A decisão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de cancelar a viagem que faria à Europa ao longo desta semana é bem vista por especialistas consultados pelo Broadcast. Eles esperam uma reação positiva dos mercados na abertura da bolsa no pregão da próxima segunda-feira (4).
Segundo nota divulgada pela Fazenda nesta manhã, o ministro permanecerá em Brasília para tratar de “temas domésticos” a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa agora é de que haja um anúncio de medidas fiscais em breve.
O cancelamento da viagem foi uma surpresa “bem” positiva, segundo Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. Ao mesmo tempo, indica que o governo se sensibilizou, dado o recente estresse dos mercados financeiros no Brasil em meio ao anúncio da ida do ministro ao continente europeu.
“O dólar superou R$ 5,80 e os juros explodiram. O cancelamento mostra que o governo se sensibilizou, indica um senso de urgência”, afirma Takeo.
Por conta da indefinição com o fiscal, na sexta-feira, dia 1º, o dólar à vista fechou no segundo maior nível da história, a R$ 5,8694, em alta de 1,53%, com avanço forte dos juros futuros. O Ibovespa recuou 1,23%, aos 128.120,75 pontos, o menor nível de fechamento desde 7 de agosto, então aos 127,5 mil pontos.
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Expectativa com a bolsa a partir de agora
“De forma geral é uma sinalização positiva para o mercado e para o Brasil. Visto que a situação está mais delicada, ver o governo focado em trazer uma resposta concreta e rápida é importante”, concorda o economista da Manchester Investimentos, Thiago Lourenço.
“Essa sinalização de Lula pedindo para o Haddad ficar vem num bom momento. O mercado precisa ter a presença dele aqui voltada para controlar os gastos”, diz Gustavo Riess, sócio e assessor da Ável Investimentos.
Para Gabriel De Biase Berenguer, CEO da RJ+ Asset, o governo priorizou os desafios econômicos internos e evitou um possível estresse adicional aos mercados.
Ele diz que a reação dos mercados na abertura de amanhã pode ser favorável, mas as ações concretas dos próximos dias seguem no radar.
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“Se efetivamente essa postergação da viagem se dá para ter algum anúncio em relação ao fiscal, isso é bastante positivo”, reforça Rodrigo Moliterno, head de Renda Variável da Veedha Investimentos.
Na mesma linha, Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, afirma que o cancelamento da viagem em si não deve trazer grande alívio.
“O mercado quer resoluções práticas e concretas, anúncios, não mais promessas. Isso controlaria a parte de especulação que estamos tendo, as pressões em cima do câmbio e da inflação”, afirma. “Só remarcar a viagem não muda nada, dado a calamidade que está”, observa Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.
E, para Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos, “cada vez que o governo adia a questão, menos paciência o mercado tem”.
Só o “anúncio final” aliviará os mercados na semana
Mas a expectativa de Takeo, da Potenza, é de que a abertura dos ativos brasileiros amanhã seja atenuada, pois o governo pode anunciar o pacote de corte de despesas nos próximos dias, em vez de fazer isso apenas na semana seguinte. Ele pondera, no entanto, que os ativos ainda podem não devolver todo o prêmio de risco, uma vez que os investidores e os agentes querem algo concreto.
De acordo com o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, com o cancelamento da viagem, o governo anunciará alguma medida fiscal para reduzir as despesas da máquina pública.
E, segundo o analista da Empiricus Research, Matheus Spiess, esse anúncio pode vir logo, talvez até o dia 8 ou 9. O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, por sua vez, vê chance de algo sair já amanhã.
“Imagine a pressão que não ficou em cima do Haddad, que teve de cancelar a viagem. Provavelmente terá de fazer algum anúncio nesta segunda-feira”, estima. Mas, se o anúncio não agradar, Laatus decreta: “É dólar a R$ 6,00”.
O economista-sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, afirma que só mesmo um anúncio de medidas que levem à percepção de responsabilidade fiscal mudará a dinâmica dos ativos brasileiros. “Se houver, é o que realmente vai mudar, mesmo que de forma tardia”, afirma.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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