Quem viu o dólar bater recordes históricos em dezembro do ano passado, mal poderia imaginar que, tão pouco depois, a moeda americana estaria apresentando queda em cima de queda — favorecendo não só aquelas pessoas que têm viagem marcada, como também quem quer fazer uma reserva cambial para enfrentar os próximos meses.
Algumas mudanças no cenário deram um “respiro” para o dólar, na visão de Alfredo Menezes, sócio-fundador e CIO da Armor Capital.
Primeiro, as tarifas de Donald Trump não estão tão agressivas como o prometido durante a campanha presidencial, o que fez com que muitos investidores desmontassem as posições long (compradas) em dólar e short (vendidas) em moedas emergentes, como o real.
Além disso, a questão fiscal, apesar de continuar relevante, saiu um pouco da pauta. Somado a isso, o primeiro trimestre do ano é sazonalmente o melhor momento de fluxo de moeda forte do Brasil, por conta da exportação de commodities. Em 2025, o contexto é ainda mais favorável para o agro, dada a safra recorde prevista para os grãos.
Por isso, a visão de Menezes é clara: o real vive seu melhor momento deste ano e, portanto, a melhor hora para fazer uma reserva em dólar é agora.
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Apesar do otimismo, o convidado da semana do podcast Touros e Ursos não vê a moeda americana caindo para abaixo de R$ 5,60 em 2025.
Para o final do ano, as perspectivas não são boas. O dólar pode voltar subir e chegar a bater até R$ 6,20 com a volta da pauta fiscal à tona e o fluxo de entrada de moeda forte mais apertado.
Além disso, restam ainda algumas incógnitas sobre a trajetória da taxa de juros, agora que Gabriel Galípolo é o novo presidente do Banco Central. Ainda não se sabe qual será a exata postura do dirigente diante das questões macroeconômicas.
“Eu não sei o quanto o BC vai lutar pela meta. Porque, se for lutar, os juros vão precisar ser muito maiores do que estão”, comenta Menezes, que acredita que a Selic vai a, no máximo, 15,5% até o fim do ano.
Confira o episódio na íntegra no vídeo a seguir:
As perspectivas para a economia mundial
Em geral, o sócio-fundador da Armor Capital está pessimista com a economia mundial e otimista com a economia dos Estados Unidos.
Por um lado, Menezes enxerga a China com crescimento anual abaixo dos 5% e, consequentemente, o Brasil mais prejudicado pela desaceleração do principal parceiro comercial. A Europa também deve “continuar patinando”.
Por outro lado, o convidado considera “impressionante” a dinâmica da economia americana, que também é beneficiada pelo fato de o dólar ser uma reserva de valor.
“Desde a Roma Antiga, aquele que tem soberania militar detém a reserva de valor. Nem a Europa inteira consegue competir com a soberania dos EUA”, diz.
Onde a Armor Capital está investindo?
Diante desse cenário, Menezes revela que a Armor Capital tem aumentado as posições em NTN-Bs — chamadas, no Tesouro Direto, de Tesouro IPCA+ — com destaque para aquelas com vencimento em 2035.
Ele também fala do setor bancário, que tem alguns players tanto domésticos quanto internacionais atraentes no momento.
Já quando o assunto é a bolsa brasileira, Menezes assume que “não consegue ficar tão animado”, ainda mais considerando as incertezas na China, que afetam uma parcela relevante das empresas listadas, focadas em commodities.
O setor de varejo brasileiro também não é tão bem visto como investimento, e o “culpado” é o Mercado Livre (MELI34). “Não dá para competir com o Meli”, ressalta.
“Na média, não acho que a bolsa vai bater o CDI esse ano”, diz Menezes.
O sócio-fundador da Armor Capital cita também boas perspectivas para os setores de energia e segmentos da economia real, que devem ser mais beneficiados por medidas protecionistas.
Na segunda parte do episódio, o convidado e os apresentadores Vinícius Pinheiro e Julia Wiltgen elegeram os touros (destaques positivos) e ursos (destaques negativos) da semana.
Entre os ursos, as usinas e siderúrgicas instaladas no Brasil, que devem sofrer com as novas tarifas de Trump; e o filme Emilia Perez.
Do lado dos touros, o Santander (SANB11) pelo balanço positivo do quarto trimestre de 2024; a Embraer (EMBR3) pelo pedido recorde anunciado na semana passada e a Gerdau (GGBR4), que se beneficia por ter plantas de produção fora do Brasil.
O episódio completo pode ser visto no tocador abaixo:
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