Quanto mais tempo gastamos com novas teorias, metodologias e inovações, mais deveríamos simplesmente focar nos fundamentos do mercado financeiro. Volatility Clustering, por exemplo, é como Mandelbrot chamava a alternância entre zonas de baixa e alta volatilidade.
Essas últimas, por sua vez, poderiam ser classificadas em volatilidade destrutiva ou construtiva.
Durante a maior parte do tempo, dentro dos clusters, convivemos com uma dinâmica de retroalimentação de tendência, na qual a experiência imediatamente anterior constitui uma proxy bastante razoável para o retorno esperado.
“In financial markets, volatility is like weather: turbulent today, turbulent tomorrow. Calm today, calm tomorrow” – ele gostava de dizer.
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De vez em quando, porém, ocorre uma quebra, com timing quase sempre imprevisível, e então trocamos de cluster.
O que era entediante fica excitante.
O que era estressante fica tranquilo.
O que era deprimente fica eufórico.
O que era ruim fica bom.
A volatilidade e a fronteira dos ativos de risco
Embora essas transições sejam marcantes no traço narrativo que construímos para explicar o mundo, Mandelbrot fazia questão de frisar que elas são raras.
Portanto, só podemos consolidá-las de fato algum tempo depois que ocorrem. Seria difícil demarcar uma fronteira com exatidão no mesmo momento em que a atravessamos.
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Ainda assim, a contragosto do “Mestre dos Fractais”, eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável agora: o de que acabamos de atravessar uma fronteira de volatility clusters para os ativos de risco domésticos.
Isso, obviamente, está associado às últimas pesquisas políticas no Brasil e à retomada de fluxo internacional para mercados emergentes – ambos fenômenos passíveis de retroalimentação por meio de feedback loops.
Líderes do Centrão começam a ponderar a melhor data de entrega de cargos ao Governo Lula, pois já sentem o cheiro de sangue no ar.
PMEs americanas, Brasil e Índia devem bater o S&P 500, diz o wealth do Citi. E daqui a pouco o wealth do Citi estará ganhando dinheiro, e os outros wealths correrão atrás de seus FOMOs.
Não acho que seja simplesmente um “rali técnico”.
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa.
PS. Mandelbrot foi provocado algumas vezes por financistas a desenvolver modelos matemáticos capazes de prever o Volatility Clustering, mas ele sabia que essa era uma missão arruinada por natureza. Ele passou a melhor parte de sua vida financeira como professor de Yale, ou sob o guarda-chuva do research lab da IBM, contente com um salário previsível de classe média alta. Calm tomorrow, calm today.
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