O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (28/4) que a autoridade monetária deve ter em conta um componente adicional de “flexibilidade e cautela” em meio a tantas incertezas econômicas geradas pela guerra comercial travada entre Estados Unidos e China.
Galípolo participou, em São Paulo, de um seminário promovido por um banco. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), também esteve no evento.
“Temos de ter flexibilidade e cautela em um mundo no qual a incerteza aumentou tanto”, disse o chefe da autoridade monetária. “Em um ambiente de tamanha volatilidade e incerteza, devemos adicionar um dose de parcimônia no consumo desses dados”, defendeu Galípolo.
Em sua fala durante o evento, o presidente do BC fez um breve apanhado sobre o impacto dos primeiros três meses do governo de Donald Trump nos EUA sobre os mercados globais – e também o Brasil.
“Uma primeira leitura, do fim de 2024, era a de um governo mais pró-mercado que deveria reduzir tributação sobre empresas e colocar ainda mais combustível naquela exuberância que vínhamos assistindo no mercado norte-americano, com bolsa para cima e dólar forte”, observou Galípolo.
“Ao longo do primeiro trimestre, o que vimos foi que as tarifas poderiam oferecer um cenário de desaceleração e um risco de desinflação. Esse cenário foi ganhando peso ao longo do trimestre”, prosseguiu.
“Em abril, com a escalada das tarifas, a gente cruza uma linha para um momento de aversão a risco, com dúvidas sobre onde estaria um ativo onde você poderia se proteger melhor. Nesse cenário, começamos a ver aquela queda abrupta no mercado de ação norte-americano.”
Segundo o presidente da autoridade monetária do Brasil, “a escalada [da guerra comercial] passa a apresentar uma ideia de que aquilo talvez não seja factível, não seria possível praticar aquelas tarifas daquele tamanho”. “E todo mundo começa a ver quem pisca primeiro e os olhos se voltam para Trump, para a China e também para o [Jerome] Powell [presidente do Federal Reserve, o BC dos EUA]”, afirma.
Para Galípolo, “o que fica de mais perene é um sentimento de quebra de confiança ou elevação da incerteza que parece sugerir busca de alternativas de proteção que, até pouco tempo atrás, não faria sentido”.
Fazendo coro ao discurso do ministro Fernando Haddad, Galípolo disse também que o Brasil pode tirar algumas vantagens competitivas do tarifaço de Trump.
“Acho que a gente tem vantagens que decorrem de contas externas, por ser um país que pode ganhar espaço do ponto de vista do comércio, que tem uma diversificação grande de parceiros comerciais e tem segurança alimentar e energética”, observou.
Inflação ainda preocupa
Em relação ao cenário doméstico, o presidente do BC reforçou que a autoridade monetária segue monitorando com atenção os indicadores de inflação no Brasil, que continuam preocupando.
“O primeiro ponto é a preocupação com a dinâmica corrente da inflação, que permanece acima da meta e com expectativas desancoradas”, afirmou Galípolo.
“[O cenário] Continua demandando para a gente uma vigilância com uma inflação corrente que está rodando acima da meta. E a economia mostra sinais ainda muito incipientes de arrefecimento. Há necessidade de podermos dar o devido tempo para as medidas de política monetária fazerem efeito”, concluiu.
Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano – é o maior índice em uma década.
A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação. O comitê volta a se reunir nos dias 6 e 7 de maio.