São Paulo — A Polícia Federal (PF) mudou sua metodologia para contabilizar operações cumpridas contra suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro e o valor de itens apreendidos nessas ações. As alterações só valem para os dados de 2024 em diante, e não promovem a reclassificação dessas informações no passado.
A medida faz com que dados do último ano e do futuro sejam impossíveis de serem comparados com os de períodos anteriores. Dessa forma, inviabiliza a análise de estatísticas da gestão do atual diretor-geral da PF, Andrei Passos, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em relação a seus antecessores.
Ao Metrópoles, a Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Dicor), chefiada pelo delegado Ricardo Saadi, afirmou que a contagem de operações foi mudada para tornar o dado mais preciso. Segundo o órgão, antes, entravam na conta apoio a operações em outros estados e uso de drones para monitoramento de áreas durante eleições, por exemplo.
Agora, a PF passou a contabilizar somente operações que delegados tenham realizado e pedido à Justiça e cujos mandados tenham sido autorizados. Segundo a PF, a contabilização de atividades como o mero apoio a operações de outros estados, estava inflando dados de produtividade da corporação.
A revisão da metodologia só foi informada à reportagem depois que o Metrópoles obteve dados sobre operações por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Os números enviados pela própria corporação mostravam uma queda de 34% na quantidade de operações comparando os dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (2019-2020), com os dois primeiros do governo Lula (2023-2024).
Ao ser questionada sobre a queda no indicador, a PF afirmou que os dados antigos não eram os mais precisos porque modificou a forma de contabilizá-los a partir do ano passado.
A PF também mudou critérios para quantificar o valor de mercadorias apreendidas. Segundo o órgão, antes, superintendências atribuíam livremente o valor das cargas de drogas confiscadas, por exemplo. A questão é que um quilo de entorpecente pode ter valores diferentes a depender de onde foram adquiridos.
Um quilo de maconha, por exemplo, é mais caro no centro de São Paulo do que seria se fosse apreendido na fronteira com o Paraguai, em Foz do Iguaçu (PR). A localização da apreensão é um dos fatores que entraram nos novos critérios da PF.
Os dados de apreensões dos anos anteriores não serão revistos, segundo a Polícia Federal, o que também torna a base de comparação diferente para avaliar o desempenho de cada gestão da corporação daqui para frente.
Um dos dados que não mudaram foram as prisões. Como mostrou o Metrópoles, as detenções por corrupção despencaram 78% em seis anos, passando de 607, em 2019, para apenas 136 no ano passado.
No período informado, o menor número de prisões aconteceu em 2022, último ano do governo Bolsonaro, com 94 casos. Se fossem considerados apenas os dois primeiros anos de cada gestão, porém, a administração do ex-presidente chegaria a 957 prisões, contra apenas 281 no governo Lula.