O museu do Louvre, o mais visitado do mundo, quase nunca fecha as portas. As únicas ocasiões que fizeram a instituição ícone de Paris fechar foram as guerras, a pandemia e algumas poucas greves em seus 232 anos de história.
Isso explica o tamanho choque provocado nesta segunda-feira (16), quando os funcionários do espaço decidiram fazer uma greve espontânea, deixando centenas de turistas em uma fila que nunca andava.
O que começou apenas como uma reunião de alinhamento de equipe, antes da abertura das portas, se transformou em uma manifestação de insatisfação dos trabalhadores do museu. Entre as principais queixas, estava a sobrecarga de trabalho e falta de pessoal, devido à enorme quantidade de visitantes todos os dias.
O lugar recebe cerca de 30 mil pessoas por dia, sendo que 20 mil se dirigem à sala que comporta a Mona Lisa. O frenesi e a quantidade de passantes é tanta que, em janeiro deste ano, o presidente Emmanuel Macron anunciou a criação de um espaço — e de um ingresso — separado para quem quiser ver a obra-prima de Leonardo da Vinci.
- LEIA TAMBÉM: Para estar bem-informado sobre viagens, estilo, tecnologia, esporte e bem-estar, veja como receber a newsletter de Lifestyle do Seu Dinheiro
As reclamações dos funcionários não são sem fundamento. A própria diretora do Louvre, Laurence des Cars, reconheceu em uma carta ao ministério da cultura francês que o museu estava em um nível preocupante de degradação.
Além disso, des Cars também falou sobre as variações de temperatura nas salas (algo que compromete severamente as obras de arte), a dificuldade de acesso às obras, a oferta insuficiente de alimentação, sanitárias e espaços de descanso, além da sinalização inadequada.
Embora Macron tenha prometido fazer obras de melhoria no Louvre nos próximos anos, os trabalhadores do museu chamam a atenção para os problemas que estão acontecendo no momento, e que têm certa urgência para resolução.
Em entrevista à AP News, a funcionária Sarah Sefian declarou: “Nós não podemos esperar seis anos por ajuda. Nossas equipes estão sob pressão agora. Não é só sobre as artes — é sobre as pessoas as protegendo.”
- LEIA MAIS: Centre Pompidou, museu francês fechado até 2030, abre nova unidade em… Foz do Iguaçu; entenda
A questão Mona Lisa e o ‘renascimento’ do Louvre
Além da sala separada para a Mona Lisa, Macron também falou sobre a criação de uma nova entrada para o Louvre, nas proximidades do Sena, até 2031. A ideia é evitar a lotação na entrada da pirâmide de vidro.
O plano de melhorias do museu, chamado de Louvre New Renaissance, deve custar em torno de 700 a 800 milhões de euros.
- A ideia é que essa renovação seja custeada através da receita com ingressos, doações privadas, fundos estatais e os royalties de licenciamento do novo Louvre em Abu Dhabi. Até o final do ano, os ingressos para não-europeus devem passar por um reajuste.
Acontece que, apesar da cifra significativa, os subsídios anuais voltados para a instituição têm diminuído a cada ano — mesmo com o aumento dos visitantes.
Esta também é uma das queixas dos grevistas, como explica Sefian: “nós encaramos de forma muita negativa o fato de que Macron usa o museu para fazer seus discursos, mas, quando você olha em mais detalhes, o investimento financeiro do Estado está ficando pior a cada ano que passa”.
Vale lembrar que outros espaços relevantes da cena artística e cultural parisiense já passaram ou estão passando por reformas recentemente, como a Catedral de Notre Dame e o Centre Pompidou.
- VEJA TAMBÉM: Brasil fica de fora das capitais da cultura do mundo em 2025; veja a lista completa
A onda anti-overtourism na Europa
A insatisfação com o turismo de massa não é uma exclusividade dos funcionários do Louvre.
Na verdade, a Europa tem passado por uma onda “anti-overtourism”, em que os habitantes manifestam seu desagrado com os impactos negativos do turismo — seja para atrações, espaços culturais ou até mesmo para os preços dos aluguéis.
Recentemente, a Espanha viu protestos de moradores e aumentou as taxas na Catalunha, determinou limites de números de visitantes nas Ilhas Canárias, implementou multas para vestimentas inadequadas na cidade de Málaga e até estabeleceu regras para o consumo de álcool em Ibiza e em Maiorca.
Na segunda quinzena de maio, o governo espanhol determinou a remoção de mais de 65 mil propriedades de aluguel de curta temporada da plataforma Airbnb, em locais como Madrid, Andaluzia e Barcelona.
* Com informações da AP News e do Libération.
The post Greve no Louvre: o que a paralisação de funcionários diz sobre a crise do turismo em massa na Europa? appeared first on Seu Dinheiro.