O Careca do INSS é produto histórico. A história que o produziu é a da cobiça formativa do Brasil, aquela cobiça insaciável, na loucura do enriquecimento rápido, como escreveu Paulo Prado, lá se vão quase cem anos.
A insanidade das bandeiras, do ciclo do ouro, das monoculturas, do patrimonialismo exacerbado pela República, tudo isso resultou no Careca do INSS, o que não lhe retira as culpas individuais, dá-lhe apenas contexto.
É um personagem vil, de uma vileza que alcança todos os outros criminosos que, no mesmo esquema ou em esquema semelhante, roubaram um total de R$ 6,3 bilhões de 4 milhões de aposentados e pensionistas. Ele não é o primeiro nem será o último a nos causar repulsa. Estamos cercados de Carecas do INSS.
Eles estão na classe política, nos tribunais, nos escritórios de advocacia que são lavanderia de dinheiro e na elite econômica que multiplica a sua riqueza por meio do capitalismo de compadrio, antes industrial, hoje financeiro, uma das faces mais revoltantes do patrimonialismo, visto que atribui publicamente ao mérito o que é favor do Estado comprado a peso de ouro, sempre o nosso, no privado.
Não há esquerda ou direita no país. A ideologia, aqui, é simulacro para a mesma mentalidade primitiva. O que há é a cobiça atávica, selvagem, impiedosa, desavergonhada, que se traduz em quantias cada vez mais grandiosas, em cenário correlato de corrupção sistêmica, de devastação social e de ignorância cultural cujo corolário é a degradação da linguagem, a ostentação e a vulgaridade. Essa história sem fim é o fim antevisto da nossa história.
O fatalista, no Brasil, é antes de tudo um realista. O otimista, no Brasil, é antes de tudo um idiota. Ou um cúmplice.