Deputados federais continuaram a frequentar o estabelecimento que funcionou como o epicentro da Operação Lava Jato. Os políticos gastaram 7.214 vezes no Posto da Torre, que originou o o escândalo criminoso, desde o início da investigação, em março de 2014, até o fim do ano passado. Para isso, cerca de R$ 1,12 milhão de dinheiro público foi repassado para a empresa.
O dinheiro público foi repassado por meio da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar. Mais de 99% das compras feitas pelos deputados no local foram com combustíveis, totalizando R$ 1.125.681.53 durante o período de mais de uma década.
Além da quantia com o abastecimento dos carros, os congressistas passaram no posto 7 vezes para se alimentar e, em outras três oportunidades, compraram publicações de revistas ou jornais. Há ainda dois casos de valores incomuns que foram descritos como “divulgação parlamentar” e “consultorias”.
Há gastos de membros do alto escalão do governo, outros completamente desconhecidos e, inclusive, alguns de parlamentares investigados pela própria Operação Lava Jato. Os dados e as informações fazem parte de um levantamento exclusivo realizado pelo Metrópoles.
Compras no Posto da Torre
Quando consideramos apenas o período em que ocorreu a Operação Lava Jato, entre março de 2014 e fevereiro de 2021, os deputados gastaram R$ 728.788,78 em 5.370 oportunidades.
Para que o posto de combustível recebesse mais de R$ 1 milhão, mais de 780 deputados usaram o dinheiro da cota parlamentar de, pelo menos, três legislaturas diferentes. Os valores envolvem 39 siglas, sendo de todos os espectros políticos.
Veja os partidos dos deputados que mais gastaram no local:
- PP – 842 vezes (R$ 120,074.54)
- PT – 645 vezes (R$ 110,008.33)
- MDB – 831 vezes (R$ 107,621.41)
- PSD – 543 vezes (R$ 106,171.09)
- PL – 535 vezes (R$ 102,996.38)
- PR – 507 vezes (R$ 67,519.23)
- UNIÃO – 351 vezes (R$ 65,206.00)
- PSC – 190 vezes (R$ 61,331.33)
- PSDB – 394 vezes (R$ 53,103.02)
- PDT – 340 vezes (R$ 49,590.57)
Diante disso, vale ressaltar que a utilização, dentro das normas estabelecidas pela Câmara dos Deputados, da cota em qualquer posto de combustíveis está dentro da legalidade e não configura alguma irregularidade. Em relação ao Posto da Torre, os dados só indicam que o estabelecimento comercial seguiu recebendo quantias públicas e sendo frequentado por políticos mesmo com notável envolvimento na Operação Lava Jato.
Lava Jato
A operação começou a partir de uma investigação sobre conexões entre doleiros e políticos. Alberto Youssef, conhecido de outro escândalo, o caso Banestado, foi preso em março de 2014 sob suspeita de intermediar pagamentos de propina entre políticos, empreiteiras e dirigentes da Petrobras.
Na época da investigação, o Posto da Torre tinha uma lavanderia de roupas, uma casa de câmbio e uma lanchonete. O dono do local, Carlos Habib Chater, foi apontado também como uma das figuras centrais do esquema. É o estabelecimento que dá nome à Operação Lava Jato. O local segue administrado pela família do empresário.
O Posto da Torre fica localizado próximo ao Eixo Monumental, via que liga os principais espaços e construções políticas do país. O estabelecimento, que é um dos mais movimentados no centro da capital, está a 4 km de distância do Congresso Nacional e abriga também outros serviços, como lanchonetes.
A Lava Jato gerou 553 denunciados, 723 pedidos de cooperação internacional, R$ 4,3 bilhões devolvidos aos cofres públicos, R$ 2,1 bilhões previstos em multas compensatórias decorrentes de acordos de colaboração, R$ 12,7 bilhões em multas compensatórias de acordos de leniência, R$ 14,7 bilhões previstos para serem recuperados e R$ 111,5 milhões em renúncias voluntárias de réus