Os diamantes podem até ser os “melhores amigos de uma garota”, cantava Marilyn Monroe. Mas o mesmo não pode ser dito da amizade entre a pedra preciosa e Donald Trump. Diferentemente dos metálicos ouro, prata e cobre, a gema não escapou às tarifas impostas pelo presidente.
Serão cobrados, no mínimo, 10% em impostos para que o minério possa entrar nos Estados Unidos. Caso um acordo não seja feito durante a pausa de 90 dias da guerra comercial, que termina em 9 de julho, esta taxação pode ser ainda maior.
A princípio, a notícia parece desconectada do consumidor brasileiro. Acontece que os EUA são o maior mercado da joalheria de diamantes, respondendo por metade da demanda global.
Por isso, o efeito cascata de uma economia globalizada deve fazer com que os preços das joias subam no Brasil também.
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Vale ressaltar que o país da América do Norte não tem nenhuma mina nem depósito comercial do mineral. Ou seja: os Estados Unidos são 100% dependentes da importação da pedra.
Somado a isso, a cadeia de produção para que o minério bruto extraído de minas em Botsuana torne-se um anel vistoso na mão de uma noiva americana é longa e complexa. A matéria-prima passa por entrepostos comerciais no Oriente Médio e na Europa e por centros de corte e polimento até que possa chegar a lojas de marcas como Tiffany, Cartier e H. Stern.
Na prática, isso significa que a indústria é altamente sensível a qualquer disrupção nas regras e taxas de comércio internacional.
Não por acaso, o Conselho Mundial de Diamantes (World Diamond Council) publicou uma carta aberta pedindo a isenção de tarifas para o minério.
“A indústria americana de joalheria gera mais de US$ 117 bilhões para a economia nacional todos os anos e emprega mais de 200 mil pessoas no país. Uma tarifa em cima dos diamantes naturais colocaria tudo isso em risco”, escreveu o órgão.
O mais delicado em toda essa história é que a guerra comercial empreendida por Trump se junta a outros fatores que já estavam prejudicando os tais “melhores amigos” de Marilyn Monroe.
Entre eles, a crise generalizada no luxo e o surgimento dos diamantes feitos em laboratório.
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A ameaça dos diamantes artificiais
Não seria justo atribuir toda a culpa ao presidente, já que o setor da joalheria em diamantes teve seu principal e maior baque antes mesmo de Trump ter sido eleito pela primeira vez.
A fabricação de diamantes em laboratório, iniciada há cerca de dez anos, mudou todo o cenário. Isso porque, quimicamente, essas cópias são exatamente iguais às pedras extraídas da natureza. A olho nu, também é impossível distinguir uma da outra.
A diferença, então, está no preço: cada quilate artificial sai por volta de US$ 10, em oposição aos US$ 90 cobrados quando a pedra é natural.
Pensando por uma perspectiva ESG, a descoberta científica também tornou a indústria muito mais sustentável, em termos de emissão de carbono, e mais socialmente responsável, já que o “garimpo” de diamantes sempre foi uma atividade permeada por más práticas de trabalho.
Foi por causa disso que a Pandora, a maior joalheria do mundo em termos de volume, decidiu parar de vender peças com diamantes extraídos de minas em 2021.
“Com essa proposta de valor que os diamantes cultivados em laboratório oferecem, podemos, na verdade, disponibilizar diamantes para um público muito maior. Portanto, não acreditamos necessariamente que o volume total de diamantes vá diminuir”, disse Alexander Lacik, CEO da Pandora, à CNBC.
Desde março de 2022, a pedra minerada teve queda de mais de 60% do preço, por conta do cenário macroeconômico desafiador e da concorrência com a pedra artificial.
Neste primeiro trimestre de 2025, a líder do setor de diamantes, a sul-africana-britânica DeBeers reportou receitas 44% menores do que o mesmo período do ano passado, por conta dos preços mais reduzidos e da queda do volume de vendas.
Ao mesmo tempo, a suíça Richemont superou as expectativas do mercado em um crescimento de dois dígitos impulsionado pelo segmento de joalheria, que inclui as marcas Cartier e Van Cleef & Arpels.
* Com informações da CNBC e do Financial Times.
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