A JBS (JBSS3) anunciou, nesta semana, que deu mais um passo rumo à dupla listagem, ou seja, à listagem de suas ações na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) e de BDRs na B3.
A novidade da vez é que o pedido de listagem em NY foi aprovado pela SEC (Securities and Exchange Commission), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, equivalente à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil.
Com o avanço, o conselho de administração da JBS decidiu convocar os acionistas para uma assembleia geral extraordinária (AGE) no dia 23 de maio, às 10h, para discutir e votar o plano da dupla listagem.
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Segundo documento divulgado pelo frigorífico, os acionistas minoritários terão total poder de decisão, já que a J&F, holding da família Batista, e a BNDESPar — os dois principais investidores em volume de papéis — vão se abster de votar.
Caso consiga todas as aprovações, a JBS estima o início da oferta das ações no mercado americano a partir de junho.
Quais são os próximos passos até lá? O que muda para a empresa e por que a JBS está buscando esta mudança? E os investidores, como ficam? Confira a seguir algumas explicações sobre a dupla listagem da JBS.
Por que a JBS está buscando a dupla listagem?
Ao ter seus papéis negociados tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a JBS pode melhorar sua visibilidade perante investidores internacionais e passa a ter acesso a fundos que têm restrições estatutárias para investir em mercados como o Brasil.
“Acreditamos que essa operação vai aumentar nossa visibilidade no cenário internacional, atrair novos investidores e fortalecer ainda mais nossa posição como líder global de alimentos”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, em comunicado.
Além disso, a empresa acredita que essa reestruturação pode destravar valor para suas ações e reduzir seu custo de capital.
“A listagem nos EUA pode desbloquear um potencial de valorização significativo para a JBS, já que a ação concentra a maior parte dos negócios fora do Brasil (75% das receitas em 2025)”, destaca o Bank of America.
Além disso, a JBS negocia hoje a um múltiplo EV/EBITDA de 5,8 vezes para 2025, bem abaixo da Tyson Foods, que está em 8,4 vezes, e a PPC, subsidiária da JBS, que é negociada a 6,6 vezes, segundo dados do BTG Pactual. Com a listagem das ações na Nyse, a JBS deve reduzir essa diferença e se aproximar dos pares globais.
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“Parece irracional acreditar que uma ação da JBS listada nos EUA não possa ser negociada pelo menos em algum lugar entre essas duas, ainda mais no médio prazo”, escreveu o BTG em relatório.
“Se alcançar o múltiplo da Tyson, o potencial de valorização das ações seria de cerca de 58%, refletindo o destravamento de valor esperado com a operação”, afirma a Ativa Investimentos.
Em relatório, analistas do BTG Pactual admitem que eram “céticos quanto à ideia de que uma simples mudança de CEP pudesse desbloquear tanto valor quanto a JBS esperava”. “Acontece que estávamos errados”, escreveram eles.
“Além de ser negociada com múltiplos mais altos, a listagem nos EUA e a ostentação de diferentes classes de ações oferecerão à JBS um poder de fogo sem precedentes para impulsionar o crescimento”, escreve o BTG. “Em última análise, os investidores devem, mais uma vez, enxergar a JBS como uma empresa com potencial de crescimento.”
Analistas ainda apostam que a listagem dupla também pode aumentar a probabilidade de inclusão da JBS nos principais índices de ações dos EUA, impulsionando ainda mais sua presença de mercado.
Após a listagem, a JBS entrará automaticamente no índice Russell 1000 e, seis meses depois, pode se candidatar para entrar no famoso índice S&P 500 — um dos critérios é que mais de 50% das vendas aconteçam nos Estados Unidos, o que já é real para a empresa.
Próximos passos da JBS até a dupla listagem
Na assembleia de 23 de maio, os acionistas minoritários — que detêm cerca de 30% das ações em circulação — devem votar se aprovam ou não a dupla listagem. Segundo relatórios do banco BTG Pactual, do Bank of America (BofA) e da Genial Investimentos, é esperada a aprovação do negócio.
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Os acionistas votarão também a contratação da KPMG para elaboração do laudo de avaliação do valor das ações da JBS S.A. e devem aprovar outro documento, que calculou em R$ 44,78 bilhões o valor de patrimônio líquido contábil da JBS S.A.
Finalmente, será votado o pagamento de dividendos, de R$ 1 por ação, totalizando R$ 2,2 bilhões.
Se a dupla listagem for aprovada na assembleia, seguem os próximos passos. Nos EUA, é necessária a aprovação da Nyse para listagem das ações Classe A.
No Brasil, é preciso a aprovação da B3 para listagem de BDR nível II, além da confirmação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Finalmente, a JBS S.A será deslistada, e a JBS N.V., com sede na Holanda, será listada, se tornando a única acionista da JBS S.A., com ações negociadas na Nyse e BDRs na B3.
O que acontecerá com as ações brasileiras?
A transação será realizada por meio da incorporação das ações da JBS S.A. por uma holding na Holanda, a JBS N.V., que passará a ser a controladora indireta da empresa.
