O ex-ministro da Previdência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), José Carlos Oliveira (à direita na foto em destaque), e seu sócio e ex-diretor do Instituto Nacional de Seguro Social, Edson Akio Yamada (esquerda), foram responsáveis pela liberação de descontos no INSS por uma séria de entidades investigadas por fraude.
Todas elas têm alguma ligação com Antonio Carlos Antunes, conhecido como “Careca do INSS” e apontado pelas apurações como um dos principais operadores do esquema de descontos irregulares.
Tanto Yamada como Oliveira acumulam passagens pela Diretoria de Benefícios do órgão, área responsável por dar aval aos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) entre as entidades e o órgão, permitindo, assim, os descontos. São justamente esses acordos que tem sido investigados pela Polícia Federal (PF).
Oliveira foi designado para o posto em maio de 2021, tendo deixado a diretoria em novembro do mesmo ano. Já Yamada ocupou o posto de Diretor de Benefícios a partir de junho de 2022 até fevereiro de 2023.
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação de 29 entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto elas respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da CGU. Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
José Carlos Oliveira
O ex-ministro e ex-diretor foi responsável por permitir os descontos de pelo menos uma entidades ligadas ao “careca do INSS”: a Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC).
A Ambec é apontada pela PF como uma das entidades mais beneficiadas pelos descontos nos últimos anos. Segundo as apurações, até março de 2025, a entidade já havia angariado cerca de R$ 500,9 milhões com os descontos.

O montante chegou à casa dos milhões a partir de 2022, no ano seguinte ao ACT. Segundo a CGU, a arrecadação da entidade em 2021 foi de R$ 135. Já no ano seguinte, o valor aumentou 110 mil vezes, somando R$ 14,9 milhões. Em 2023, mais um salto: R$ 91,3 milhões.
A Ambec é também uma das entidades que possui transações suspeitas com o “careca do INSS”, tendo pago a Antunes, por meio de uma de suas empresas, aproximadamente R$ 11,9 milhões.
Como mostrou o Metrópoles, o careca do INSS recebeu, por exemplo, procuração para atuar pela Ambec perante o INSS.
Oliveira é citado em representação da PF como ligado a movimentações financeiras sob suspeita de envolvimento no esquema.
Segundo a PF, José Laudenor, sócio de Oliveira em uma de suas empresas, aparece em transações suspeitas com Cícero Marcelino, suposto operador da Conafer e alvo da PF na última operação sobre o INSS, na quarta-feira (14/5).
“Tal empresa se trata de uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP) relacionada em razão da PEP principal José Carlos Oliveira (e que teve o nome alterado para Ahmed Mohamad), que fez parte do quadro societário até junho de 2022; destaca-se que o investigado também foi presidente do INSS entre e Ministro do Trabalho e Previdência”, diz a PF.
Edson Yamada
Edson Akio Yamada foi responsável pela assinatura de outros três ACTs, todos eles com entidades ligadas ao “careca do INSS”.
São elas a Associação no Brasil de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (AP Brasil), o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (CEBAP) e a Confederação Brasileiros dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA).
A AP Brasil tem arrecadações que remontam a 2022. Desde então, ganhou R$ 137 milhões. O valor arrecadado em 2023, segundo a CGU, foi de R$ 16 milhões.
Já a Cebap e a CBPA começaram a arrecadar valores no ano seguinte ao ACT. Os montantes até março de 2025 foram, respectivamente, de R$ 195 milhões e R$ 221 milhões.
Todas elas são citadas em representação da PF como tendo remetido valores para o “careca do INSS”. A CBPA, por exemplo, teria enviado R$ 4,6 milhões para uma das empresas de Antunes.
Já a AP Brasil teria destinado R$ 1,3 milhão e a Cebap, R$ 544 mil. Os valores foram enviados para a Prospect, da qual o “careca do INSS” é sócio.
Outro ponto levantado pela PF é que Yamada é sócio e Oliveira em uma das empresas citadas na investigação: a Yamada e Hather Serviços -que também conta com José Laudenor (que tem transações suspeitas com Cícero Marcelino), como sócio.
“Também são sócios da empresa: Yasmin Ahmed Hatheyer Oliveira, filha de Ahmed Mohamad (José Carlos Oliveira), e Edson Akio Yamada, ex-Diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, setor responsável pela celebração dos ACTs com as entidades associativas”, diz a PF em relatório.