Enquanto o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou a percepção de desaceleração econômica global e até de recessão, o cenário doméstico ainda é de inflação persistente e incerteza fiscal. Esse cabo de guerra de expectativas abre espaço para uma reprecificação dos ativos de renda fixa brasileiros e coloca lenha no debate: os juros ainda vão subir?
“O grau de desaceleração da economia americana deverá continuar a ser o termômetro dos mercados ao longo dos próximos meses”, diz relatório do Itaú BBA com as recomendações de ativos de renda fixa para o mês de abril.
Apesar de os temores de recessão nos EUA pressionarem os juros americanos para baixo, a curva de juros brasileira ainda precifica uma alta de 0,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), o que elevaria os juros para 14,75%. Além disso, há ainda uma expectativa de aumento até 15% antes do segundo semestre.
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Sem clareza sobre os próximos passos da política monetária brasileira, as carteiras de renda fixa de bancos e corretoras para abril acrescentam um ou outro título prefixado para captar algum ganho com a possível mudança nos rumos do ciclo de juros — isto é, caso o Copom decida não aumentar os juros tanto quanto é esperado hoje.
É o caso do ajuste feito pelo BB Investimentos.
O banco adicionou um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) da Boa Safra Sementes no seu portfólio. No relatório, os analistas alegam que foi uma escolha focada na alta remuneração prefixada do título, que também tem pagamento de juros mensais.
“Com a possibilidade de interrupção do ciclo de alta dos juros a partir de julho, acreditamos que esta seja uma opção atrativa para diversificação do portfólio e carrego de curto a médio prazo”, diz o documento.
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Crédito privado contra a inflação
Apesar da aposta prefixada, de modo geral, o BB Investimentos privilegiou em seu portfólio de renda fixa para abril títulos indexados à inflação com vencimentos mais curtos, vinculados a setores com maior previsibilidade de geração de fluxo de caixa. São papéis do setor elétrico e do agronegócio.
Segundo os analistas, as escolhas buscam por segurança e proteção em um cenário de juros elevados e ambiente macroeconômico desafiador, com alta volatilidade na curva de juros, que tende a impactar negativamente os preços de mercado dos ativos indexados à inflação que têm prazos muito longos.
“Considerando a elevada volatilidade ainda presente na curva de juros, diante de incertezas relacionadas à política tarifária norte-americana, à desancoragem das expectativas de inflação e ao campo fiscal no ambiente doméstico, permanecemos cautelosos em relação às nossas indicações”, diz o relatório.
Veja na tabela a seguir as recomendações de crédito privado do BB para abril:
Investimento | Vencimento | Setor |
---|---|---|
CRA Boa Safra (CRA02500001)* | 15/01/2030 | Agro, Alimentose Bebidas |
CRA Grupo Cereal (CRA02400AHX)* | 16/11/2034 | Agro, Alimentose Bebidas |
CRA BRF(CRA0220079D)* | 15/07/2032 | Agro, Alimentose Bebidas |
Debênture Jalles (JALL13)* | 15/09/2032 | Sucroenergético |
CRA JBS (CRA022008N6) | 15/09/2032 | Agro, Alimentose Bebidas |
Debênture Eletrobras (ELET14) | 15/09/2031 | Energia elétrica |
Debênture Isa Energia (TRPLA4) | 15/10/2033 | Energia elétrica |
CRA BRF (CRA020002H1)* | 15/07/2030 | Agro, Alimentose Bebidas |
Debênture Eneva (ENEV15)* | 15/06/2030 | Energia elétrica |
Debênture Equatorial (EQUA11)* | 15/03/2036 | Energia elétrica |
Fonte: BB Investimentos
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Renda fixa para o longo prazo
Já a escolha do BTG foi por ativos com vencimentos mais longos, a partir de cinco anos.
Para abril, os analistas fizeram três inclusões de papéis: uma debênture da Brava Energia e dois CRAs, um da Raízen e outro da Rede SIM. Nos três casos, o BTG destaca que o prêmio de crédito está atrativo.
A Brava Energia é o resultado de uma fusão das petroleiras 3R Petroleum e Enauta. Para o BTG, a nova empresa deve apresentar sinergias significativas da fusão, aumento significativo de produção e melhora de eficiência, de modo que é esperado desalavancagem futura.
Já a Rede SIM é destacada como empresa com geração de caixa resiliente e baixa alavancagem, e a Raízen como empresa com portfólio robusto e beneficiada pelos bons preços de açúcar e etanol.
Veja as recomendações de crédito privado do BTG para abril:
Investimento | Vencimento | Rentabilidade anual | Rating em moeda local (classificação de risco) |
---|---|---|---|
CRA Rede SIM (CRA02500MB) | 18/02/30 | CDI+ | N/A |
Debênture Brava Energia (ENAT24)* | 15/06/34 | IPCA + 8,74% | AA- (Enauta) |
Debênture Iguá RJ (IRJS14) | 15/05/43 | IPCA + 9,22% | AA+ |
CRI Cogna (22E1321749) | 15/07/29 | IPCA + 9,28% | AA+ |
CRI JHSF (24J2539865)* | 16/10/34 | IPCA + 8,36% | N/A |
Debênture Iguá RJ (IRJS15) | 15/02/44 | IPCA + 9,11% | AAA |
Debênture Intervias (IVIAA0) | 15/08/38 | IPCA + 8,14% | AAA |
Debênture Equatorial Goiás (CGOS28) | 15/09/36 | IPCA + 7,68% | AAA |
CRA Raízen (CRA022008NB ) | 16/08/32 | IPCA + 7,77% | AAA |
(*) Somente investidor qualificado.
