O mercado fonográfico brasileiro alcançou um marco histórico em 2024: pela primeira vez, a indústria musical nacional ultrapassou os R$ 3 bilhões em arrecadação anual.
Os dados são do relatório anual Mercado Brasileiro de Música da Pró-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras do Brasil. Segundo ele, o setor faturou R$ 3,486 bilhões no ano passado, um crescimento de 21,7% em relação a 2023.
Com o crescimento, acima da média global pelo oitavo ano consecutivo, o Brasil chega à 9ª posição entre os maiores mercados fonográficos do mundo, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).
Mais que um dos mercados mais dinâmicos do planeta trata-se também de uma indústria com identidade própria, como explica Paulo Rosa, presidente da Pró-Música Brasil: das mil gravações mais acessadas no streaming brasileiro, 76% são de artistas nacionais.
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O domínio do streaming
O principal motor do crescimento da indústria musical nacional segue sendo o streaming. O formato representou 99,2% do total das vendas, físicas e digitais, além de 87,6% da receita total da indústria fonográfica brasileira.
São das plataformas digitais R$ 3,055 bilhões do faturamento total nacional, um aumento de 22,5% em comparação ao ano anterior. Os serviços de assinatura, como Spotify, Deezer, Apple Music e Amazon Music, somaram R$ 2,077 bilhões, um salto de 26,9%.
Para Paulo Rosa, da Pró-Música Brasil, o crescimento do setor reflete a popularidade crescente do streaming, mas também aumenta a concorrência entre os artistas.
“Nesse oceano de conteúdo musical, a competição por espaço, visibilidade e plays é cada vez mais acirrada. O sucesso comercial não é regra, é exceção, e exige cada vez mais investimento das gravadoras”, destaca Rosa.
Os modelos financiados por publicidade também cresceram. O streaming remunerado por anúncios arrecadou R$ 479 milhões (+8,3%), enquanto os vídeos musicais interativos movimentaram R$ 499 milhões (+20,3%).
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No palco, nas telas e nas vitrolas
Além do streaming, outros segmentos da indústria também registraram avanço expressivo. A arrecadação de direitos conexos de execução pública, por exemplo (como em shows e festivais), atingiu R$ 386 milhões, crescendo 14,9%.
Já as receitas de sincronização — uso de músicas em publicidade, filmes e séries — cresceram 36%, somando R$ 19 milhões no período.
Até mesmo o mercado físico, que representa uma fatia pequena da indústria, teve seu melhor desempenho desde 2017. As vendas de vinil, CDs e DVDs alcançaram R$ 21 milhões, um aumento de 31,5%.
O vinil, em particular, segue como destaque, movimentando R$ 16 milhões — um crescimento de 45,6% frente aos R$ 11 milhões arrecadados em 2023. O bom momento se reflete, inclusive, em gravadoras como a Rocinante, que prensou mais de 150 mil discos em 2024 (e pretende ampliar sua capacidade de produção em 70% para 2025),
Brasil acima da média
No cenário mundial, o Global Music Report, também divulgado hoje pela IFPI, apontou crescimento de 4,8% na indústria fonográfica em 2024 – o décimo ano de alta consecutivo.
O faturamento global alcançou US$ 29,6 bilhões, o maior desde 1999. Como no Brasil, a alta é impulsionada também pelo streaming, que chegou a 752 milhões de assinantes pagos no mundo – um faturamento total de US$ 20,4 bilhões, que correspondem a uma fatia de 69% das arrecadação total de música no ano.
- Os dados confirmam uma tendência apontada ainda essa semana pela Deezer, que divulgou seus resultados de earnings 2024, revelando aumento da receita total em 12% no último ano. Ao todo, o serviço de streaming arrecadou 542 milhões de euros, com alta na receita de parcerias na casa dos 24%.
Descontando a inflação, o marco também representa o maior total absoluto da indústria desde o início da série histórica da IFPI, em 1999, quando o total de vendas bateu a casa de US$ 22,2 bilhões.
De lá para cá, o que se viu foi um declínio no faturamento, que chegou a US$ 13 bilhões em 2014, movido pela queda da receita de mídia física e pela alta de pirataria. A década seguinte foi uma recuperação gradual da indústria, que viu nas big techs uma chance de recuperar o repasse de direito autoral e o mercado formal.
Otimismo brasileiro, cautela global: e o futuro da música?
Para Eduardo Rajo, diretor financeiro e de novos negócios da Pró-Música Brasil, o setor segue em ritmo acelerado e as gravadoras desempenham um papel estratégico na adaptação ao novo ambiente digital.
“A indústria fonográfica nunca esteve tão forte. O setor se reinventa a cada ano, investindo em novas tecnologias, formatos de monetização e oportunidades para artistas. O Brasil está muito bem posicionado para um crescimento ainda mais robusto nos próximos anos”, afirma Rajo.
Já na apresentação do report da IFPI, que aconteceu mais cedo em Londres, o tom foi mais cauteloso. O motivo foi o avanço de serviços de inteligência artificial sobre o mercado criativo.
“Estamos pedindo aos legisladores que protejam a música e a arte”, disse Victoria Oakley, CEO da IFPI, em um comunicado que acompanha o Global Music Report. “Precisamos aproveitar o potencial da IA para apoiar e amplificar a criatividade humana, não para substituí-la.”
A ressalva do relatório chega em um momento em que o tema voltou ao debate: mais cedo nessa semana, mais de 400 artistas, incluindo Paul McCartney e Paul Simmon, assinaram uma carta aberta à administração Trump se opondo ao uso não-autorizado de obras por como a OpenAI e o Google. No Reino Unido, alternativas têm sido estudadas pelo governo a fim de que essas companhias possam acessar material autoral, a menos que os autores solicitem uma restrição expressa.
“Se as empresas que defendem essas exceções conseguirem o que querem, elas poderão [derrubar] os serviços de música digital existentes do mercado sem pagar nada a artistas e compositores. Isso é uma distorção de mercado inacreditável”, afirmou Dennis Kooker, presidente de negócios digitais globais da Sony Music Entertainment, durante o lançamento do relatório em Londres.
*Com informações da Billboard.
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