O mítico Narciso achava feio o que não era espelho. Para o Narciso que habita Donald Trump, porém, a percepção de beleza na própria imagem depende muito da origem do espelho.
Trump estava lá dedilhando suas redes sociais, com cuidado para não incluir por acidente jornalistas em grupos de WhatsApp do governo, quando se deparou com o quadro que o retrata na galeria de presidentes dos EUA mantida no Capitólio do Colorado.
A imagem mostrava o retrato do ex-presidente Barack Obama ao lado de um de Donald Trump.
Se os retratos não chegam aos pés de uma “Mona Lisa”, também não se aproximam da catastrófica tentativa de restauração de um “Ecce Homo” cometida em 2012 na Espanha.

Retratos comuns, os da galeria. Nada demais.
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Mas onde nossos olhos enxergam apenas um retrato, Trump vê uma imagem “propositalmente distorcida”.
Ele até elogiou a imagem de Obama antes de incorrer em ofensas à artista que pintou ambos os retratos. Em seguida, criticou o governador do Colorado, Jared Polis, do Partido Democrata.
Há quem vá dizer que Trump implicou só pelo fato de o Colorado ser governado pela oposição. Outros podem alegar que Trump não gostou do semblante sereno atribuído a ele no retrato.
Talvez ele só preferisse que a imagem ficasse mais próxima do mugshot de 2023 — parecida com a pose para a foto oficial de sua posse, em janeiro.

“Prefiro não ter foto”, escreveu Trump.
A Assembleia Legislativa do Colorado prometeu atender ao pedido do presidente e vai retirar a foto da galeria.
O retrato, no entanto, é o menor dos problemas de Donald Trump neste início de semana.
Funcionários do alto escalão do governo incluíram, por engano, um jornalista em um grupo de troca de mensagens no qual eram discutidos planos militares sigilosos.
A história veio à tona somente na segunda-feira (24), mas começou 11 dias antes.
Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista The Atlantic, recebeu em 13 de março um convite para entrar em um grupo do Signal, um aplicativo de troca de mensagens considerado mais seguro que similares como WhatsApp e Telegram.
Identificado como “Houthi PC small group”, o grupo foi criado para alinhar a campanha militar que seria lançada contra a milícia houthi do Iêmen dois dias depois do convite feito a Goldberg.
Aparentemente convidado por engano pelo conselheiro de segurança nacional Mike Waltz, o jornalista passou os dias seguintes com acesso em primeira mão a informações sigilosas do plano de ação militar.
Horas antes do início dos ataques, por exemplo, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, compartilhou detalhes operacionais.
Também integravam o grupo o vice-presidente dos EUA, JD Vance, e o secretário de Estado, Marco Rubio, entre outros funcionários de altíssimo escalão.
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É claro que nenhum jornalista perderia uma oportunidade como essa diante de tantas fontes primárias.
Goldberg ficou quietinho no grupo e teve acesso em primeira mão a informações sobre os alvos, as armas que seriam usadas e a sequência de ataques — e muito mais.
O jornalista fez o que se esperava dele e escreveu uma matéria para a The Atlantic.
Vale pontuar que Goldberg poupou o governo Trump de constrangimentos maiores ao omitir detalhes que poderiam, na visão dele, comprometer a segurança nacional norte-americana.
Um lapso que se espera de qualquer país, menos da mais poderosa máquina de guerra da história.
Enquanto o governo tenta apagar o incêndio, a oposição a Trump agora quer emplacar uma investigação no Congresso — equivalente à nossa CPI.
Os democratas não se esquecem de quando os republicanos tentaram derrubar a então secretária de Estado Hillary Clinton por acessar informações secretas a partir de um servidor privado em sua casa em Nova York.
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