O “toma lá, dá cá” de tarifas entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos tornou-se tão intenso que ficou difícil acompanhar quem está taxando o quê. A guerra comercial empreendida por Donald Trump está atingindo diversos setores da economia: desde as commodities até os itens mais supérfluos, como as bebidas alcóolicas.
Em resposta às tarifas sobre o aço e o alumínio, impostas pelo republicano, a UE vai taxar uma série de produtos americanos na mesma proporção: agora, para entrar no bloco econômico, os itens vão ter impostos de 25%.
Um produto, no entanto, deve ficar isento de taxação: o uísque americano.
A motivação para isentar a bebida, no entanto, não é para facilitar as finanças dos consumidores europeus.
Trata-se, na verdade, de uma estratégia da União Europeia para evitar a “ira” de Trump, que ameaçou tarifas de até 200% para os produtos europeus, caso o uísque dos EUA fosse taxado.
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A ideia de não taxar o uísque foi resultado de um forte lobby da França, da Itália e da Irlanda — países que buscam proteger suas respectivas indústrias alcóolicas da guerra comercial.
Além do uísque, o vinho e os laticínios também devem ficar de fora das tarifas recíprocas impostas pela UE, segundo documentos obtidos pelo Financial Times.
Já produtos como suco de laranja, aves e soja devem ter impostos de 10% a 25%.
O bloco econômico deve bater o martelo amanhã (9) em relação a essas isenções.
Caso sejam aprovadas, o impacto econômico para os produtos importados dos EUA será menor do que os 26 bilhões de euros inicialmente previstos. “Não estamos no negócio de olho por olho ou centavo por centavo”, afirmou o comissário de comércio da UE, Maroš Šefčovič.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Bruxelas sempre esteve disposta a negociar com os EUA para eliminar todas as tarifas sobre bens industriais, particularmente carros.
Já o ministro da economia da Alemanha, Robert Habeck, criticou o lobby de outros estados membros em nome de suas indústrias de bebidas, dizendo que o bloco deveria estar unido diante das políticas comerciais.
“Se cada país for contado individualmente, e tivermos um problema aqui com vinho tinto e ali com uísque e pistache, tudo isso não levará a nada”, disse.
“Os mercados de ações já estão entrando em colapso e o dano pode se tornar ainda maior. Portanto, é importante… agir de forma clara, decisiva e prudente, o que significa perceber que estamos em uma posição forte. Os Estados Unidos estão em uma posição de fraqueza”, declarou.
Aceita um vinho francês?
É importante lembrar que, diante da crise econômica global e da desaceleração do consumo chinês, a indústria de bebidas europeia vive um momento de tensão.
Portanto, ficar de fora dessa guerra comercial, e das respectivas tarifas, seria uma vitória e tanto para os produtores e exportadores.
Segundo a associação francesa de exportadores de vinhos e destilados Fevs, os impostos poderiam levar a uma queda de 1,6 bilhão de euros nas exportações de toda a UE, sendo a França a mais afetada, tanto nos termos econômicos quanto no mercado de trabalho.
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Do outro lado, o setor de bebidas americano também não quer ter que lidar com impostos.
Os players fizeram o próprio lobby na Casa Branca para isentar os destilados de todas as tarifas ao redor do mundo, ressaltando que 86% das exportações foram para países que haviam eliminado as tarifas sobre produtos alcoólicos americanos.
“O setor de destilados dos EUA tem sido o modelo de sucesso para o comércio justo e recíproco por décadas”, disse o presidente e executivo-chefe do Distilled Spirits Council, Chris Swonger, na semana passada.
Essa não é a primeira vez que a UE e os EUA “brigam” por conta de uísque.
Em 2018, a UE impôs uma tarifa de 25% sobre o uísque americano, o que fez com que as exportações para o bloco caíssem 20%, de US$ 552 milhões para US$ 440 milhões entre 2018 e 2021.
Desde que as tarifas foram suspensas, as exportações de uísque americano para a UE aumentaram quase 60%, de US$ 439 milhões em 2021 para US$ 699 milhões em 2024.
* Com informações do Financial Times.
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