São Paulo — Milena Augusta da Silva, empresária e influenciadora de 35 anos, repercutiu nas redes sociais após flagrar um drone que a filmava enquanto estava nua dentro de casa em São Vicente, litoral de São Paulo. Segundo ela, a repercussão do caso a tem deixado apreensiva – principalmente por conta das mensagens de ódio que tem recebido.
“É uma coisa legal, tipo assim, tá saindo em tudo quanto é lugar a minha foto, tem muita gente me adicionando, mas eu fico um pouco apreensiva porque cada vez eu me expondo mais. E eu tô recebendo cada vez mais hate por isso. Esse é o meu problema, eu tô sendo muito atacada na internet”, disse ao Metrópoles.
Mensagens de ódio nas redes sociais
Internautas têm comentado nas publicações da mulher que ela estaria agindo “de propósito” e por “engajamento”.
“Sabemos que não vai ter ninguém sendo punido por causa do drone. Por que? Porque você mesma contratou o drone pra se promover. Você sabe, você tá dentro do seu inconsciente e mesmo que você se encha de palavras, você vai continuar sabendo. Certamente um desorgulho pra menina que um dia você foi e pra qualquer sonho decente que você já teve na vida”, comentou um usuário em uma publicação de Milena.
“Uma pessoa desse nível, reclamar de um drone… sendo que o ** já está exposto para o mundo todo”, disse outro usuário.
Reação ao hate
Para ela, a situação é horrível – especialmente quando o ódio vem direcionado de outras mulheres. Segundo Milena, grande parte do público feminino a está “criticando” e “crucificando”.
“Estão dizendo que eu fiz de propósito, que eu gosto, e que se eu quisesse, fechava a janela. E não é bem assim, né. Eu fico chateada porque eu não esperava isso vindo de mulheres”, desabafou.
A empresária destaca que o drone invadiu sua casa e privacidade, e que ela não fez nada de errado.
“As pessoas não entendem. Falaram assim: ‘você deveria comprar uma cortina, deveria fechar a janela’. Não, não, eu não deveria, porque eu não tô pelada na janela. Eu não tô pendurada na janela. Eu estou dentro da minha casa, no meu quarto, fora da janela, longe da janela”, disse.
“Eu tô dentro da minha casa. Ninguém tem o direito de vir me filmar dentro da minha casa”, reforçou a influenciadora.
Entenda o caso
- Milena é natural de Santos, no litoral paulista, mas mora na Itália há 11 anos. Há seis anos casou com um italiano. Juntos, eles administram um café em Palermo, no sul do país.
- Ela conta que sempre passa as férias no Brasil, especificamente no litoral de São Paulo, junto da família. A empresária costuma passar as festas de fim de ano na Baixada Santista e retornar à Europa depois do Carnaval.
- A influenciadora disse ter comprado recentemente o apartamento em que foi filmada. Segundo ela, a mudança foi feita no último 31 de dezembro.
- Milena diz ter sido filmada por outro drone, provavelmente o mesmo equipamento, uma semana antes do caso que repercutiu. No momento, ela estava de toalha e o dispositivo logo desapareceu.
- Na última sexta-feira (14/2), ela estava nua na cama quando viu um drone se aproximar da sua janela. O apartamento fica no segundo andar do prédio, e a janela dá de frente para o mar, sem vista para qualquer vizinho.
- Ao ver o equipamento, que a filmou por cerca de dois minutos, ela fez um vídeo. Em seguida, postou o conteúdo nas redes sociais.
Medo de vazamento de imagens
Milena disse estar com bastante medo que as imagens potencialmente feitas pelo drone vazem. “Tenho medo porque eu nasci e cresci aqui. Todo mundo me conhece. Tenho medo que as minhas imagens vazem, alguém poste de propósito, ou venda, ou poste em algum site”, disse.
Ela afirmou que, mesmo que brinque nas redes sociais e dê risada, está muito apreensiva. ”Tô com medo mesmo de verdade”, revelou a empresária.
Sem respaldo
Milena também registrou um boletim de ocorrência online. Ela diz, no entanto, que não tem recebido qualquer respaldo das autoridades.
“Até agora eu não tive nenhuma assessoria da polícia, não fui procurada. Fiz o boletim, mas também não tive nenhum respaldo, nenhum apoio, não tive nada disso ainda, nem a polícia, nem a Prefeitura”, destacou.
Ela conta que mandou mensagem, através do Instagram, para a equipe do prefeito de São Vicente, Kayo Amado (Podemos). “Também não tive nenhuma resposta”, afirmou.
O que dizem as autoridades
Em nota, a Prefeitura de São Vicente afirmou que lamenta e repudia o ocorrido, “reforçando a importância da denúncia e do registro de boletim de ocorrência junto às autoridades policiais”.
A gestão municipal disse ainda que a regulamentação dos drones é feita pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “Em âmbito municipal, a administração informa que irá estudar possíveis medidas para coibir situações desagradáveis como essa”, diz a nota.
Procurada, a Anac afirmou que “a autorização para sobrevoar determinado espaço aéreo é uma atribuição do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão responsável pelo monitoramento e planejamento do tráfego aéreo em território brasileiro”.
No entanto, a agência acrescentou que o uso do equipamento no contexto indicado possivelmente pode ser enquadrado como infração penal.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o caso foi registrado nessa quarta-feira (19/2), por meio da Delegacia Eletrônica e tem um prazo de até 48 horas para confirmação da ocorrência.
“Após a validação, a vítima será informada por e-mail e pela própria Delegacia Eletrônica sobre os próximos passos. Todos os casos, uma vez validados, são encaminhados à delegacia territorial da área correspondente para investigação, visando o total esclarecimento dos fatos”, afirmou a pasta.
A Força Aérea Brasileira (FAB), responsável pelo Decea, foi procurada. A reportagem aguarda um posicionamento.