Assassinato brutal, que revoltou todo o país, a morte de Beatriz Angélica Mota (foto em destaque), que teve a vida interrompida bruscamente, aos 7 anos, após ser esfaqueada 42 vezes durante a festa de formatura da irmã mais velha, em Petrolina (PE), completará uma década neste ano, mas segue sem um desfecho.
Apesar de Marcelo da Silva ter confessado o crime, que ocorreu em 10 de dezembro de 2015, o réu nunca foi julgado, uma vez que sua defesa recorre ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), para impedir que o júri popular seja realizado.
Sem conclusão, a família da menina, sobretudo a mãe, Lucinha Mota, luta veementemente para que o assassinato não seja esquecido e Marcelo não saia impune pela barbaridade cometida.
Em 5 de dezembro de 2021, a mãe realizou uma caminhada de 700 km, que durou mais de 30 dias, até chegar a Recife, onde pediu conversou com Paulo Câmara, à época governador do estado. “Tudo que Sandro e eu queremos é garantis Justiça à Beatriz”, desabafou Lucinha em entrevista à coluna.
Falhas e negligência
A família de Beatriz acredita que o postergar do desfecho existe por negligências que ocorreram no início das investigações.
“Eu fiz tudo para que a gente pudesse chegar à autoria do crime. Nós enfrentamos obstáculos, falta de estrutura do Estado, falta de técnica da polícia para investigar crimes dessa natureza, corrupção e negligência do colégio (onde o crime ocorreu). A caminhada que fiz mobilizou não somente o Brasil, mas o mundo. Tenho certeza que foi dessa forma que a gente encontrou o autor”, declarou.
Desde que a menina teve a vida ceifada, a vida da mãe jamais foi a mesma. Lucinha virou investigadora criminal e passou a apurar o caso por conta própria, com o apoio da “Criminal Investigations Training Group”, dos Estados Unidos, que se colocou à disposição para contribuir com as investigações do caso.
Por causa da morosidade nas investigações e demora para punir o autor, Lucinha está decidida a denunciar o Brasil à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). “O Estado brasileiro será denunciado, até para que outras famílias não passem por essa dor. É importante que o estado braseiro garanta justiça a vítima. Os crimes só acontecem porque assassinos têm certeza da impunidade.’
“Justiça tardia não é Justiça. Eles não podem tirar de Beatriz a celeridade do processo. Se até o fim deste ano o processo não ao chegar ao fim, eu vou fazer outro protesto, agora de Petrolina até o Ministério da Justiça, em Brasília, e vou mostrar para o mundo como é a Justiça brasileira”, desabafou.
Emoção
De personalidade forte e semblante de quem não se bate fácil, Lucinha permaneceu a entrevista inteira de cabeça erguida, mas não conseguiu conter as lágrimas ao imaginar como a pequena Beatriz estaria grande a essa altura.
“Ela teria feito 17 anos em 11 de fevereiro. Eu sonho com Beatriz todos os dias, pensando em como ela estaria agora. Beatriz é muito presente na minha vida. Eu tenho certeza que a gente vai se reencontrar”, disse, em meio às lágrimas.
Capítulo final
Ao lado dos dois filhos, Samira e Leandro Mota, do esposo, Sandro Romilton, e da netinha de 6 anos, Lucinha luta, diariamente, para se reerguer. A família sente que o júri será um divisor de águas entre um passado angustiante e um novo tempo.
“Eu tenho certeza que quando o júri acontecer a gente vai conseguir fechar esse ciclo e ter paz para seguir. Tudo se repete o tempo todo. Eu preciso estar a todo momento acessando o processo .É uma aflição sempre que tem uma decisão para sair, é muito sofrimento… se não fosse Deus e o nosso amor, nós não estaríamos juntos”, desabafou.
“Justiça tardia não é Justiça. Mas, o mais importante agora, é que o júri aconteça para que possamos finalizar esse ciclo”, declarou Lucinha.
A coluna entrou em contato com o STJ, que alegou ainda não ter recebido o caso para analisar o pedido de recurso da defesa de Marcelo da Silva, réu no processo, quanto ao júri popular. Questionado, o Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE), informou que retornará assim que receber respostas da unidade em que tramita o processo.
Segundo Lucinha, há, em produção, um livro e uma série documental sobre o crime para serem lançados. O material foi produzido com o apoio de uma produtora de Nova Iorque (EUA). “A questão é que o júri é um capítulo da história, então, até para lançar essas produções nós precisamos que ele aconteça.”