“Só eu sei / as esquinas por que eu passei”, canta Djavan em “Esquinas”, sucesso de 1984. Esse, aliás, seria um bom nome para um tributo ao músico. “Sina”, de 1982, também. Mas quando recaiu sobre o próprio cantor a escolha do título do musical em sua homenagem, ele escolheu batizar a peça que estreia essa semana como Djavan – Vidas pra Contar.
A escolha do título, uma referência a seu álbum de 2015, acabou sendo um envolvimento pontual do cantor na peça. Mesmo ele, tão dono de suas próprias esquinas, deve se surpreender quando descortinar a homenagem que recebe a partir desta quinta-feira (5), no Teatro Multiplan, no Rio de Janeiro..
“Esse nome veio do próprio Djavan”, conta Gustavo Nunes, dono da produtora Turbilhão de Ideias e um dos idealizadores do espetáculo. “A gente submeteu uns dez nomes e ele veio com Vidas pra Contar. Nem pelo álbum de 2015 em si, mas pelo que o musical se propõe, que é não só falar dele, mas da vida de muitas pessoas que são sintetizadas pela história dele.”
Trabalhar com um repertório tão extenso, uma imensidão artística à disposição, tem suas vantagens, afinal. E quem garante é ninguém menos que João Viana, diretor musical do espetáculo, mas também filho do biografado. Foi a ele quem coube esclarecer as eventuais dúvidas e questões cronológicas da produção que, mesmo na memória familiar, não estavam cristalizadas.
“Muitas vezes eu liguei para ele para abordar alguns assuntos e aprofundar mais outros, coisas que, mesmo sendo filho, eu não tinha certeza de como tinha acontecido cronologicamente na história de vida dele e ele ajudou muito nisso”, afirma João.
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História sem fim
Com direção artística de João Fonseca e Raphael Elias no papel-título, Vidas pra Contar se estende por aproximadamente duas horas. Nelas, porém, a peça narra mais de cinco décadas de carreira de um dos maiores ídolos da música brasileira.

O espetáculo vem na esteira de outros sucessos da produtora Turbilhão de Ideias, que há uma década chama atenção com musicais dedicados a artistas brasileiros. Primeiro veio Cássia Eller. Depois Tim Maia e Cazuza. E finalmente Os Paralamas do Sucesso, que ganharam homenagem ainda em plena atividade.
Foi apenas há dois anos que o nome de Djavan saltou para Gustavo Nunes. “Às vezes me pergunto como é que não tinha sido feito esse musical”, reflete o produtor a Seu Dinheiro.

“Fico realmente ainda pasmo de não ter sido feito, dada a relevância musical que ele tem, seu impacto na história brasileira, suas composições, mas também da música negra, da ancestralidade.”
Gustavo logo se aliou a Fernando Nunes para criar uma ponte com Djavan. Dali em diante, cerca de seis meses de idas e vindas separavam a dupla do sinal verde do músico para retratar sua história – um resgate “da história dele desde sua adolescência em Maceió, sua família, seus amores, os parceiros, e as dificuldades encontradas até o sucesso”, explica o diretor João Fonseca.
O final, naturalmente, vem aberto. Trata-se, afinal, de uma carreira que segue em plena atividade — inclusive com rumores de um novo processo criativo acontecendo agora. A graça, diz Gustavo Nunes, é exatamente essa:
“A gente conta a história dele de uma maneira com início, meio e fim, mas sabendo que ele tem muito pela frente. Ele realmente agora tá em um momento de criação, em breve vem um novo trabalho, mas é bonito ver que nem todas as histórias têm um ponto final agora.”
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O silêncio entre os versos
Junto a uma equipe de mais de sessenta pessoas, coube a Nunes, mais o apoio no texto de Patrícia Andrade e Rodrigo França, a escolha por quais passagens priorizar.
Com João Viana e Fernando Nunes que dividem a direção musical, ficou o desafio de selecionar, entre as mais de 200 composições de Djavan, aquelas que se tornariam mais significativas na história. Aos dois, a única preocupação era manter, na medida do possível, a fidelidade às canções originais:
“E a gente tá sendo o mais fiel possível a obra dele, mas adaptando à situação de palco com elenco grande, com textos muito bonitos, então muitas vezes a gente tem que criar um espaço dentro da música para que o texto se encaixe bem”, reflete Viana.

À favor do espetáculo, entra ninguém menos que o próprio Djavan, que serviu como consultor ocasional de sua própria história. Mesmo sem grandes exigências, parte da seleção das músicas e mesmo da adequação de alguns trechos veio do próprio ídolo. Nas palavras de seu filho:
“Ele participou, se envolveu, deu opinião, mas temos o distanciamento necessário para que ele tenha um impacto e a surpresa que a gente quer proporcionar.”
Para Gustavo Nunes, idealizador do espetáculo, “a peça não busca imitar ninguém”. “A gente quer contar a história dele de uma maneira muito fiel, muito original também. Mas é um complemento do que ele faz”, diz.
Trata-se, sim, de jogar luz sobre os bastidores menos famosos da história de um dos criadores mais conhecidos do grande público, explica o produtor. De entender o silêncio entre seus versos. Ao desafiar-se a contar sua história, o que se busca é também entender a arte, mas também a luta, a superação e o caminho que o conduziu ao estrelato. E, talvez, revelar finalmente algumas das esquinas que só Djavan conheceu até agora.
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Os ingressos para Djavan – Vidas pra Contar estão à venda na Sympla (Rio de Janeiro) e no Uhuu (São Paulo).
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