Se o investidor brasileiro quiser fazer uma aposta arrojada e menos óbvia, a Cyrela (CYRE3) é uma opção para o Itaú BBA, porém não é a única — o banco tem outras duas queridinhas no setor de construção no momento.
Segundo o BBA, existem vários fatores a favor da Cyrela. Com um valuation atrativo e com forte geração de receita, a companhia deve alcançar um ROE (retorno sobre patrimônio líquido) de 20% neste ano.
Isso sem falar que a ação CYRE3 vive um rali de alta de aproximadamente 25% nos últimos 12 meses, contra 5% do Ibovespa.
Acontece que esses tempos de glória podem acabar em breve. Para o BBA, a Cyrela está em uma corrida contra o tempo: ou o cenário macroeconômico melhora ou o micro vai enfraquecer na segunda metade do ano.
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Explicando: as construtoras voltadas para a classe média são essencialmente dependentes das condições macro. Portanto, uma deterioração nesses indicadores pode afetar os fundamentos do setor e causar quedas nas ações das empresas.
Os analistas do BBA acreditam que a Cyrela seria a “última a sofrer” com esses efeitos.
Isso porque a companhia deve ganhar participação de mercado à medida que os pares perdem acesso a financiamento e reduzem os lançamentos; possui uma exposição de receita mais diversificada (30% baixa renda, 50% alta renda); e pode gerar um caixa considerável se reduzir a aquisição de terrenos.
No entanto, apesar de terem uma visão construtiva para a empresa, eles são claros ao revelar uma preferência pelas construtoras de baixa renda, que oferecem uma relação risco-retorno mais atrativa.
Nesse sentido, Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3) são as “top picks”.
2024 foi bom, mas…
As construtoras voltadas para a classe média, incluindo a Cyrela, tiveram o melhor desempenho operacional de todos os tempos, no ano passado. O que levou a esse marco foi uma série de condições favoráveis, como:
- O bônus demográfico (aumento da população em idade ativa);
- O aumento na renda dos brasileiros;
- O baixo índice de desemprego;
- Disponibilidade de financiamento; e
- Altos níveis de confiança do consumidor.
Acontece que essa tamanha prosperidade no ambiente microeconômico não deve se repetir para 2025, na visão do Itaú BBA.
“Acreditamos que a demanda por moradia de renda média provavelmente não permanecerá tão forte em 2025, pois a deterioração do cenário macroeconômico pode afetar os fundamentos [do setor]”, escreveram os analistas.
Menor confiança dos consumidores, aceleração da inflação da construção (Índice Nacional de Custo da Construção), aumento do desemprego e mais restrições para financiamentos são todos fatores já mapeados pelo BBA que devem fazer a vida da Cyrela e das outras construtoras do ramo ficar mais difícil.
“Além disso, o aumento das taxas de juros pode aumentar o endividamento da renda familiar, potencialmente, reduzindo sua capacidade de arcar com parcelas elevadas relacionadas à aquisição de um apartamento”, diz o relatório.
Vale destacar que a Cyrela, apesar de ser uma ótima empresa na visão dos analistas da instituição, está inserida em um setor extremamente cíclico e sensível a fatores como a Selic e a inflação.
Os últimos respiros
As construtoras já divulgaram as prévias para os balanços do quarto trimestre de 2024. O Seu Dinheiro fez uma análise aqui.
O que se pode tirar desses números é que os desafios macroeconômicos dos últimos meses ainda não afetaram de forma pesada os canteiros de obras e os stands de vendas — pelo menos por enquanto.
Para o BBA, a primeira metade de 2025 pode “mascarar a desaceleração” que o setor deve sofrer ao longo deste ano.
Em suma, os analistas não esperam que o primeiro semestre deste ano vá apresentar resultados ruins, uma vez que as construtoras devem concentrar os lançamentos nesses primeiros seis meses, mantendo os lançamentos e as vendas nominais em níveis elevados.
Somado a isso, o baixo estoque da cidade de São Paulo – o menor em cinco anos – deve preservar a velocidade das vendas em níveis saudáveis, apesar do aumento dos lançamentos.
- Para se ter uma noção, no ritmo atual de vendas, levaria apenas 10 meses para que todos os imóveis disponíveis fossem vendidos, caso nenhuma nova propriedade fosse colocada à venda.
Por um lado, a desaceleração no setor deve se tornar mais evidente no segundo semestre de 2025, o que pode prejudicar o sentimento dos investidores e, consequentemente, as ações.
Por outro, é nesse mesmo período que o Banco Central já teria atingido o “pico” do ciclo de aperto monetário e que as discussões sobre as eleições de 2026 começariam a esquentar – o que pode deixar o cenário macroeconômico “menos nervoso” e mais favorável às construtoras como a Cyrela.
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