A JBS S.A. será deslistada, e a JBS N.V. será listada. As ações da JBS N.V. serão listadas na Nyse, com BDRs (certificados de depósito de ações) na B3 do Brasil.
A JBS N.V. terá duas classes de ações (A e B), com os mesmos direitos econômicos, mas as ações Classe B terão 10 vezes o poder de voto das ações Classe A, e apenas as ações Classe A serão negociadas publicamente.
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Quem tem ações JBSS3 receberá 1 BDR para cada 2 ações, representando ações classe A da JBS N.V. Como parte da operação, será pago um dividendo de R$ 1 por ação, totalizando cerca de R$ 2,2 bilhões.
Todos os acionistas podem solicitar a conversão de suas ações Classe A em Classe B até 31 de dezembro de 2026, com um limite de 55% (exceto para acionistas controladores). Segundo análise da Genial Investimentos, esta mudança pode não ser um bom negócio para os brasileiros.
“Embora essa estrutura lhes confira teoricamente maior influência, economicamente é pouco atraente para minoritários: as Class B não terão liquidez secundária, de modo que quem convertesse ficaria com ‘ações em mãos’ sem mercado para negociá-los”, destaca a empresa, em relatório.
Há também um free float mínimo (a quantidade de ações de uma empresa disponíveis para negociação no mercado aberto) de ações Classe A de 20%.
“Considerando que as ações Classe B não serão negociadas publicamente, esperamos que apenas os acionistas controladores detenham ações Classe B ao final do período de conversão”, apontam os analistas do BTG em relatório.
Como fica o pagamento de dividendos?
Na assembleia de 23 de maio, além de aprovar ou não a dupla listagem, os acionistas também devem votar o pagamento de dividendos de R$ 1 por ação, totalizando cerca de R$ 2,2 bilhões. A data de pagamento ainda não foi definida.
Agora, quanto aos dividendos no futuro, quando a nova estrutura já estiver em vigor, as coisas podem mudar, segundo Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
“A empresa pode deixar de seguir a exigência brasileira de distribuir um percentual mínimo do lucro como dividendos. Isso daria à JBS mais liberdade para reter lucros e reinvestir no negócio, algo comum entre companhias listadas na Nyse. Na prática, o pagamento de dividendos pode se tornar mais conservador, reduzindo o fluxo aos acionistas brasileiros”, explica Belitardo.
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O pagamento deve seguir a estrutura por BDRs, segundo a Ativa Research. “Quando a JBS N.V. declarar dividendos, esses valores serão pagos em dólares ao banco depositário no Brasil, que converterá o montante para reais e repassará aos detentores dos BDRs, proporcionalmente à sua posição”, explica a casa.
Além disso, haverá a cobrança de imposto retido na fonte — atualmente, no Brasil, os dividendos são isentos de Imposto de Renda. “Isso reduz o valor líquido recebido pelos acionistas no Brasil, o que impacta diretamente a atratividade do dividendo”, segundo Belitardo.
Não está claro, ainda, se essa tributação dos dividendos no futuro seguirá as regras dos EUA ou da Holanda (onde será sediada a JBS N.V). O Seu Dinheiro entrou em contato com a JBS para tentar confirmar esta informação, mas ainda aguarda retorno.
Seguindo com as mudanças no horizonte, as empresas com dupla listagem podem também aplicar políticas diferentes para os papéis negociados no Brasil e nos EUA. Isso significa que o valor, a frequência e até a moeda dos dividendos podem variar entre os mercados.
“É possível que acionistas nos EUA recebam trimestralmente e os brasileiros, semestralmente, ou com valores líquidos distintos por conta da tributação”, diz o gestor da Hike Capital.
“A entrada no mercado americano pode levar a JBS a adotar uma política mais alinhada às expectativas do investidor institucional global, o que inclui maior previsibilidade e possivelmente pagamento trimestral. Isso traria uma melhoria na transparência, mas não necessariamente um aumento no volume pago”, avalia ele.
No final das contas, pode, sim, haver redução no pagamento de dividendos aos detentores de BDRs, na avaliação de Belitardo, seja por retenção de impostos, seja por menor distribuição.
Mas não é o fim do mundo, avalia ele. “A empresa ganha mais flexibilidade para alocar capital, mas o investidor deve considerar que o perfil de retorno pode migrar do dividendo para a valorização das ações e eventuais recompras.”
Recomendação dos bancos sobre as ações
A recomendação é de compra das ações JBSS3 segundo análise do BTG Pactual, do Bank of America e da Genial Investimentos.
Para o BTG, o preço-alvo em 12 meses é de R$ 48. Para o BofA, o preço-alvo é de R$ 55. Já para a Genial, é de R$ 55.
A ação abriu o mercado nesta sexta-feira (25) cotada a R$ 46,72. No ano, o papel acumula valorização de 28,67%. Em 12 meses, a alta chega a 130,41%.
Os três citados acima acreditam na aprovação da dupla listagem pelos acionistas na assembleia de 23 de maio.
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