por Bruna Amendola, de Portugal
O prestígio do Guia Michelin é inegável. Para muitos chefs e investidores, uma estrela singular chega a significar o sucesso absoluto no setor gastronômico. Da mesma forma, uma perda ou ausência pode representar uma decepção de grande escala. Assim, é fácil entender o misto de sensações que a edição 2025 do guia despertou em Portugal.
Realizado há algumas semanas em Porto, a segunda edição exclusiva do guia para o país chegou a ter seus destaques, mas o resultado geral, especialmente para aqueles que esperavam ascensões e o cobiçado prêmio de três estrelas, soou como um balde de água fria para parte do setor.
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O impacto de um “não”
Para quem acompanha a cena gastronômica de Portugal de perto, os rumores e expectativas apontavam para uma possível adição de ao menos um nome ao seleto grupo de três estrelas Michelin. No entanto, as projeções não se confirmaram, e o país segue sem restaurantes nesse patamar, considerado o máximo de excelência gastronômica.
Para dois restaurantes, especificamente, a decepção ficou evidente quando a mestre de cerimônias do evento, a jornalista portuguesa Marta Leite Castro, afirmou que todos os restaurantes bi estrelados da edição anterior manteriam o status.
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Muitos viram imprevisibilidade e critérios para lá de misteriosos na decisão que manteve em duas estrelas o Belcanto, do chef José Avillez em Lisboa, e o Ocean, do chef Hans Neuner em Alporchinhos, Lagoa, ambos amplamente especulados para essa conquista.
Naturalmente, a frustração não se restringiu apenas a eles – a Casa de Chá da Boa Nova, do chef Rui Paula em Leça da Palmeira, também vinha sendo cotado para uma terceira estrela. Mas a ausência de novos restaurantes bi estrelados também foi sentida, deixando claro que, para o Michelin, o avanço da cena portuguesa parece ter estagnado, pelo menos sob a ótica da publicação.
Por um lado, é claro, esse posicionamento levanta questionamentos sobre a evolução da hospitalidade lusa. Ainda que continue reconhecendo a força de Portugal como uma cozinha interessante, a falta de novas grandes promoções por parte do guia pode impactar a motivação de chefs e investidores que buscam consolidar o país como um epicentro da alta gastronomia mundial.
Por outro lado, no entanto, esse cenário de relativa estagnação faz pensar em até que ponto o guia tem condições de refletir, de fato, a inovação e sofisticação crescente do país.
Um cenário de estabilidade e algumas surpresas
Talvez seja importante recordar que 2025 marca apenas a segunda edição do Guia Michelin dedicado exclusivamente a Portugal, após anos em que o país figurava no guia conjunto com a Espanha. Antes, os restaurantes espanhóis sempre receberam muito mais destaque.
A implementação do novo formato é vista como uma oportunidade para que a gastronomia portuguesa brilhe de forma mais independente, mesmo que os resultados ainda gerem debates (um dos mais acalorados, aliás, foi em torno da perda da estrela do 100 Maneiras, de Ljubomir Stanisic, um dos sobressaltos da cerimônia).
E, se falta de novas estrelas pode ter amargado a cerimônia para alguns, nem tudo foi decepção no Guia 2025 em Portugal: a manutenção das conquistas de restaurantes já reconhecidos trouxe um certo alívio. É o caso específico dos biestrelados, um seleto grupo composto de apenas oito estabelecimentos:
- Alma (Lisboa), do chef Henrique Sá Pessoa
- Belcanto (Lisboa), do chef José Avillez
- Il Gallo d’Oro (Funchal), do chef Benoît Sinthon
- The Yeatman (Vila Nova de Gaia), do chef Ricardo Costa
- Vila Joya (Albufeira), do chef Dieter Koschina
- Ocean (Alporchinhos, Lagoa), do chef Hans Neuner
- Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira), do chef Rui Paula
- Antiqvvm (Porto), do chef Vítor Matos, o mais recente a alcançar a segunda estrela, há apenas um ano
Entre esses restaurantes, vale ressaltar que apenas cinco são liderados por chefs portugueses, enquanto os outros três têm à frente chefs estrangeiros.
Mais que um detalhe, isso tem levantado um questionamento pertinente entre a cena gastronômica do país: qual seria a mensagem caso o Michelin Portugal concedesse uma terceira estrela a um chef não português antes de premiar um conterrâneo? A dúvida, que ressoou fortemente nos bastidores do evento, cresce em importância num cenário em que a valorização da identidade culinária portuguesa se torna cada vez mais uma pauta essencial.

Novas
No campo das boas novidades, um dos grandes destaques deste ano foi a primeira estrela Michelin concedida a uma mulher em Portugal: a chef Marlene Vieira, do restaurante Marlene, de Lisboa. Esse reconhecimento marca um avanço importante para a representatividade feminina na alta gastronomia do país e reforça a pluralidade de talentos que Portugal tem a oferecer.
Junto a outros sete endereços, ela representa um lado otimista do prêmio, o olhar para os novos reconhecimentos e nomes a se acompanhar.
- Arkhe (Lisboa), do chef João Ricardo Alves
- Blind (Porto), dos chefs Rita Magro e Vítor Matos
- Grenache (Lisboa), do chef Philippe Gelfi
- Marlene (Lisboa), da chef Marlene Vieira
- Oculto (Vila do Conde) dos chefs Hugo Rocha e Vítor Matos
- Palatial (Braga), do chef Rui Filipe
- Vinha (V.N. Gaia), dos chefs Jonathan Seiller e Henrique Sá Pessoa
- Yoso (Lisboa), do chef Habner Gomes
Destes novos estrelados, destacam-se a presença de dois brasileiros, o chef João Ricardo Alves, do Arkhe, e o chef Habner Gomes, do Yoso, os dois novíssimos brasileiros a ostentarem uma estrela em seus endereços.
Vale lembrar ainda que o próprio Brasil ainda não possui nenhum restaurante com três estrelas Michelin. Com a nova edição prevista para maio deste ano, fica a expectativa: será que finalmente o país receberá seu primeiro tri estrelado? Uma resposta aguardada com ansiedade por chefs, investidores e amantes da gastronomia na América Latina.
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