Quem acompanhou a temporada de balanços do primeiro trimestre de 2025 viveu dias intensos — e, em muitos momentos, imprevisíveis. Nas últimas semanas, os holofotes estiveram voltados para os gigantes dos bancos.
O Santander (SANB11) foi o primeiro a abrir os trabalhos e entregou um lucro acima das expectativas. Ainda assim, o mercado classificou o desempenho como misto, com alguns pontos positivos ofuscados por desafios operacionais.
Já o Itaú (ITUB4), como de costume, não deixou a desejar: mais uma vez, apresentou um balanço sólido, com margens saudáveis, lucro robusto e forte geração de capital — um verdadeiro “combo premium” para os analistas que já esperavam um bom desempenho.
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Mas nem só de bola cantada viveu o mercado. A temporada dos bancões também pegou os investidores de sobreaviso com alguns plot twists ao longo das últimas semanas.
Uma das gratas surpresas veio do balanço do Bradesco (BBDC4), que surpreendeu positivamente com um resultado mais forte do que o esperado — principalmente em termos de lucratividade e rentabilidade.
A performance reforçou a percepção de que o banco segue firme no processo de recuperação, depois de anos de pressão nos números.
Na outra ponta, veio o choque: o Banco do Brasil (BBAS3) frustrou as expectativas. O banco sofreu um novo impacto da inadimplência no agronegócio, o que comprometeu os resultados do trimestre e pegou o mercado no contrapé.
Confira os principais resultados dos grandes bancos no 1T25:
Empresa | Lucro líquido (% a/a) | Rentabilidade/ROE – (% a/a) |
---|---|---|
Santander Brasil (SANB11) | R$ 3,861 bilhões (+27,8%) | 17,4% (+3,3 p.p) |
Banco Bradesco (BBDC4) | R$ 5,9 bilhões (+39,3% a/a) | 14,4% (+4,2 p.p) |
Itaú Unibanco (ITUB4) | R$ 11,1 bilhões (+13,9%) | 22,5% (+0,6 p.p) |
Banco do Brasil (BBAS3) | R$ 7,37 bilhões (-20,7%) | 16,7% (-4,98 p.p) |
Nubank (ROXO34)* | US$ 557,2 milhões (+74%) | 27% (+4,0 p.p) |
*Dados do Nubank em base neutra de câmbio.
O impacto da resolução 4.966 do Banco Central
Antes de avaliar os resultados dos grandes bancos no primeiro trimestre de 2025, é preciso voltar um passo atrás para entender uma mudança relevante nas divulgações dos balanços.
Este foi o primeiro trimestre em que passaram a ser aplicadas as mudanças contábeis impostas pela resolução 4.966 do Banco Central, em vigor desde 1º de janeiro.
O objetivo da mudança de norma pelo BC é alinhar as práticas contábeis e de gestão de riscos a padrões internacionais, com um novo modelo de cálculo para perda esperada da carteira de crédito, além de alterar a classificação e mensuração de ativos.
Segundo estimativa da Deloitte, a nova regra tem potencial de alterar cerca de 80% do balanço das empresas.
Itaú (ITUB4): o grande vencedor da safra de resultados dos bancos no 1T25
Na disputa entre os gigantes do setor financeiro, o Itaú Unibanco (ITUB4) voltou a ocupar o topo do pódio. Consistência, qualidade de execução e lucro robusto fizeram do banco o queridinho dos analistas nesta temporada de resultados.
Após a divulgação do balanço do 1T25, o BTG Pactual não economizou elogios. “É realmente o melhor da categoria”, cravaram os analistas, destacando que o Itaú vive hoje seu melhor momento operacional.
Segundo o banco, o Itaú tem surpreendido positivamente trimestre após trimestre, mesmo em um ambiente de expectativas já elevadas.
É verdade que, com as ações ITUB4 já acumulando uma alta de mais de 40% no ano, o espaço para novas altas parece mais restrito. Mas o BTG acredita que o desempenho do 1T25 deve levar a uma revisão positiva nas projeções de lucro para 2025, o que pode sustentar a valorização das ações.
A XP Investimentos também manteve seu tom otimista: para a corretora, o Itaú segue como principal escolha (top pick) no setor financeiro. “Vemos o banco bem posicionado para cumprir os objetivos estabelecidos para 2025.”
Santander Brasil (SANB11) e Bradesco (BBDC4) no páreo
Se o Itaú brilhou com um desempenho impecável, Santander Brasil e Bradesco também mostraram que estão no jogo — e entregaram mais do que o mercado esperava.
O Santander (SANB11) abriu a temporada com um balanço considerado limpo e eficiente, nas palavras do JP Morgan — um bom pontapé inicial para os resultados dos bancões.
O BB Investimentos (BB-BI) também afirmou que o Santander foi “capaz de ‘segurar as pontas’ principalmente por uma boa gestão de custos, que compensou de forma muito competente a retração das receitas esperadas para o período, operando com estabilidade de ROE e até mesmo melhorando índice de eficiência”.
Mas nem tudo foram flores. Analistas chamaram atenção para sinais de alerta na qualidade de crédito, que poderiam significar sinais de preocupação para trimestres que estão por vir.
Os analistas do Citi também destacaram linhas menos encorajadoras no trimestre. “Um trimestre misto, com spreads razoáveis e controle de custos, compensados por alguma deterioração na qualidade dos ativos e crescimento mais lento da carteira de crédito.”
O Bradesco (BBDC4) também surpreendeu positivamente. O 1T25 foi descrito como um dos melhores momentos do banco desde o início de sua reestruturação.
Até mesmo os analistas foram pegos de surpresa com a força do balanço, com aceleração da trajetória de recuperação e melhoria da lucratividade por meio da margem líquida com clientes.
