A Polícia Federal divulgou nesta quarta (20/11) que identificou o general reformado Mário Fernandes, apontado como peça-chave da Operação Contragolpe, não só foi o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, como também imprimiu o documento no Palácio do Planalto.
Fernandes teria usado a impressora do gabinete da Secretaria-Geral da Presidência da República no dia 9 de novembro de 2022, semanas depois da derrota de Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial.
A cópia do documento foi levada ao Palácio da Alvorada, residência do chefe do Executivo, e o nome do arquivo impresso era “Planejamento”. Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.
Preso nesta terça-feira (19/11), Fernandes foi o número 2 da Secretaria-Geral da Presidência na gestão Bolsonaro, quando o general Luiz Eduardo Ramos comandou a pasta. Após deixar o governo, o militar detido ontem ocupou, entre 2023 e o início de 2024, cargo na liderança do PL na Câmara, lotado como assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ). Procurado, Fernandes não respondeu.
Fernandes imprimiu novamente o plano de ataque contra as autoridades – chamado de Operação Punhal Verde e Amarelo – na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09.
Segundo a PF, enquanto ele imprimia o arquivo, os aparelhos do “kid preto” Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Planalto. Oliveira também foi preso ontem. Ele não se manifestou.
Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular chamado “Acompanhamento”, sobre a rotina do então presidente.
Naquele dia, conforme as informações desse grupo, Bolsonaro acompanhou a posse de ministros no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.
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Polícia Federal: ação dos “kids pretos”
A PF destacou que Rafael de Oliveira, o “kid preto” que estava no Planalto quando foi feita a segunda cópia do plano contra as autoridades, foi um dos integrantes da operação Copa 2022, que efetuaria a prisão/execução de Moraes no dia 15 de dezembro daquele ano.
Os oficiais chegaram a colocar o plano em execução, usando até carros do Exército para monitorar o ministro. A ação dos “kids pretos” foi aprovada em reunião na casa do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, registrou a PF. Braga Netto não se manifestou.
De acordo com o inquérito da Operação Contragolpe, o ex-ministro da Defesa era figura central na trama de um golpe de Estado e assumiria a função de coordenador-geral de um hipotético “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” caso a ruptura ocorresse.
Segundo a PF, a reunião com os “kids pretos” na casa de Braga Netto ocorreu no dia 12 de novembro de 2022. Na ocasião, o “planejamento operacional para a atuação dos ‘kids pretos’ foi apresentado e aprovado”. O encontro teve a participação de Mauro Cid.
Núcleos de atuação
Mário Fernandes é apontado nas investigações sobre a suspeita de tentativa de golpe como integrante do “Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio de outros núcleos”. Os membros desse grupo, “utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para a consumação do golpe”, disse a PF.
Os investigadores descreveram Fernandes como um dos militares mais radicais do referido núcleo. O inquérito aponta que o general “promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QGEx (Quartel-General do Exército), e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022”.
A PF acessou mensagens de Fernandes e apontou teor relacionado a “ideários golpistas”. De acordo com a PF, ele sabia do encontro em que foi apresentada a Bolsonaro a minuta do golpe. Naquele dia, o general enviou a Cid um áudio: “Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força”.
Em outra gravação, Fernandes enviou ao ex-faz-tudo de Bolsonaro mensagem em que “comemora” o fato de o ex-presidente ter aceitado “nosso assessoramento”. “Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Foi muito bacana. Todo mundo vibrando.”
*Informações da Agência Brasil
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