A invasão de “Fernandas Torres” em blocos de Carnaval nas ruas das metrópoles em 2025 não deixa mentir: esse ano, o Oscar entrou de vez na agenda do brasileiro.
Por todo o país, fãs de cinema devem interromper o feriado para torcer por Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, nas três categorias em que concorremos neste domingo (2), como Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Filme Internacional.
Pela primeira vez em mais de 25 anos, o Brasil está também acompanhando a campanha dos artistas em busca dos votos que podem trazer as estatuetas para cá. E isso envolve, também, acompanhar os concorrentes e demais filmes indicados este ano.
Apostar em vencedores, claro, nunca é fácil. Tampouco existe um método confirmado de acertar quem vai vencer, isso é só na hora (e às vezes nem assim, vide a disputa entre Moonlight e La La Land há alguns anos).
O que podemos fazer é conferir como vem sendo o desempenho dos filmes nas demais premiações da temporada. E é isso que trazemos abaixo para você, leitor do Seu Dinheiro: uma análise da temporada 2024/2025 de premiações nas principais categorias (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante e, nesse contexto de Brasil no Oscar, Melhor Filme Internacional).
Desde já assumimos, e vamos reiterar abaixo, a torcida por Ainda Estou Aqui nas três categorias em que concorremos. E adiantamos que as cartas estão na mesa, ao menos na maioria das indicações brasileiras. Mas para os demais, o cenário que se desenha pode ser surpreendente. E nos ensinar ainda mais sobre como funciona Hollywood fora da sala de cinema.
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Melhor Atriz coadjuvante
- Monica Barbaro – Um Completo Desconhecido
- Ariana Grande – Wicked
- Felicity Jones – O Brutalista
- Isabella Rossellini – Conclave
- Zoe Saldaña – Emilia Pérez
Em 2025, apesar de atuações surpreendentes – estamos falando com você, Isabella Rossellini –, a corrida parece definida entre Zoe Saldaña, de Emilia Pérez, e Ariana Grande, de Wicked.
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Ainda assim, o favoritismo de Saldaña é inegável: a atriz arrebatou a temporada de premiações em 2025, garantindo ao menos uma vitória para Emilia Pérez em quase todas as premiações, mesmo com as crises que se instalaram sobre a campanha após a descoberta de declarações polêmicas da protagonista Karla Sofía Gascón.
A vitória recente de Saldaña, nos Screen Actors Guild Awards (SAG Awards – o prêmio do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos) do último domingo (23) – confirma um caminho de sucesso que inclui o BAFTA (o “Oscar” britânico), o Critics’ Choice Awards e Globo de Ouro. Além disso, reforça as chances da atriz: nos últimos 30 anos, a vitória da categoria no SAG foi confirmada 22 vezes no Oscar, uma margem de 73% de acerto. Nos últimos 10 anos, a proporção foi de 9/10 acertos.
Melhor Ator coadjuvante
- Yura Borisov – Anora
- Kieran Culkin – A Verdadeira Dor
- Edward Norton – Um Completo Desconhecido
- Guy Pearce – O Brutalista
- Jeremy Strong – O Aprendiz
Considerada uma das certezas do Oscar 2025, a categoria de Melhor Ator Coadjuvante deve ir, quase certamente, para Kieran Culkin. O astro de Succession fez uma campanha quase imbatível com seu papel profundamente sensível e carismático como Benji em A Verdadeira Dor.
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Sua vitória nos SAG Awards no último domingo (23) parece confirmar a tendência: o vencedor da premiação do Sindicato de Atores na categoria se repetiu no Oscar em 21 dos últimos 30 anos.
Se isso não for suficiente, talvez valha dizer que Culkin também arrebatou a estatueta no Globo de Ouro, no BAFTA, no Critics’ Choice Awards e em mais de uma dúzia de festivais locais em 2024. Um caminho para lá de livre em direção ao Oscar.
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Melhor Filme Internacional
- Ainda Estou Aqui (Brasil)
- A Garota da Agulha (Dinamarca)
- Emilia Pérez (França)
- A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha)
- Flow (Letônia)
Chegando à parte que nos interessa, a corrida fica um pouco mais acirrada. Isso porque, aqui, é possível desenhar um padrão claro de antes e depois.
Pela maior parte da corrida pelo Oscar, Emilia Pérez foi considerado um favorito na premiação: com 13 categorias, o longa tornou-se recordista como o filme de língua não inglesa com mais indicações na história. A aclamação em festivais como o Cannes parecia levar a produção do diretor francês Jacques Audiard em uma trilha de sucesso – o que, de fato, foi, até janeiro.