Na avaliação do BB Investimentos, o desempenho foi tão sólido que parece ter ignorado a tradicional fraqueza sazonal dos primeiros trimestres. “O salto quantitativo do Bradesco neste trimestre marca uma virada mais contundente para o banco”, escreveu a equipe de análise.
Ainda assim, a instituição deixou um alerta no ar: o cenário macro aponta para possível alta na inadimplência do setor, exigindo atenção redobrada nos próximos trimestres.
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Nubank (ROXO34) no zero a zero?
Por sua vez, o Nubank (ROXO34) ficou no meio do caminho. O banco digital apresentou lucro crescente no primeiro trimestre, mas os números vieram abaixo das projeções do mercado — o que gerou reações mistas entre os analistas.
De um lado, houve quem enxergasse tendências positivas no balanço, principalmente na retomada dos lucros após a desaceleração registrada no 3T24.
“Com a qualidade dos ativos sob controle e a sazonalidade mais favorável no próximo trimestre, acreditamos que as margens e a rentabilidade devem melhorar a partir do segundo trimestre”, projetou o BTG.
Mas o custo de financiamento elevado em mercados como México e Colômbia, combinado com o aumento nas provisões para perdas com crédito, acendeu sinais de alerta entre os analistas. A operação internacional, embora promissora, exige atenção redobrada.
Vale lembrar que o Nubank vem apostando numa estratégia clara: priorizar crescimento mesmo que isso sacrifique margens no curto prazo. A decisão é defendida pela administração como um movimento para “otimizar o crescimento de longo prazo” do banco digital.
O desafio? Em países como o México, onde os custos de financiamento são mais altos, transformar expansão em rentabilidade é ainda mais complexo — e isso pode continuar pesando nos resultados futuros, segundo analistas.
Banco do Brasil (BBAS3): o azarão da temporada de balanços dos bancos
Na temporada de resultados dos grandes bancos, o Banco do Brasil (BBAS3) destoou do clima geral — e não foi para o lado bom. Sob o peso esmagador do agronegócio e de mudanças contábeis nos indicadores, o banco estatal entregou um balanço que caiu como um balde de água fria no mercado.
O reflexo foi imediato: desde a divulgação do resultado, as ações recuaram quase 15%, reduzindo os ganhos acumulados no ano para pouco mais de 6%. Uma virada amarga para um papel que, até então, vinha navegando em águas tranquilas.
Segundo o BTG Pactual, o principal vilão do trimestre foi a deterioração da qualidade dos ativos no crédito na carteira de agronegócio — um segmento no qual o BB tem exposição muito superior à dos concorrentes.
Mas o agronegócio não caiu sozinho nessa conta. A implementação da resolução 4.966 também afetou muito mais o banco do que os pares.
“Já esperávamos algum impacto negativo sobre as receitas de crédito. No entanto, a magnitude do impacto foi maior do que o antecipado”, destacou o BTG.
O JP Morgan também ligou o sinal de alerta. Para os analistas, a preocupação é que essas tendências mais fracas, especialmente no agronegócio, se arrastem para os próximos meses.
“Não estamos certos se isso é apenas um episódio passageiro ou se levará mais tempo, já que parte das tendências fracas depende do ciclo de crédito do agronegócio e de outros produtos que continuam a se deteriorar”, escreveram os analistas, em relatório.
Além disso, o banco americano chamou atenção para a queda na rentabilidade (ROE) do Banco do Brasil, agora abaixo de 20%, o que levanta dúvidas sobre a sustentabilidade do payout de dividendos — um dos grandes atrativos da ação.
Na mesma linha, o Goldman Sachs aponta três grandes incertezas no horizonte do BB:
- Como reconstruir a margem financeira líquida antes que a taxa de juros (Selic) comece a cair no Brasil;
- Até onde vai a deterioração da qualidade dos ativos da carteira ligada ao agronegócio; e
- Se a rentabilidade conseguirá voltar para a casa dos 20%.
O que fazer com a carteira de ações agora?
Depois dos balanços dos grandes bancos, chegou a hora de saber: o que o mercado recomenda para a carteira de ações?
Com os resultados do primeiro trimestre no retrovisor, os analistas revisaram suas apostas entre os gigantes do setor bancário — e há movimentações importantes no tabuleiro.
No caso do Banco do Brasil (BBAS3), mesmo com um balanço mais fraco do que o esperado no 1T25, o mercado ainda mantém uma postura majoritariamente otimista. Das nove recomendações compiladas pela plataforma TradeMap, seis são de compra e três, neutras.
Ainda assim, o resultado acendeu o sinal amarelo em algumas casas. BTG Pactual e Genial Investimentos, por exemplo, cortaram o preço-alvo das ações e rebaixaram a recomendação para neutra.
“A situação ainda pode piorar antes de melhorar, o balanço não parece tão forte quanto há alguns anos, e a ação caiu ‘apenas’ 13% na sexta-feira. Por isso, preferimos rebaixar a recomendação para neutra, aguardando ou uma correção adicional ou mais clareza sobre os próximos resultados”, diz o BTG.
Já o Itaú (ITUB4) mantém sua posição de queridinho entre os analistas. São nove indicações de compra e apenas uma neutra. Aliás, desde o início do ano, os papéis lideram os rankings de “Ação do Mês” aqui no Seu Dinheiro.
No Bradesco (BBDC4), os sinais também são positivos. São sete recomendações de compra e quatro neutras. Um dos destaques foi o upgrade feito pelo BB-BI, que elevou a recomendação de neutra para compra após o balanço.
Por fim, o Santander (SANB11) soma seis recomendações de compra e três neutras. Em meio a resultados ainda mistos, o banco espanhol tenta reconquistar espaço no portfólio dos investidores.
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