O Ibovespa chamou a atenção do mercado na última semana ao estabelecer novos recordes. O índice rompeu a marca dos 140 mil pontos pela primeira vez na história. A bolsa brasileira também vem se destacando com uma alta acumulada de quase 15% neste ano.
Esse bom desempenho parece quase um contrassenso. O novo recorde do Ibovespa ocorre em meio a um ciclo de alta dos juros, com a Selic a 14,75%, e aos ruídos do cenário fiscal brasileiro, que segue preocupando os investidores.
Afinal, a alta da bolsa indica o início de um novo ciclo para os ativos de risco no país ou é apenas um voo de galinha?
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Cláudio Andrade, sócio fundador da gestora Polo Capital, afirma que o bom desempenho do Ibovespa ocorre em meio a um cenário um pouco melhor do que era visto até então.
“Tínhamos uma situação muito ruim, que passou apenas para ruim, o que levou os mercados a andarem mais”, afirma o gestor, durante entrevista ao podcast Touros e Ursos desta semana.
Ele relembra que, até dezembro do ano passado, o Brasil enfrentava uma pequena crise fiscal. Na época, incertezas sobre a aprovação das medidas para conter os gastos públicos rondavam os mercados.
Além disso, no cenário interno, o início do ciclo de alta da taxa básica de juros no país pressionava a bolsa local.
Enquanto isso, o chamado “Trump Trade” vivia o seu auge, quando a vitória de Donald Trump na corrida eleitoral norte-americana impulsionou as bolsas internacionais. Na época, a perspectiva era de que o dólar ficaria ainda mais forte no longo prazo. Porém, a profecia não se confirmou.
Por isso, Andrade afirma que possui uma perspectiva positiva para a bolsa de valores brasileira. “Apesar desse recorde histórico nominal do Ibovespa, ainda existe um amplo espaço para crescimento do ponto de vista real”, diz.
Veja o episódio completo do Touros e Ursos desta semana:
Uma mãozinha de Trump (e do dólar) para a bolsa brasileira
Além das projeções do dólar cada vez mais forte não terem se concretizado, Cláudio Andrade ainda enxerga um cenário de desvalorização para a moeda norte-americana no longo prazo.
“O dólar vai ter dificuldades, ao longo dos próximos anos, em performar frente a outras moedas internacionais. Esse fenômeno já está acontecendo, mas ainda estamos no início deste novo ciclo”, afirma durante a entrevista.
Além disso, a política tarifária de Donald Trump também impede o bom desempenho da moeda. Isso porque o tarifaço promove uma desglobalização, que, até então, vinha impulsionando o dólar.
“Apesar de Trump falar que os Estados Unidos foram prejudicados por esse processo, a globalização fez com que a demanda pelo dólar como meio de pagamento crescesse”, diz.
Com a moeda no meio do fogo cruzado do presidente dos EUA, a tática pode ser “uma faca de dois gumes”, já que utilizá-la como meio de sanção financeira excessiva cria desconfiança sobre o dólar como reserva de valor, segundo Cláudio Andrade.
Porém, o enfraquecimento do dólar e o lento processo de desglobalização abrem oportunidades para países como o Brasil. “De certa forma, as tarifas implementadas por Trump ajudaram os ativos de risco brasileiros, porque tiraram um pouco dos recursos alocados na bolsa americana”, afirma.
Na visão de Cláudio Andrade, o mercado ainda não precificou corretamente a probabilidade de um cenário positivo para a bolsa. “Atualmente, boa parte das empresas opera na bolsa brasileira com o menor nível da história em termos de múltiplos”, afirma.
Mas há riscos no radar: o que pode dificultar a alta do Ibovespa?
Para o gestor, há risco dos termos de troca, ou seja, a relação entre o preço dos produtos que o Brasil exporta, principalmente commodities, e o preço dos produtos que o país importa.
“No longo prazo, o risco de choque de commodities é o maior risco para o bom desempenho da bolsa”, afirma.
Há também riscos domésticos. Segundo a avaliação do executivo, a falta de confiança dos agentes econômicos na condução do país pelo governo atual “torna tudo mais sensível”.
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Ele ainda afirma que, em um ambiente de menor confiança, ruídos geram reações na bolsa brasileira. Mas, na opinião de Cláudio Andrade, são, em geral, apenas sustos em meio a um cenário de insegurança.
“Historicamente, o Brasil está sempre caminhando em direção ao abismo e, quando chega na beirada, dá dois passos para trás. O perigo é, ao chegar perto do abismo, dar um passo para frente”, afirma.
Apesar das preocupações dos investidores em relação ao cenário fiscal brasileiro, ele afirma que “em geral, os grandes problemas para o mercado não vêm de onde todos estão olhando”.
Veja o episódio completo do Touros e Ursos desta semana:
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