São Paulo – O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou, na última semana, que enviará à Assembleia Legislativa (Alerj), ainda no primeiro semestre deste ano, um projeto que permita aos devedores trocar os débitos por áreas de reflorestamento. O Estado tem um passivo com proprietários de áreas de preservação, que não foram indenizados à época em que os terrenos foram transformados em territórios de conservação ambiental.
Com a nova lei, o governo resolveria a dívida com os atuais proprietários da terra, e também perdoaria a sonegação fiscal bilionária de empresas que operam em território fluminense — entre eles, o empresário Ricardo Magro, que tem dívidas bilionárias em seis estados brasileiros.
Durante o evento “Rumos 2025”, promovido pelo jornal Valor Econômico, Castro disse que seu projeto para redução de carga tributária em troca de áreas de preservação permitirá que “tanto devedores quanto quem tem crédito de ICMS possa comprar essas áreas, e assim a gente [consiga] gerar mais créditos de carbono ainda”.
Além de governadores, o evento também contou com autoridades do governo federal, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.
Ricardo Magro
A proposta pode beneficiar diretamente Ricardo Magro. Segundo a plataforma “Barões da Dívida”, da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), a Refit, principal empresa de Magro, é a maior devedora do país, com dívidas acumuladas em R$ 20,8 bilhões – apenas no estado do Rio de Janeiro, os débitos da empresa chegam R$ 10,8 bilhões, de acordo com dados de fevereiro, da Procuradoria-Geral do Estado.

O empresário tem forte influência no governo do Rio de Janeiro. Em janeiro de 2025, o cientista político Juliano Pasqual foi nomeado secretário da Fazenda, no lugar de Leonardo Lobo Pires. Fontes do Palácio Guanabara afirmam que Pasqual é ligado a Ricardo Magro, mas mesmo antes de sua nomeação a pasta já estava sob influência do empresário.
Outro aliado de Magro é o secretário do Ambiente e Sustentabilidade Bernardo Rossi (Solidariedade), nomeado em março de 2024, após a exoneração do vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que acumulava as funções.
O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), também é ligado a Magro. Na sexta-feira (28/3), em outro evento do grupo Globo, Castro afirmou que Bacellar é seu nome favorito na disputa ao governo em 2026 e que não irá disputar as eleições ao Senado caso Pampolha, que também é pré-candidato ao governo fluminense, concorra.
Se o governador entrar na corrida para senador, terá de renunciar do cargo em março do próximo ano, e a principal cadeira do Palácio do Guanabara ficará com seu vice.
“Ele (Pampolha) não faz parte do meu grupo para que eu o apoie como governador. Preciso viabilizar meu candidato, que é o Rodrigo Bacellar. Não se trata de um demérito ao Thiago, nem de falta de capacidade, mas meu grupo político não pode entregar de bandeja a cadeira a alguém que não faz parte dele”, afirmou Castro.
O rompimento de Pampolha e Castro ficou público após o vice-governador sair do União Brasil e se filiar ao MDB. Thiago foi escolhido como candidato a vice na chapa de Cláudio Castro por conta de um acordo partidário, quebrado após a troca de legenda de Pampolha.
O governo do Rio de Janeiro foi questionado sobre as declarações de Castro a respeito do projeto de alívio fiscal e a relação dos secretários com Ricardo Magro, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
Alvo da Polícia Civil
Em dezembro, Magro foi alvo de uma operação da Polícia Civil de São Paulo contra um suposto esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Segundo a investigação, conduzida pelo 10º DP (Penha), na zona leste da capital paulista, Magro usou 188 empresas para sonegar ICMS, por meio do transporte de combustíveis mais barato de outros estados.
A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em seis endereços de São Paulo, além de Guarulhos e Arujá, na região metropolitana da capital. Dois endereços eram de empresas que receberam pagamentos da Fera Lubrificantes, companhia sediada em Guarulhos e inscrita no nome do pai e do avô de Ricardo Magro.