o Oriente Médio.
No entanto, o sucesso dessa união no mercado DeFi não teria sido possível sem a presença da rede da criptomoeda tron (TRX).
Em um momento crítico, a tron adquiriu US$ 30 milhões em ativos do projeto, assumindo 60% de controle sobre a operação e resgatando o WL Token da possível falência.
Essa intervenção também trouxe Justin Sun, criador da tron, para o centro da iniciativa como consultor estratégico — transformando-o, na prática, em um sócio de Trump e Witkoff.
O único problema é que, segundo levantamentos realizados pela Reuters, a tron tem sido usada como plataforma para transferências associadas a grupos designados como terroristas por Israel, Estados Unidos e outras nações, levantando preocupações sobre os riscos e implicações desse envolvimento para o WL Token.
Tron: dinheiro sujo?
A combinação de anonimato, baixas taxas de transação e facilidade de conversão para dinheiro faz das criptomoedas um meio atraente para atividades ilícitas, segundo especialistas. Nesse contexto, a tron (TRX) tem chamado a atenção das autoridades globais.
Desde julho de 2021, o Escritório Nacional de Financiamento ao Contraterrorismo de Israel (NBTCF) congelou 186 carteiras da tron, alegando seu uso por “organizações terroristas designadas” ou em “crimes graves de terrorismo”.
Das carteiras congeladas, 84 foram ligadas ao Hamas e aliados, incluindo a Jihad Islâmica; 39 ao Hezbollah; e 63 a outros grupos ou cambistas não especificados. A ação mais recente ocorreu em 28 de março deste ano.
Nos Estados Unidos, o Departamento do Tesouro também mirou a tron, apreendendo carteiras relacionadas ao financiamento do Hamas após o ataque de 2023 a Israel.
Em março, o Tesouro norte-americano sancionou um cambista libanês que, segundo investigações, fornecia contas de criptomoedas — incluindo uma carteira da tron — a oficiais do Hezbollah para movimentar fundos oriundos do Irã.
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Trump e Witkoff no centro de um conflito de interesses
O sucesso do WL Token agora está diretamente ligado ao trono, e os ganhos financeiros que tanto Trump quanto Witkoff podem obter dessa parceria levantam preocupações significativas.
“Há sinais de alerta por toda parte”, afirmou Kathleen Clark, professora de ética governamental da Universidade de Washington em St. Louis.
As inquietações incluem o investimento substancial da tron na World Liberty Financial, a possibilidade de Trump lucrar com a parceria e o uso da rede Tron por grupos militantes como Hamas e Hezbollah.
Clark também apontou que o fundador da tron, Justin Sun, está sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). Em 2023, a SEC acusou Sun de fraude, alegando manipulação de mercado e promoção oculta por celebridades. Sun negou as acusações, que ainda aguardam julgamento.
Richard Painter, ex-consultor de ética do governo George W. Bush, alerta para o potencial de conflitos de interesse. “O relevante é se você possui um interesse financeiro que pode ser diretamente impactado pelo seu trabalho no governo”, explicou.
Além disso, Trump e sua família podem ser favorecidos por mudanças regulatórias relacionadas ao setor de criptomoedas. Durante a campanha, o republicano prometeu substituir o atual presidente da SEC, Gary Gensler, que tem adotado uma postura rigorosa contra o setor. Na semana passada, Trump indicou Paul Atkins, um defensor da indústria cripto, para o cargo.
A sobreposição dos negócios de Witkoff e seu papel diplomático já gerou questionamentos. Ele participou recentemente de uma conferência de criptomoedas em Abu Dhabi, onde foi apresentado como enviado especial de Trump e como líder na interseção entre imóveis e criptomoedas.
O evento contou com ingressos exclusivos de até US$ 9.999 e teve a presença de Justin Sun como palestrante, reforçando as preocupações de que interesses privados podem estar moldando políticas públicas nos Estados Unidos.
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