Confesso que não entendo como alguém pode dizer que o tarifaço de Donald Trump pode ser bom para qualquer país. Ele abriu fogo contra o planeta, vamos deixar de ser Polianas, e eu tascaria uma exclamação aqui, não fosse o meu pudor.
Ah, mas pode criar oportunidades para os produtores brasileiros disso e daquilo. E daí? O que interessa, de fato, é que, no geral e irrestrito, ficou mais caro exportar para o mercado americano. Mercado americano, repetindo, a meca de qualquer exportador de qualquer coisa. Se esse portão se fechou para o mundo, e o mundo ainda inclui estranhamente o Brasil, não espere que outra portinhola para uns poucos o substitua, sem maiores consequências.
A Fortune foi ouvir Warren Buffett, o bilionário que os milionários têm como guru. Como todo guru que se preza, ele disse o óbvio: “tarifas são um ato de guerra”. Guerra que se prolonga, porque “com o tempo, as tarifas são um imposto sobre os bens”. Portanto, conclui Warren Buffett no seu truísmo, os preços dos bens não cairão, mas subirão, e estarão mais altos daqui a 10 anos, daqui a 20 anos. Isso compensa algum benefício localizado?, pergunta este velho jornalista, que não é guru nem de si próprio.
Guerra é guerra, não importa o tipo, e se você hesita diante do adversário, demonstrando fraqueza, o adversário o come, sempre no mau sentido. Por isso, se você tem músculos, é melhor usá-los para tentar que o seu oponente recue. Não é o caso do Brasil, somos fraquinhos, mas também não podemos ser cretinos e achar que tudo pode ficar lindo e maravilhoso.
Atingido por tarifas de 20%, os europeus estão batendo cabeça, como não poderia deixar de ser, sobre se devem ou não responder ao tarifaço americano com outro tarifaço. Tudo bem que, nesta hora, alguém precisa ser o adulto na sala, mas ter força e não reagir é como levar uma bomba atômica na cabeça e achar que retaliar pode causar danos muito piores à própria saúde. A retaliação acarreta sempre algum dano a quem retalia, mas deixar o oponente valentão livre para continuar barbarizando não dá.
Com a China, não tem conversa. Ela acaba de anunciar que imporá aos Estados Unidos tarifas retaliatórias da mesma ordem de 34%, que colocará 11 empresas americanas na lista de “não confiáveis”, o que as impedirá de fazer negócios na China ou parcerias com empresas chinesas, e que fixará limites estreitos para a exportação de algumas terras raras que só existem lá, essenciais para a fabricação de todos os componentes elétricos já inventados.
A China fala grosso com os Estados Unidos, a coisa pode escalar, mas guerra é guerra, senhores, e quem começou foi aquele senhor cor de laranja lá na Casa Branca, que perde eventuais razões quando trata o mundo como se fosse o seu quintal e usa números falsos para fazer a sua abominação comercial, a pretexto de que os americanos são vítimas do livre-comércio, coitados dos americanos, veja se pode isto: americanos vítimas econômicas de capitalistas estrangeiros malvados. Francamente, se você acredita nessa balela, vá se tratar. Não há nada de justificável e bom no tarifaço de Donald Trump. As consequência são ruins em qualquer latitude.