São Paulo — Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram uma tecnologia que escaneia árvores e orienta com precisão as podas, o que pode reduzir o risco de queda em áreas urbanas.
Batizado de Algoritmo da Poda, o software aplica equações matemáticas em imagens tridimensionais. A partir disso, é possível avaliar o efeito de diferentes direções de vento e visualizar os pontos fracos e fortes da árvore.
“O software permite podar a árvore de várias formas e acompanhar o surgimento de pontos fracos e fortes da estrutura. Um dos passos adiante é testar com uma árvore jovem real em um túnel de vento e verificar como funciona na prática”, explica Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e do Instituto de Biociências (IB).
Buckeridge desenvolveu o projeto junto com Emílio Nelli Silva e Marcelo Zuffo, professores da Escola Politécnica da USP, e Luis Otávio de Souza, aluno de graduação da faculdade. Uma figueira em um restaurante foi a faísca para o projeto.
“A ideia surgiu a partir de uma conversa quando fomos jantar. Eu perguntei ao Emílio, que é especialista em otimização de estruturas, se seria possível otimizarmos uma árvore depois da poda para que ela não ficasse desestabilizada. Daí o processo começou, o desenvolvimento do software avançou. Pedimos para o Marcelo Zuffo escanear uma árvore para testar a ideia com uma árvore real. O resultado foi excelente e a ideia se mostrou muito promissora”, diz Buckeridge.
Para o professor, as árvores deveriam ser acompanhadas “o tempo todo”, não apenas antes da poda. “Se quisermos evitar quedas, temos que ter um sistema de vigilância da saúde das árvores nas ruas. Avaliar as árvores antes da poda é importante quando formos podá-la. Antes disso, se a árvore cresceu livre e estiver sadia, ela deverá estar naturalmente otimizada. Isso não é comum nas cidades, pois muitas podas são feitas principalmente para ajustar a estrutura delas em relação à fiação elétrica”, afirma.
Buckeridge revela que gestões municipais, incluindo a Secretaria do Verde e Meio Ambiente da capital paulista, manifestaram interesse na tecnologia. “Acreditamos que o Algoritmo de Poda possa ser muito útil num futuro próximo. Algumas parcerias estão sendo formadas para testar o sistema e avaliar a sua aplicação em escala cada vez maior.
Neste ano, foram registrados aproximadamente 2 mil chamados para quedas de árvores na cidade de São Paulo, de acordo com a prefeitura. Em apenas um dia, caíram 158 árvores na capital paulista — mais de 156 mil imóveis ficaram sem energia e uma pessoa morreu.
A gestão municipal informa que, no primeiro trimestre, foram podadas 33.338 árvores na cidade. Questionada sobre as ações realizadas, a prefeitura afirma que a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente coordena o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), elaborado em 2020.
“A iniciativa estratégica e sustentável é voltada para o planejamento, gestão e manejo da arborização na cidade. Como parte desse trabalho, estão sendo desenvolvidas ações preventivas, como o Protocolo de Avaliação de Risco de Queda de Árvores, além de pesquisas em parceria com o Instituto CENA/USP e cursos abertos ao público para capacitação sobre arborização urbana. A gestão municipal já concluiu etapas importantes do PMAU, e entre as ações está a elaboração do termo de referência para contratação do inventário arbóreo”, afirma prefeitura, em nota.
A Enel, concessionária de energia da capital e de mais 23 cidades da região metropolitana, também realiza podas em árvores próximas à rede elétrica. Neste primeiro trimestre, foram 104.715 podas realizadas na área atendida pela empresa, de acordo com o balanço publicado no site oficial.