Donald Trump aumentou o fogo da política monetária norte-americana ao dizer recentemente que sabe mais do que o Federal Reserve (Fed) sobre juros — e esses devem cair imediatamente. Na primeira reunião de 2025, o banco central dos EUA resistiu à pressão e manteve a taxa em banho-maria.
O cardápio que o Fed preparou para hoje não pegou ninguém de surpresa — talvez nem mesmo o próprio Trump.
Com uma economia resiliente, um mercado de trabalho aquecido e uma inflação que ensaia acelerar, investidores já esperavam que os juros continuassem na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
A reação do mercado foi menos branda do que previsto. Em Wall Street, os três principais índices aceleraram um pouco a queda assim que a decisão foi anunciada. O Dow Jones caía 0,31%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq baixavam 0,66% e 0,91%, respectivamente.
Por aqui, o Ibovespa seguiu em operando no vermelho. O principal índice da bolsa brasileira recuava 0,16% logo após a decisão do Fed, aos 123.851,92 pontos, enquanto o dólar no mercado à vista subia 0,11%, cotado a R$ 5,8757.
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Fed cozinha os juros no caldeirão de Trump
O comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) iniciou o ciclo de corte de juros em setembro do ano passado, diminuindo a taxa três vezes de lá para cá, até a pausa de hoje.
E tudo indica que o caldeirão de Trump forçará o Fed a manter as temperaturas (e as expectativas) baixas pelo menos até junho — quando a ferramenta de monitoramento FedWatch do CME Group precifica o primeiro corte de juros deste ano.
Isso porque, enquanto as tarifas, a política de imigração mais dura e os cortes de impostos podem alimentar a inflação, a desregulamentação e o protecionismo tendem a fortalecer a economia. O BC norte-americano não teria por que ter pressa.
O comunicado de hoje trouxe algumas pistas sobre o raciocínio por trás da decisão de manter os juros estáveis.
Enquanto o documento oferece uma visão um pouco mais otimista sobre o mercado de trabalho, retira uma referência importante da declaração de dezembro de que a inflação “progrediu em direção” à meta de inflação de 2% do Fed.
“A taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas”, diz o Fed. “A inflação continua um pouco elevada”, acrescenta.
O comunicado indica novamente que a economia “continuou a se expandir em um ritmo sólido”.
A inflação nos EUA desacelerou drasticamente do pico de 40 anos atingido em meados de 2022, mas a meta de 2% do Fed ainda não foi atingida.
O índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) — indicador preferido do banco central norte-americano — mostrou que a inflação acelerou para 2,4% em novembro, a maior desde julho, enquanto o núcleo, que exclui alimentos e energia, ficou em 2,8%.
Vale lembrar que declarações recentes de membros do Fomc sinalizam alguma apreensão em torno de uma possível estagnação em torno do progresso de desaceleração da inflação.
As autoridades também já disseram que querem ver como os cortes de juros anteriores estão funcionando na economia, embora a maioria espere projete reduções da taxa em 2025.
Em dezembro, o Fomc cortou pela metade da previsão de corte de juros neste ano, que passou de quatro para duas. O Seu Dinheiro detalhou a decisão na ocasião e você conferir tudo aqui.
TRUMP no GOVERNO: As AÇÕES AMERICANAS vão brilhar em 2025?
O menu de Trump para os juros do Fed
Em pouco mais de uma semana na Casa Branca, Trump assinou centenas de ordens executivas que buscam implementar uma agenda agressiva.
O republicou apoiou tarifas como uma ferramenta econômica e de política externa, ordenou uma onda de deportações contra quem cruza a fronteira dos EUA ilegalmente e apresentou uma série de medidas de desregulamentação.
Além disso, Trump falou na semana passada sobre a confiança de que fará a inflação desacelerar e disse que “exigiria” que os juros fossem reduzidos “imediatamente”.
Embora o presidente norte-americano não tenha autoridade sobre o Fed além de nomear membros do conselho, a declaração de Trump sinaliza um relacionamento potencialmente contencioso com os membros do Fomc como aconteceu no primeiro mandato.
*Conteúdo em atualização
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