São Paulo — As banquinhas de rua e lojas de produtos naturais de São Paulo são o destino de muitas pessoas que buscam nas ervas a solução para dores as mais diversas ou alternativas para amenizar males do corpo e da alma. Não são poucas as opções para se fazer um bom chá e as ofertas se multiplicam entre flores e folhas dentro de saquinhos ou a granel. Um deles promete emagrecimento, é diurético e faz sucesso entre consumidores.
Entre variados tipos, o chá que mais tem despertado o interesse das pessoas e se popularizado é o de hibisco, seguido também por outros como cavalinha e espinheira santa. É o que diz o boca a boca de comerciantes sobre o gosto geral. Apesar do apelo e de ser facilmente encontrado, especialistas afirmam que, como em qualquer outra infusão, é preciso muito cuidado no consumo desse tipo de substância, que ganhou as xícaras, copos e canecas do paulistano.
Quem estuda o assunto afirma também que é preciso ter atenção ao local onde se compra ervas em geral para evitar falsificações, além de contar com a prescrição e acompanhamento de profissional especializado.
A comerciante Luiza Campos Figueiredo, 39 anos, trabalha há 16 anos com produtos naturais. Em uma portinha que se estende até uma barraca nas proximidades do Largo da Batata, em Pinheiros, tem de tudo um pouco. Ela não hesita ao apontar o hibisco como favorito, contando que chega a vender até 25 saquinhos por dia.
“Para perder peso, para infecção urinária, mas não pode ser tomado muito, porque pode dar até infertilidade”, afirma a vendedora.
Segundo Luiza, depois do hibisco vem a cavalinha. “É diurético. Serve também para perder peso, para infecção urinária e do útero”, diz.
Já na região central, a vendedora Ana Claudia Santana de Jesus, 36 anos, trabalha com a mãe sob uma passarela do lado de fora do terminal de ônibus do Parque Dom Pedro. A lista dos mais procuradores na barraquinha traz também hibisco e cavalinha como preferidos, seguido pela camomila.
Emagrece
“O hibisco ajuda no emagrecimento e na gordura do fígado. O de camomila é mais para dormir mesmo, para o processo de insônia. O chá de cavalinha é diurético, ajuda a eliminar a retenção de líquido”, afirma.
A barraca é antiga, tradicional e tem clientela fiel, segundo mãe e filha. Elas contam que recebem pessoas até mesmo de outros estados, como Mato Grosso e Santa Catarina. “Os médicos estão prescrevendo remédio natural. Antigamente, era só manipulado, remédio de farmácia”, diz. “Já vêm com a receitinha na mão”, conta Ana Claudia, sobre o perfil de quem busca os produtos.
Mãe de Ana Claudia, Aureci Moreira Santana, 59 anos, começou a vender os produtos há mais de três décadas. “Uma amiga me incentivou. Ela trabalhava na Sé. Fiz um curso, estou aqui há 36 anos e não pretendo trabalhar com outra coisa”, diz.
Além do curso, uma boa pitada de tradição familiar ajudou Áurea, como é conhecida, a seguir pelo caminho dos produtos naturais. “Aprendi muito com a minha mãe, descendente de índia”, afirma. Antes, vendia brinquedos. “Comecei a trabalhar com as ervas e peguei gosto.
De volta a Pinheiros, a comerciante Leidiane Fernandes Souza, 42 anos, também tem o hibisco entre os preferidos da clientela, mas traz em destaque a espinheira santa. “Trata a parte de estômago, gastrite, enjoo, refluxo. É o mais vendido. A gente vende superbem aqui na loja”, diz.
Leidiane diz que recomenda a ingestão de dois copos por dia. “Não mais que isso, né? Porque já tivemos casos de clientes que tomaram um litro ou mais”, afirma.
Garrafadas
Além dos chás, também fazem sucesso as garrafadas. Na barraca de Raimundo Nonato Ribeiro, 65 anos, a preferida é a de Flor do Amazonas. “Para todo o tipo de intestino dentro da pessoa. Fígado, rim, todo tipo de intestino. Com 20 minutos, você já está sentindo a melhora”, diz. “É a principal. O pessoal chega procurando, a gente sabe o que é e indica, porque é a melhor”, afirma.
Outra garrafada que faz sucesso na barraquinha de Raimundo é o “Xarope da Vovó Isabel”. O rótulo diz que pode ser tomada até por bebês a partir de três meses. “Para bronquite, tosse, essas coisas”, afirma o Raimundo.
O vendedor diz que os compradores não costumam voltar para criticar. “Ninguém vem reclamar, porque a gente vende sabendo que o produto é de qualidade.”
Modismos
O terapeuta naturalista Francisco Oliveira, 73 anos, critica modismo em relação aos chás. “Como terapeuta, eu indico de forma personalizada, de acordo com a doença da pessoa. Agora, o que vende mais é aquele que a mídia divulga num certo fim de semana. Aí todo mundo amanhece comprando. Passou uma semana, ninguém mais quer aquele e vai para outros”, afirma.
Oliveira diz que não há uma única planta que cure todo mundo. “Não significa que aquela que vende mais é a melhor. A melhor é aquela que está de acordo com a necessidade de cada paciente”, diz. “Você precisa fazer uma associação, uma combinação de plantas.”
O terapeuta também cita algumas precauções, como não comprar ervas que fiquem expostas ao sol, por exemplo, e diz que só adquire produtos em locais que têm farmacêutico responsável. “A planta, em si, não é o problema, mas o cuidado com ela”, afirma.
Oliveira também afirma que é preciso conhecer as indicações e contraindicações. “Uma grávida não pode tomar chá de quase planta nenhuma”, diz, esclarecendo que só prescreve algum chá baseado no diagnóstico que faz da pessoa.
O terapeuta conta que é uma testemunha do bem que os chás podem fazer na vida de uma pessoa. “Só vivia dando atestado na empresa onde trabalhava. Aí, eu conheci a alimentação natural. Fiz uma mudança no meu estilo de vida. Faz 35 anos completos que não fico um dia doente. Nem com dor de cabeça, febre, nada. O único tratamento que fiz foi o implante dentário.”