E aí vieram as polêmicas.
Àquela altura, Emilia Pérez já recebia críticas à encenação da transgeneridade da protagonista; insatisfação com uma representação caricata do México e do narcotráfico; e revolta com a pouquíssima participação de mexicanos na produção.
O golpe mais duro, no entanto, viria com o fim de janeiro. Uma semana após acusar a equipe de Fernanda Torres de fazer campanha contra ela, Karla Sofía Gascón, a protagonista de Emilia Pérez teve uma série de tweets antigos desenterrados por uma jornalista canadense. Neles, a atriz traçava uma enxurrada de comentários com viés racista, xenofóbico e islamofóbico – sobraram ataques até mesmo à própria Academia de Hollywood, que entrega o Oscar.
Toda a polêmica, que desenrolou nas três semanas que antecipavam o prazo final da votação no Oscar, parece ter afetado em cheio a campanha da produção francesa, que chegou a reduzir a participação de Gascón em peças promocionais.
E é aí que entra Ainda Estou Aqui: na contramão de Emilia Pérez, o longa de Walter Salles ganhou atenção crescente graças a um investimento pesado da Sony Pictures Classics à campanha.
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À parte do desempenho de Fernanda Torres na campanha – que incluiu sua vitória importantíssima como Melhor Atriz em Filme Dramático no Globo de Ouro (mais abaixo) -, Ainda Estou Aqui estreou nos EUA a 11 dias do fim da votação, com um público crescente: segundo o site Box Office Mojo, o faturamento da produção no país ultrapassou os US$ 27 milhões (cerca de R$ 157 milhões) nesta semana.
Prêmios importantes de Ainda Estou Aqui, além do Globo de Ouro de Fernanda Torres, incluem o Goya (o “Oscar” espanhol), como Melhor Filme Íbero-Americano; a estatueta de Melhor Roteiro no Festival de Veneza para Murilo Hauser e Heitor Lorega; e o Satellite Awards de Melhor Atriz para Fernanda Torres. Uma atenção merecida ao longa merece nossa aposta (e torcida) como Melhor Filme Internacional.
Melhor Ator
- Adrien Brody – O Brutalista
- Timothée Chalamet – Um Completo Desconhecido
- Colman Domingo – Sing Sing
- Ralph Fiennes – Conclave
- Sebastian Stan – O Aprendiz
A vitória de Timothée Chalamet como Melhor Ator no SAG Awards, na última semana, parece ter confundido ainda mais uma das categorias mais incertas da edição 2025 do Oscar.
Seguindo a estatística cotada em categorias anteriores, os vencedores dos SAG Awards levaram a melhor em 24 das 30 últimas edições do Oscar – uma margem de 80% de correspondência.
A confusão se dá especialmente devido a uma campanha dominada por Adrien Brody, vencedor do Oscar por O Pianista, que em 2025 parece repetir o sucesso com sua performance em O Brutalista.
Ao longo do último ano, Brody venceu em 8 das principais premiações do cinema, incluindo o BAFTA, o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards.
Se a tendência de acertos dos SAG Awards se confirmarem em 2025, talvez caiba uma surpresa na cerimônia deste domingo (2), com um favorito da indústria sendo ofuscado pela performance reconhecida pelo Sindicato dos Atores. Mas é seguro dizer que Brody ainda tem boas chances de levar a melhor.
Melhor Atriz
- Cynthia Erivo – Wicked
- Karla Sofía Gascón – Emilia Pérez
- Mikey Madison – Anora
- Demi Moore – A Substância
- Fernanda Torres – Ainda Estou Aqui
Outra categoria importante para o Brasil no Oscar 2025, a disputa pela estatueta de Melhor Atriz é uma das grandes incertezas da noite.
Isso porque a vitória de Fernanda Torres como Melhor Atriz em Filme Dramático no Globo de Ouro colocou em xeque qualquer favoritismo de nomes da indústria americana. A conquista de janeiro, afinal, foi sobre nomes consagrados da indústria como Angelina Jolie, Tilda Swinton e Kate Winslet.
Dali em diante, Fernanda foi catapultada a um papel de destaque na imprensa dos Estados Unidos. Com seu carisma, ela partiu para uma série de aparições na TV e na mídia, que incluíram entrevistas no talk show do apresentador Jimmy Kimmel e no programa Good Morning America.
Mas nesse caso talvez valha olhar para o lado – especificamente para Demi Moore, a grande concorrente de Fernanda na disputa pelo Oscar.
