Apesar do aumento nas deportações e do endurecimento das políticas migratórias nos EUA, cresce o número de brasileiros altamente qualificados que buscam oportunidades no país. Nos primeiros oito meses do último ano, mais de dois mil vistos EB-1 e EB-2 foram concedidos a profissionais brasileiros — um número recorde, que superou todo o volume registrado entre 2018 e 2021.
Já os primeiros meses de 2025 foram marcados por uma grande onda de deportações de imigrantes em situação irregular, especialmente de países latino-americanos, impulsionada pelo endurecimento das políticas migratórias sob a nova gestão de Donald Trump.
Apesar do cenário mais rígido, as regras para a concessão de vistos a profissionais qualificados permanecem, até o momento, inalteradas.
Einstein Visa
Os vistos são direcionados a pessoas com formação acadêmica avançada ou habilidades extraordinárias em áreas como tecnologia, saúde, engenharia e educação. Um dos principais atrativos dessas categorias é a possibilidade de obter residência permanente sem a exigência de uma oferta de emprego.
Cada categoria de visto EB tem seus próprios critérios de elegibilidade e requisitos. O EB-1, conhecido como Einstein Visa, é destinado a pessoas com habilidades extraordinárias em áreas como ciências, artes, educação ou esportes.
Já o visto EB-2 necessita de diploma avançado, além de cinco anos de experiência profissional.
O processo para obtenção de vistos de trabalho exige tempo, organização financeira e preparo técnico. Custos elevados e a exigência de documentação detalhada dificultam o acesso, mesmo entre profissionais altamente qualificados.
O custo médio dos processos gira entre US$ 20 mil e US$ 25 mil, incluindo taxas e apoio jurídico.
Segundo especialistas, a taxa de aprovação para brasileiros pode chegar a 80%, desde que haja uma assessoria jurídica capacitada e planejamento adequado.
Caminho tentador
Em contraste com a migração legal qualificada, o número de brasileiros deportados também segue em alta. O total de expulsões ultrapassou 1,6 mil em 2024, inserido em um contexto mais amplo de repressão à imigração irregular. Estima-se que cerca de 230 mil brasileiros vivem nos EUA sem status legal. Muitos entram com vistos de turismo e tentam regularizar a situação posteriormente, enfrentando uma burocracia cada vez mais rígida.
Enquanto os Estados Unidos seguem atraindo talentos, o Brasil vê aumentar a evasão de cérebros. Entre 2015 e 2022, cerca de 6.700 cientistas deixaram o país, o que posiciona o Brasil entre os maiores exportadores de pesquisadores do mundo. A falta de investimento em ciência e tecnologia, aliada à desvalorização da carreira acadêmica e aos cortes de recursos, contribui para esse cenário.
A queda na produção científica brasileira nos últimos anos e a ausência de políticas públicas consistentes para retenção de talentos reforçam um ambiente hostil à pesquisa. Profissionais encontram no exterior não apenas melhores salários, mas também reconhecimento, financiamento e possibilidades concretas de crescimento.
Em entrevista ao Metrópoles, o advogado internacionalista Vinicius Bicalho, avaliou os principais motivos e consequências da evasão de profissionais qualificados, que procuram melhores oportunidades nos EUA.
“Muitos profissionais sentem que o Brasil não oferece o reconhecimento, a infraestrutura ou o retorno financeiro proporcional à sua qualificação”, afirma Bicalho.
Além de salários mais altos e infraestrutura de ponta, os Estados Unidos oferecem oportunidades reais de crescimento, especialmente para quem atua em áreas estratégicas como tecnologia, saúde e pesquisa.
“O mercado americano é meritocrático. Ele valoriza resultados, inovação e oferece acesso a redes globais em ambientes altamente conectados”, explica.
Efeitos da evasão
Diante desse panorama, surgem também sinais de possível reversão. O contexto econômico mais incerto nos Estados Unidos, com demissões no setor público e atrasos em processos migratórios, pode abrir espaço para estratégias de repatriação. A saída em massa de profissionais qualificados tem consequências diretas para o desenvolvimento do Brasil.
“É um ciclo vicioso: menos talentos, menos inovação, menos investimento, mais evasão“, destaca Bicalho. “A perda de talentos reduz a capacidade de inovação interna, esvazia universidades e centros de pesquisa e compromete o progresso tecnológico e econômico”.
Segundo ele, a baixa remuneração, a burocracia e a instabilidade são fatores estruturais que tornam o ambiente brasileiro pouco atrativo para cientistas, professores e especialistas.
O que falta ao Brasil?
O contexto econômico incerto nos Estados Unidos, com demissões no setor público e atrasos em processos migratórios, pode abrir espaço para estratégias de repatriação.
Por ora, o destino de milhares de brasileiros com alta qualificação segue cada vez mais distante do país de origem. Na visão de especialistas, para reverter esse quadro, o Brasil precisaria de investir em políticas de longo prazo, focadas na valorização da educação, ciência e empreendedorismo.