Há situações em que a notícia ruim é que está bom. Logo em seguida, sem que nada pareça ter mudado substancialmente, a notícia boa é que está ruim. Ao menos é o que parece ocorrer com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste início de 2025. Depois de marcar o nível mais baixo para janeiro desde a implementação do Plano Real, a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acelerou ao nível mais elevado para fevereiro desde 2003.
Mas, se a boa notícia de janeiro não serviria para desencorajar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a diminuir o ritmo da alta de juros em andamento no país, a má notícia de fevereiro tampouco deve fazer com que a autoridade monetária acelere o já antecipado aperto da taxa Selic. É o que afirmam economistas consultados pelo Seu Dinheiro nesta quarta-feira (12).
Como veio a inflação em fevereiro
O IPCA acelerou de +0,16% em janeiro para +1,31% em fevereiro na comparação mensal. No acumulado em 12 meses, a inflação oficial ao consumidor brasileiro avançou de 4,56% em janeiro para +5,06% no mês passado.
No entanto, a aceleração já era esperada por especialistas. A leitura final veio até ligeiramente abaixo das projeções — de +1,32% na leitura mensal e de +5,07% no acumulado em 12 meses.
O índice de janeiro foi o mais baixo para o mês desde a implementação do Plano Real, em julho de 1994. Logo em seguida, o IPCA atingiu o nível mais elevado para fevereiro em 22 anos.
Embora a inflação tenha saído de um extremo para outro no intervalo de apenas um mês, a leitura não causou surpresa.
“O resultado era esperado devido à devolução do bônus de Itaipu nas contas de energia elétrica, além da sazonalidade dos reajustes escolares”, afirma André Valério, economista sênior do Inter.
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Como isso (não) afeta o trabalho do Copom
Embora o IPCA de fevereiro tenha vindo salgado, o fato de o resultado ter vindo em linha com a mediana das estimativas dos analistas foi recebido como uma boa notícia.
“Isso traz um pouco de conforto em termos de acomodação dessa inflação”, embora ela transcorra em níveis que permanecerão elevados ainda por alguns meses, afirma Lucas Barbosa, economista da AZ Quest.
A situação sugere que a aceleração da alta dos juros a 1 ponto porcentual em dezembro, ainda sob Roberto Campos Neto, e a manutenção do ritmo de aperto neste início de mandato de Gabriel Galípolo começa agora a alinhar as expectativas de inflação entre os agentes do mercado.
“Não vemos o resultado de hoje alterando o rumo da política monetária nos próximos meses”, diz Valério, do banco Inter.
A taxa de juros no Brasil encontra-se atualmente em 13,25% ao ano. O Copom vem sinalizando que a Selic chegará a 14,25% em sua próxima reunião, marcada para a semana que vem. Valério projeta ainda uma nova alta de 0,5 ponto da taxa de juros no encontro de maio.
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