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Além de também ganhar o Globo de Ouro como Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical, a protagonista de A Substância vem fazendo excelente campanha, arrebatando estatuetas em premiações como os Critics’ Choice Awards e uma dezena de outras disputas menores. Ela também levou os SAG Awards, que confirmou a vitória do Oscar em 70% das edições dos últimos 30 anos.
Correndo por fora da queda de braço entre Fernanda e Demi, há ainda uma terceira possibilidade que ganhou força nos últimos dias: Mikey Madison, a atriz de 25 anos e protagonista de Anora, comédia dramática de Sean Baker, que tem ganhado fôlego nos últimos dias da disputa.
Madison, que já arrebatara mais de 10 prêmios menores pelo papel-título da história, levou o BAFTA de Melhor Atriz no último dia 16 de fevereiro, um dos mais importantes da indústria, ainda que sem relação direta com o Oscar.
Agora, resta saber se a Academia vai premiar a veterana de Hollywood em um de seus papéis mais ousados, a estrangeira carismática com a interpretação dramática mais potente da temporada ou a entrega cheia de energia da novata talentosa.
Sem fechar apostas, talvez valha olhar para a revista especializada The Hollywood Reporter, que ainda este mês publicou uma edição com a brasileira na capa e a chamada: “Fernanda Torres já ganhou”. Nós, é claro, concordamos.
Melhor Direção
- Sean Baker – Anora
- Brady Corbet – O Brutalista
- James Mangold – Um Completo Desconhecido
- Jacques Audiard – Emilia Pérez
- Coralie Fargeat – A Substância
Desconsiderando as polêmicas envolvendo Jacques Audiard e Emilia Pérez, essa categoria traz uma das seleções mais fortes de talentos na disputa. O trunfo de cada um são as diferenças de linguagem, que resultaram em filmes muito diferentes entre si.
Na prática, porém, o favoritismo para o vencedor esteve, pela maior parte do tempo, com Brady Corbet, de O Brutalista. Esse, que é apenas seu terceiro longa-metragem, foi celebrado em festivais como o de Veneza e chegou a 2024 arrebatando vitórias, como o Globo de Ouro e o BAFTA.
Anora, por outro lado, vinha sendo tratado como uma boa surpresa – especialmente após a conquista da Palma de Ouro no Festival de Cannes ano passado.
A virada para Sean Baker, no entanto, veio ainda neste mês de fevereiro, quando, em dois dias, Anora ganhou na categoria de Melhor Filme dos Critics’ Choice Awards e Baker levou o Directors Guild of America Awards de Melhor Diretor – o maior prêmio do sindicato de diretores.
Na prática, os vencedores dos DGA Awards foram confirmados pela Academia de Cinema no Oscar em 68 das últimas 76 edições – um total de 90% das vezes, colocando Baker lado a lado com Corbet na luta pela estatueta.
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Melhor Filme
- Anora
- O Brutalista
- Um Completo Desconhecido
- Conclave
- Duna: Parte 2
- Emilia Pérez
- Ainda Estou Aqui
- Nickel Boys
- A Substância
- Wicked
Se para os atores o que pesa são os SAG Awards e para os diretores o que conta mais são os DGA Awards, a categoria de Melhor Filme é um tanto mais complexa de prever.
Em geral, um bom termômetro é o Producer Guild Awards, ou PGA Awards, que teve margem de acerto de 70% nos últimos 35 anos, confirmando o vencedor do Oscar 25 vezes. E em 2025, quem levou a melhor foi Anora, eleito Melhor Filme na cerimônia do último dia 8 de fevereiro.
Combinada à vitória de Sean Baker como Melhor Diretor do DGA Awards e de Anora como Melhor Roteiro Original nos Writer’s Guild of America Awards, o prêmio do Sindicato dos Roteiristas, o longa com Mikey Madison formou uma trinca de boas previsões que pode acabar confirmando o filme – uma produção baratíssima, aliás, de apenas US$ 6 milhões -, como o vencedor.
A única produção na história que ganhou o PGA, o DGA e o WGA e acabou perdendo na categoria de Melhor Filme no Oscar foi O Segredo de Brokeback Mountain, no embate contra Crash em 2006.
Outros destaques da temporada incluem Conclave, que ganhou o BAFTA, O Brutalista, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático, e Emilia Pérez, que levou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical. O Critics Choics Awards, também foi para Anora, reforçando ainda mais a boa temporada de Mikey Madison e Sean Baker.
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