Que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aceleraria o ritmo do ciclo de alta da taxa básica de juros brasileira, a Selic, nesta quarta-feira (10) restavam poucas dúvidas. A verdadeira pulga atrás da orelha do mercado estava no tamanho do ajuste que seria promovido por Roberto Campos Neto — em sua última reunião como presidente do BC — e seus diretores.
Após a última reunião, no início de novembro, as projeções concentravam-se em uma elevação de 0,75 ponto percentual (p.p.). Nas últimas semanas, porém, a renovação dos temores fiscais e o aumento na pressão cambial fez com que o palpite de um ajuste ainda mais agressivo, de 1 p.p., despontasse entre alguns dos principais bancos de investimento do país e no mercado de opções de Copom.
O comunicado divulgado hoje mostrou que quem apostou no cenário mais agressivo acertou em cheio. Em decisão unânime, o comitê optou por um aperto de 1 ponto percentual, elevando a Selic para 12,25% ao ano.
Trata-se da terceira elevação da taxa desde o final do ciclo de corte nos juros, em setembro. E novos ajustes da mesma magnitude devem ocorrer nas próximas reuniões colocando a Selic no patamar de 14,25% em março.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz o comunicado.
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Os vilões por trás da escalada da Selic
De acordo com a economista-chefe da Mirae Asset, Marianna de Oliveira Costa, “faz sentido acelerar o passo” devido a uma conjunção de fatores que pressionam a inflação.
“O câmbio, sem dúvida nenhuma, é uma variável muito importante, além da política fiscal mais frouxa do que o anteriormente projetado e uma atividade econômica ainda bastante forte”, afirmou a economista em entrevista ao Seu Dinheiro.
Vale relembrar que o dólar ultrapassou o patamar dos R$ 6 pela primeira vez na história no final de novembro. E, desde então, tem renovado sucessivos recordes de fechamento — o caso mais recente foi na última segunda-feira (9), quando a moeda encerrou o dia no pico histórico de R$ 6,0829.
A escalada da divisa é atribuída principalmente aos ruídos vindos da política fiscal. Mais especificamente ao anúncio do pacote de corte de gastos do governo.
Amplamente aguardado pelo mercado, o combo de medidas divulgadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento em rede nacional, foi considerado insuficiente para sanar problemas estruturais nas contas públicas.
Para piorar ainda mais a percepção de risco fiscal, o pacote de cortes veio acompanhado de uma medida com potencial de reduzir a arrecadação em bilhões: o aumento na faixa de isenção do Imposto de Renda para incluir quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Projeções para a inflação voltam a subir
Além de renovar os recordes, a alta do dólar também deve influenciar os preços de diversos produtos, incluindo alimentos e bebidas. Esse quadro, por sua vez, deve se traduzir em mais pressão sob o já aquecido ambiente inflacionário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem, ficou em 0,39% em novembro, puxado justamente pelo grupo de alimentação e bebidas. O índice veio acima da mediana dos previsões do mercado e acumulou avanço de 4,29% em 2024.
Vale destacar que os os especialistas já esperavam que o IPCA ficasse acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2024, de 4,5%. Agora, as previsões indicam que o IPCA deve estourar a meta também em 2025.
De acordo com a última edição do Boletim Focus, publicado na última segunda-feira (9), a expectativa para o índice acumulado ao longo deste ano subiu para 4,84%, enquanto a projeção para o IPCA do ano que vem alcançou os 4,59%.
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