Chegou ao fim, nessa segunda-feira (28/4), a breve trégua que havia sido declarada entre as duas maiores organizações criminosas brasileiras. Em fevereiro deste ano, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) havia firmado um acordo, que visava, sobretudo, pressionar o governo a flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF), onde seus principais líderes estão encarcerados sob rígidas restrições.
À coluna, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya confirmou o fim da da parceria histórica e destacou que os interesses territoriais de ambas as partes e a disputa por tráfico são alguns dos principais causadores do rompimento.
Segundo ele, nenhum dos lados quer abrir mão dos espaços que ocupam. O promotor também pontuou que as facções têm perfis organizacionais que divergem, o que também dificulta a implementação da trégua. O promotor ressaltou, ainda, que era até esperado que a trégua durasse pouco tempo. “A informação que tive conhecimento, já há algum tempo, é de que o Marcinho VP não teria dado aval para essa trégua, o que seria indispensável”, completou.
Fim do acordo
Desde essa segunda-feira (28/4), circulam, nas redes sociais, “salves” — expressão usada para descrever um tipo de “comunicado oficial” expedido pelas facções — decretando o fim da trégua entre as organizações criminosas.
Em uma das notas, intitulada como “comunicado geral” e com data dessa segunda-feira (28/4), o PCC bateu o martelo e escreveu que “chegou ao fim nossa aliança e qualquer compromisso com o Comando Vermelho”.
Em uma “circular informativa” encaminhada por meio das redes sociais, com assunto “Ruptura de Aliança com o PCC e Reforço de Diretrizes Internas”, o Comando Vermelho informou que, a partir daquele dia, segunda-feira (28/4), não manteria mais qualquer aliança ou compromisso com o PCC.
Em seguida, o grupo reforça regras do regimento interno da facção e declara que qualquer membro do CV que cometer atos que manchem o nome da facção, conforme previsto no estatuto da organização, será punido “exemplarmente, independente de haver ou não aliança”.
Diferentemente das outras notas, que informam o fim da trégua com pacificidade, um dos comunicados diz que não haverá mais qualquer tipo de trégua com o PCC dentro do estado de Santa Catarina e declara guerra ao grupo rival.
“Não iremos ter mais trégua nem cessar-fogo com o PCC. A guerra está em aberto. Resumindo, o PCC é nosso inimigo até o fim. Irmãos, sem qualquer tipo de ideia ou diálogo, não vamos aceitar nenhum integrante do PCC no nosso solo sagrado e iremos eliminar todos que descobrirmos dentro do estado. A guerra é sem fim até a última gota de sangue. Não queremos ideia nenhuma com esta organização.”
“Sempre será inimigo”
Pouco tempo depois da notícia da trégua viralizar, Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho (CV), manifestou indignação. O motivo seria que, na verdade, uma falha de comunicação teria resultado na declaração da trégua entre o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
À época, fontes de inteligência ligadas às forças de segurança, revelaram com exclusividade para a coluna que Marcinho VP, ao perceber o equívoco, afirmou categoricamente que o PCC “sempre será inimigo” e que não estaria disposto a negociar rotas ou dividir pontos de tráfico.
Trégua
A informação sobre a trégua entre as duas maiores facções criminosas do país foi divulgada em primeira mão pela coluna. O acordo visava, entre outros objetivos, afrouxar as regras do sistema penitenciário federal e otimizar o tráfico de drogas através do compartilhamento de rotas estratégicas.