O jogo virou. A maioria dos agentes do mercado financeiro começaram a apostar em mais uma alta da taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que acontecerá nos dias 17 e 18.
Segundo as opções de Copom negociadas na B3, a expectativa por um aumento residual na Selic, de 0,25 ponto percentual, disparou para mais de 60% na véspera (5), ante uma expectativa abaixo de 30% uma semana atrás.
As apostas se inverteram completamente, com a projeção de manutenção caindo para menos de 30% frente a um pico que chegou a superar 80% da expectativa ainda na semana passada.
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A mudança de rota do mercado financeiro busca se alinhar com duas situações recentes que entraram no radar com força.
A primeira é a mudança de humor do mercado em relação à postura do governo federal diante da situação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Já a segunda é o tom mais duro do próprio Banco Central em relação à resiliência da economia e o objetivo de trazer a inflação de volta para a meta.
O bode na sala chamado IOF
Primeiro, o governo anunciou o aumento do IOF para várias operações financeiras entre empréstimos, crédito e envio de remessas para o exterior.
Então, voltou atrás e recuou parcialmente em relação às remessas internacionais, reduzindo a alíquota para o investimento no exterior feito por pessoas físicas e voltando a zerar a alíquota para o investimento em fundos lá fora.
Aí, depois de a situação causar uma crise de imagem e divergências com o Congresso e o Banco Central, o governo fez mais um movimento e disse que ia anunciar um pacote de medidas para substituir o aumento do IOF.
Então, adiou: o anúncio que seria na quarta-feira (4), ficou para o próximo domingo (8).
Todo esse vaivém não tinha como acabar bem. A confiança do mercado em relação à postura do governo com as contas públicas ficou completamente prejudicada e acendeu um alerta em relação ao que pode entrar nesse pacote substituto.
A inversão nas projeções para a taxa Selic aconteceu justamente na quarta-feira em que o anúncio das novas medidas foi adiado.
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O aumento da incerteza em relação ao tema fez agentes financeiros acreditarem que o Banco Central precisará ser mais duro com os juros para conter possíveis pressões inflacionárias e ancorar a confiança pelo menos de um lado da moeda.
Galípolo segura as pontas
Falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nutriram essa mudança na rota da Selic.
Nesta semana, Galípolo afirmou que a economia brasileira tem surpreendido com sua resiliência e que não é hora de falar em flexibilização da taxa.
“Estamos em um estágio ainda anterior, estamos discutindo o ciclo de alta e o que vamos tomar de decisão”, afirmou em evento promovido pelo Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), em São Paulo, na segunda-feira (2).
Neste mesmo evento, Galípolo afirmou que a Selic já está em um nível contracionista, independentemente de qual seja o juro neutro, de modo que este “remédio” irá funcionar eventualmente e levar a inflação de volta à meta.
Na teoria, uma taxa de juros em nível contracionista é uma taxa que, em termos reais — descontada a inflação —, está acima da taxa neutra.
Atualmente, a taxa neutra do Banco Central é de 5%. Entretanto, existem economistas que argumentam que a taxa neutra do Brasil é mais alta, entre 6 e 7%.
O fato é que a taxa de juros real neste momento está em 9%.
Segundo Galípolo, o nível da taxa Selic neste momento tem como objetivo perseguir a meta de inflação, mas também ancorar as expectativas.
“É realmente um jogo de repetição e você consegue ir conquistando essa credibilidade a partir do fato de que suas ações e falas estão coerentes na persecução da meta”, disse.
Selic vai a 15% ao ano?
Em entrevista ao Seu Dinheiro, alguns economistas já tinham apontado a necessidade de mais um aumento nos juros para ancorar essas expectativas e melhorar a confiança.
“Os riscos inflacionários continuam relevantes, especialmente em função do PIB ainda positivo, da persistência da inflação de serviços e da pressão que os salários exercem sobre os custos”, diz Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.
Os sinais de desaceleração da economia que têm sido apontados por alguns analistas são muito incipientes, na opinião do economista da Polo. Para ele, a política monetária ainda não atingiu o seu pico de restrição.
Opinião que André Leite, CIO da TAG Investimentos, compartilha.
“O suporte fiscal do governo Lula está segurando a atividade econômica e a inflação lá em cima. Em qualquer situação normal de economia, já era para o Brasil estar entrando em recessão com um juro real perto de 9%”, disse Leite.
As apostas se inverteram e o volume de contratos negociados também disparou nesta semana. Há quem esteja vendo um aumento ainda maior da Selic, de 0,50 ponto percentual.
Falta pouco mais de uma semana para a reunião do Copom, e até lá ainda tem o pacote substituto do IOF, o IPCA de maio e o mercado reagindo a tudo isso.
Mais uma vez, será com emoção.
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