De um lado, há o pessimismo: “os sneakers estão menos populares”, cravou a The Economist no início de abril. De outro, há os números: superlativos US$ 31 bilhões, somente em 2024, nos Estados Unidos. De fato, em uma indústria que caminha em linha reta, ainda são dos tênis e da cultura sneaker algumas das métricas que puxam os gráficos para cima atualmente.
Já faz mais de década desde que a cultura street invadiu de vez as passarelas, um Off-White de cada vez. Ainda assim, a sneakermania caminha muito bem, obrigado, navegando por entre tendências e novidades que parecem segurar o fiel da balança no azul.
Quem aponta isso são as próprias marcas como a Adidas, que divulgou essa semana seu resultado para o primeiro trimestre de 2025i, positivo em todas as áreas, com destaque para o sucesso dos calçados – especificamente de Sambas e Gazelles que a ajudaram a abrir vantagem competitiva frente a Nike e mesmo a outras marcas esportivas como On Running e Hoka.
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O cenário, é claro, tem desafios. Entre eles uma alta no mercado de revenda, hoje estimado em US$ 6 bilhões; um aumento na falsificação, que ganhou força após a explosão de popularidade de modelos únicos durante a pandemia; e mesmo a popularidade de esportivos como On e Hoka. Mas nada que impeça o segmento de garantir pelo menos um terço da venda total de calçados nos EUA, de acordo com o levantamento para 2024 publicado em janeiro pela plataforma Circana.
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E no Brasil?
No Brasil, o cenário promissor parece acompanhado pelo mercado. Navegando a buena onda está Igor Morais, da Kings Sneakers, que fechou 2024 com alta de 25% nas vendas.

À frente do segmento há duas décadas a companhia superou o crescimento de 5% a 8% de alta do varejo brasileiro para o setor no último ano. E os planos para 2025 não são menos tímidos – mesmo frente a um cenário menos aquecido, a expectativa de Morais é de alta de 20%, além de 30 novas lojas, sobre as 163 espalhadas pelo Brasil até janeiro.
Para sustentar a expansão, a marca aposta em espaços pop-up para a venda de sneakers, além da abertura de sua marca própria, a Milionários, com a qual pretende resistir mesmo às perspectivas de alteração global de preços no streetwear decorrente da política tarifária dos Estados Unidos.

Para além das decisões administrativas, Morais também é um antenado no comportamento do consumidor e do mercado – nas tendências, que continuam aparecendo no horizonte de um setor bilionário, que, pelo menos até agora, segue um passo à frente de seus pares da indústria de calçados.
Confira abaixo as cinco tendências apontadas por Igor Morais, da Kings Sneakers, para a indústria de calçados global e brasileira.
Match orgânico
“Não são só os sneakerheads que estão influenciando”, aponta Igor Morais. “Artistas como MC Cabelinho, WIU, Orochi, e criadores como JohnVlogs e Alvxaro ditam moda.”

Mais que uma afirmação, é a percepção de uma indústria que se alinha cada vez mais a nomes das artes. Ainda em março de 2025, MC Livinho e MC Daniel foram os dois representantes brasileiros na campanha global The Original, da Adidas Originals. Além do filme, a marca apresentou na ocasião seu drop Superstar II, com atualizações no clássico absoluto, o Superstar.

Outro exemplo inclui as colaborações frequentes de Converse com artistas brasileiros, que inclui a participação de alguns deles entre os All Stars, o time de jovens criadores da marca. Em 2024, uma campanha de Carnaval resultou no lançamento de modelos customizados, mas também de uma faixa assinada por Whitney Marjoriê, Kalef Castro, Stephany Alves, Olivia Ribeiro e Nicolas Lee.
Estética retrô e Y2K
A nostalgia não é exclusiva do universo dos sneakers – já há algumas temporadas vemos o resgate de elementos que remetem aos anos 2000, a chamada estética Y2K. E, se na cabeça, ela aparece em trucker hats, bonés destroyed e toucas beanie, nos pés o retorno vem no resgate de silhuetas como Nike Shox, Adidas Samba, ASICS Gel e Speedcat Puma. “[Eles] estão voltando com tudo. A nostalgia está moldando o desejo de consumo”, aponta Igor.
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Pegue o Shox, por exemplo: em 2024, a Nike surpreendeu a todos quando anunciou o retorno do controverso modelo às prateleiras, nas versões clássicas de 12 e 4 molas (Shox TL e Shox R4), mas também em releituras. Posteriormente, em fevereiro, vazaram rumores sobre uma possível colaboração do estilista Riccardo Tisci (ex-Givenchy, ex-Burberry) com a Nike, um TL nas cores vermelha, preta e branca.

Também em 2024, foi a Puma que resgatou seu clássico Speedcat, que completou 25 anos, com drops que incluíram modelos comemorativos, feitos em collab com as popstars Dua Lipa e Rosé.
Sneakers com CPF

Fora do Brasil, já se viam diversas colaborações entre artistas visuais e grafiteiros com coleções limitadas. Não faz tanto tempo, a Skeckers lançou uma collab com o muralista britânico James Goldcrown, por exemplo, enquanto Futura assinou sua super exclusiva linha Futura’s Nike SB Dunk High “FLOM”, que chegou a ser arrematado por 63 mil dólares (cerca de R$ 360 mil) num leilão da Sotheby’s.

A novidade agora são collabs locais, com identidade cultural brasileira. “Marcas estão investindo em colaborações com artistas, grafiteiros, cantores e personalidades brasileiras”, explica Igor. Um exemplo seria a colaboração da Converse com o skatista Renato Souza com o colorway “Pé Vermei” do CTAS Mid, uma referência clara às origens do atleta paranaense. “É a valorização do BR original, com cores, slogans e narrativas nossas”, apontou o CEO da Kings Sneakers.
Seu sneaker, sua cara
Abaixe a canetinha: não estamos falando exatamente sobre o All Star rabiscado que você desfilava no Ensino Médio. A customização aqui é aquela que limita os calçados a edições exclusivas ou quase isso. “É o valor no que é único”, explica Morais. “Tênis customizado virou ativo.”

Um exemplo para lá de recente dessa tendência veio com a marca americana StockX, que se aliou ao ator Michael B. Jordan e ao sneaker artist Andu para produzir um único par dos chamados Michael B. Jordan “Smoke & Stack” Juke Low sneakers. O tênis é uma edição limitada, feita em celebração ao filme Pecadores, de Jordan, e foi leiloado online ainda em abril. O valor do lance vencedor não foi divulgado.
Sneakers como investimento
Para Igor Morais, a geração Z enxerga o sneaker como um ativo. “Comprar, guardar, revender…. tênis raro virou ‘ação de bolsa’”, diz. De fato, o sneaker segue um movimento como o de outros colecionáveis, que pegam carona na exclusividade para aumentar o valuation. “Alguns já tratam como ‘sneaker economy’”, completa Morais.
Desconsiderando raridades usadas por ídolos (como os Air Jordan usados por Michael Jordan em sua partida final, leiloado por US$ 2,2 milhões), há hoje casos famosos envolvendo estes sneakers-assets.
Um deles é o Nike MAG Back to the Future, releitura do modelo usado pelo personagem Marty McFly (Michael J. Fox) em De Volta Para o Futuro. Embora não tenha o recurso de fechamento automático visto no filme, o calçado, que teve edição com 1.500 pares especial lançada em 2011, chega a ser vendido por 65 mil dólares atualmente (cerca de R$ 370 mil).

Com informações do The Economist e do The Footwear News.
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