Fonte: BTG Pactual
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Vale lembrar que títulos de crédito privado, como debêntures, CRIs e CRAs, não contam com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), deixando o investidor exposto ao risco da própria empresa emissora. Assim, são recomendados para investidores de perfil moderado ou arrojado, e não para conservadores.
Tesouro Direto e títulos bancários
Em sua carteira, a XP recomendou títulos públicos e títulos emitidos por bancos, considerados mais seguros que os papéis de crédito privado por terem garantia do FGC, além das emissões por empresas.
A parcela de títulos bancários escolhida pelos analistas tem dois CDBs para investir em abril e uma Letra de Crédito do Agronegócio (LCA). O vencimento dos títulos é para 2027 e 2028 respectivamente.
Entre os títulos públicos, foram recomendados o Tesouro IPCA+ 2029, que pode ser adquirido no Tesouro Direto; e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais e vencimento em 2030, que está disponível somente no mercado secundário, acessível por meio da plataforma da corretora.
Na parte do crédito privado, a corretora selecionou um CRA e três debêntures. O CRA é da Raízen, assim como a escolha do BTG, porém com vencimento mais curto, para 2029. As debêntures são da Engie, Localiza e Vale.
Investimento | Vencimento | Rentabilidade anual | Rating em moeda local (classificação de risco) |
---|---|---|---|
CDB Banco Haitong | 31/03/2027 | IPCA + 8,60% | brAAA (S&P Global) |
Tesouro IPCA+ 2029 | 15/05/2029 | IPCA + 7,42% | – |
Tesouro IPCA+ 2030 com juros semestrais | 15/08/2030 | IPCA + 7,38% | – |
LCA Sicoob | 15/03/2028 | 92,00% do CDI | AAA (bra) (Fitch) |
CDB Banco C6 | 31/03/2027 | 15,45% ao ano | A (bra) (Fitch) |
CRA Raízen (CRA019003V3) | 16/07/2029 | IPCA + 7,55% | AAA.br (Moody’s) |
Debênture Engie (EGIEA4) | 15/01/2032 | 13,70% ao ano | AAA (bra) (Fitch) |
Debênture Localiza (RENTD1) | 15/12/2031 | IPCA + 9,05% | AAA (bra) (Fitch) |
Debênture Vale (VALEA0)* | 15/10/2034 | IPCA + 6,35% | AAA (bra) (Fitch) |
Fonte: XP
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O Itaú BBA, por outro lado, recomenda exposição às três opções de investimentos do Tesouro Direto: Tesouro Selic (pós-fixado indexado aos juros), Tesouro Prefixado (com remuneração fixa) e Tesouro IPCA+.
Segundo o banco, os três títulos têm espaço em uma carteira de renda fixa, desde que a parcela seja bem distribuída.
Para os prefixados, por exemplo, o prazo sugerido pelo banco é de até três anos. Os analistas indicam que os papéis ainda oferecem taxas atrativas e são “uma boa combinação de carrego e sensibilidade a um eventual encerramento do ciclo de alta [dos juros]”.
Os pós-fixados seguem a mesma linha das indicações dos outros bancos: títulos curtos de até dois anos. Já o Tesouro IPCA+ recomendado pelo BBA é mais longo, acima de cinco anos. “Seguem como o principal veículo para capturar a expectativa de desinflação nos próximos anos, sem abrir mão da proteção contra a inflação”.
Na seleção do crédito privado, o banco selecionou dois ativos que apareceram na carteira de seus pares: o CRA da BRF (CRA020002H1) e a debênture da Intervias (IVIAA0). Além desses, Rumo teve destaque ao ter dois papéis escolhidos e Isa Energia apareceu novamente, porém com um título de vencimento mais longo.
Veja os títulos públicos recomendados pelo Itaú BBA para abril:
Investimento | Vencimento | Rentabilidade anual | Rating em moeda local (classificação de risco) |
---|---|---|---|
Tesouro Selic 2028 | 31/03/2027 | Selic + 0,0596% | – |
Tesouro Prefixado 2028 | 15/05/2029 | 14,08% | – |
Tesouro IPCA+ 2040 | 15/08/2030 | IPCA + 7,30% | – |
CRA Klabin (CRA019003JY) | 16/06/2029 | IPCA + 7,40% | AAA |
Debênture CSN Mineração (CMIN12) | 15/07/2032 | IPCA + 7,60% | AAA |
Debênture Rumo (RUMOB6) | 15/06/2036 | IPCA + 7,0% | AAA |
CRA BRF (CRA020002H1)* | 15/07/2030 | IPCA + 7,9% | AAA |
Debênture Intervias (IVIAA0)* | 15/05/2038 | IPCA + 7,8% | AAA |
Debênture Rumo (GASC23)* | 15/10/2033 | IPCA + 7,3% | AAA |
Debênture Isa Energia (TRPLB7)* | 15/10/2039 | IPCA + 6,8% | AAA |
(*) Somente investidor qualificado.
Fonte: Tesouro Direto e Itaú BBA.
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