Um dos nove presos preventivamente pela Polícia Federal (PF) na semana passada durante uma operação contra um esquema de grilagem no Pará foi Debs Antonio Rosa, apontado como o líder do grupo criminoso que atuava no estado.
Identificado como “produtor rural”, Debs é um dos proprietários da Fazenda Talismã, situada na margem da rodovia transamazônica, em Vitória do Xingu (PA). A fazenda é uma propriedade que “integra agricultura e pecuária”, segundo a própria página do local no Instagram.
A organização da qual Debs faria parte, segundo a corporação, é especializada em fraudes fundiárias, grilagem de terras da União, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos.
Segundo a PF, Debs seria figura central do esquema, liderando as operações e coordenando as ações dos demais envolvidos, além de ter vínculo de parentesco com outros investigados no caso.
“Sua rede de influência familiar e suas conexões com outros membros da organização fortalecem sua posição de liderança e sua capacidade de perpetuar suas atividades criminosas”, afirma a PF em representação à qual a coluna teve acesso.
A corporação também ressalta que ele teria um “vasto histórico criminoso, estando envolvido em diversos conflitos agrários no estado do Pará”. Segundo a representação, seu histórico criminal é “extenso e diversificado”, incluindo suspeitas de crimes como homicídio, roubo, falsidade ideológica, estelionato, entre outros.
A exemplo, é citada na representação uma identidade falsa criada por Debs, com outro CPF sob o nome de Debys Antonio da Rocha. O objetivo, segundo a investigação, seria “ocultar a propriedade dos bens provenientes de infrações penais, bem como dificultar sua responsabilização criminal”.
O fato foi utilizado pelos agentes para argumentar perante o juízo pela prisão preventiva de Debs, uma vez que, considerando a gravidade dos crimes pelos quais ele é acusado, “bem como a possibilidade de fuga devido ao uso de identidade falsa”, a prisão preventiva seria “essencial”.
A corporação também aponta para uma suposta discrepância entre o estilo de vida de Debs demonstrado nas redes sociais, com a compra de veículos de luxo e equipamentos agrícolas de alto valor, com a sua renda declarada.
“Tais aquisições, documentadas em redes sociais e registros públicos, destacam a discrepância entre seu estilo de vida, repleto de ostentação, e suas fontes de renda legítimas”, afirma a PF.
Fazenda Talismã
Um dos exemplos citados pela PF sobre sua “ostentação” é um evento, em julho de 2023, realizado na Fazenda Talismã. Na data, foi promovido um show com a dupla sertaneja “Bruno e Barreto”, do sucesso “Farra, Pinga e Foguete”.
De acordo com a apuração, o evento foi “regado a farto churrasco, preparado no estilo fogo de chão, do qual participaram, gratuitamente, apenas pessoas convidadas”. O show foi registrado na rede social da Fazenda.
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Imagens publicada no Instagram da Fazenda Talismã sobre o show de Bruno e Barreto, em julho de 2023
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Imagens publicada no Instagram da Fazenda Talismã sobre o show de Bruno e Barreto, em julho de 2023
Reprodução/redes sociais
Em publicação no Instagram, o perfil da Fazenda Talismã fez uma publicação, em 20 de julho daquele ano, agradecendo aos presentes no evento. “Obrigado a todos que participaram, ajudaram e cooperaram pra que este evento tenha acontecido com alegria, paz e tranquilidade”, escreveu.
Para além da recepção de artistas, a Fazenda dedicada à atuação no agro, de acordo com a PF, tem fortes indícios de também ser uma área grilada.
A PF afirma que a fazenda, localizada na BR 230, Km 9, é composta por 4 registros de Cadastro Ambiental Rural (CAR), todos pertencentes ao núcleo familiar de Debs.
Operação contra grilagem
A investigação teve início em 2023 pela Polícia Federal em Altamira (PA). Segundo a corporação, o grupo atuava em uma rede criminosa organizada e com um modo de atuação “meticuloso”. Foram reveladas, por exemplo, “fraudes estruturadas” em cartórios de registro de imóveis.
Foram identificados o uso de documentos falsificados, registros baseados em títulos forjados e a atuação de agentes públicos e privados no esquema, que atuariam na “confecção de escrituras públicas falsas, a inserção de dados fraudulentos em sistemas cadastrais oficiais e a posterior comercialização de imóveis grilados”.
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da PF durante operação contra fraudes fundiárias no Pará
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Carro da PF durante operação contra fraudes fundiárias no Pará
Reprodução/PF
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O esquema incluía ainda falsificação de processos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), simulação de transações imobiliárias, registros indevidos em cartórios e obtenção de financiamentos rurais com garantias baseadas em propriedades griladas.
A partir das apurações, foi deflagrada em 21 de maio a primeira fase da Imperium Fictum, que mobilizou centenas de agentes e resultou no cumprimento de 39 mandados de busca e apreensão e 9 mandados de prisão preventiva, expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Estado do Pará.
Os mandados foram cumpridos no Pará e em outros sete estados, além do Distrito Federal. Como mostrou a coluna, além das prisões e buscas, a Justiça também determinou o sequestro e bloqueio de R$ 608 milhões dos investigados.
Defesa
A coluna entrou em contato com a defesa de Debs, informando sobre o teor da reportagem. No entanto, o advogado disse que se manifestaria apenas nos autos do processo.
“Defesa se faz no processo; não na mídia. Esta já o condenou!”, disse à coluna.