Os investidores conservadores tendem a preferir manter a maior parte ou a totalidade das suas reservas em ativos de renda fixa pós-fixada (indexada à Selic ou ao CDI), de baixíssima volatilidade e com liquidez diária, isto é, que podem ser resgatados a qualquer momento.
Um bom exemplo desses investimentos são os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), emitidos por bancos e geralmente remunerados com base em um percentual do CDI.
De uns anos para cá se tornaram comuns, nos bancos e plataformas de investimento, os CDBs que pagam boas rentabilidades mesmo com liquidez diária — por exemplo, 100% do CDI.
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Num país de juros elevados como o Brasil, um CDB de banco grande com essas características é um dos exemplos maiores de como é possível ganhar dinheiro sem fazer esforço e praticamente sem risco.
Como acontece com outros tipos de investimento, porém, o investidor consegue ganhar ainda mais se topar abrir mão da liquidez diária e adquirir CDBs de vencimentos mais longos, como um, dois ou três anos.
Trata-se de uma forma de turbinar o rendimento da parcela mais conservadora da sua carteira sem aumentar o risco de crédito ou a volatilidade — desconsiderando-se, é claro, a reserva de emergência, que deve ficar obrigatoriamente aplicada em investimentos conservadores de liquidez diária.
Muitos brasileiros, porém, ainda são apegados à liquidez imediata nas suas aplicações mais conservadoras. Mas uma análise feita pelo banco Inter demonstrou quanto dinheiro o investidor que não abre mão da liquidez de jeito nenhum está deixando na mesa.
Retorno poderia ser cerca de 40% maior no cenário atual
Em relatório recente, o analista do Inter Rafael Winalda resolveu calcular quanto o investidor de CDB de liquidez diária deixa de ganhar, no longo prazo, ao abrir mão de retornos anuais maiores (ainda que apenas 0,5% ou 1,0% mais altos) que ele poderia obter num CDB com liquidez apenas no vencimento.
Parece pouco, mas a simulação dele mostra que, em prazos como dez, 15 ou 20 anos, a diferença pode ser significativa.
Primeiro, Winalda simulou os retornos para ativos de renda fixa que remunerem 100%, 102% e 105% do CDI com liquidez diária e comparou-os com o desempenho de ativos sem liquidez diária com vencimentos superiores a dois anos e retornos adicionais de 1% e 2%, rentabilidades condizentes com o mercado atual.
Foi considerado um prazo de investimento de 20 anos (até 2045), mas sem que os ativos precisassem ter um vencimento tão longo. A premissa era apenas de que eles tivessem prazo superior a dois anos, sendo os recursos reinvestidos sempre que vencessem.
Para o CDI foi considerada uma taxa de 12,25% em 2025, 11,00% em 2026, 10,00% em 2027 e 9,00% de 2028 em diante.
Assim, levando-se em conta apenas um aporte inicial único e a rentabilidade bruta, isto é, sem desconto de imposto de renda, o retorno acumulado destes cinco diferentes ativos mostrou uma diferença de até cerca de 40%, diz Winalda.
Em outras palavras, num prazo de 20 anos e após múltiplos reinvestimentos, a diferença entre o retorno do CDB mais rentável dentre os títulos sem liquidez diária e o retorno do CDB menos rentável com liquidez diária chegou a cerca de 40%.
De fato, muita gente não tem estômago para a volatilidade de um investimento em ações nem quer ter a dor de cabeça de correr o risco de crédito de uma debênture, mas acaba priorizando a liquidez diária mesmo para a parcela da carteira destinada aos objetivos de médio e longo prazo.
Esses investidores acabam renovando o investimento por vários anos, deixando de ganhar um retorno maior em uma aplicação igualmente conservadora, porém sem a liquidez imediata da qual ele, de fato, vai acabar não precisando.
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Deixando R$ 100 mil na mesa
Winalda ainda fez uma segunda simulação com os mesmos ativos, prazo e juros estimados, porém levando em conta outros dois fatores: aportes recorrentes de R$ 500 por mês e o desconto do imposto de renda sobre os rendimentos.
Os ativos de renda fixa não isentos de IR são tributados de acordo com uma tabela regressiva, em que as alíquotas diminuem de acordo com o prazo do investimento.
Assim, aplicações que vencem ou são resgatadas em menos de seis meses são tributadas em 22,5%, enquanto aquelas que vencem ou são resgatadas após dois anos são tributadas em apenas 15%.
Portanto, na sua segunda simulação, Winalda considerou, além dos aportes mensais, que os CDBs de liquidez diária teriam seus rendimentos tributados em 22,5% — uma vez que ativos com essa característica frequentemente têm vencimentos inferiores a seis meses — e que os CDBs sem liquidez diária e com prazos superiores a dois anos teriam seus rendimentos tributados em 15%.
O resultado ficou assim:
Ativo | Valor acumulado |
CDB 100% do CDI com liquidez diária | R$ 291.702,57 |
CDB 102% do CDI com liquidez diária | R$ 297.209,64 |
CDB 105% do CDI com liquidez diária | R$ 305.705,92 |
CDB sem liquidez diária com prêmio de 1% | R$ 354.620,00 |
CDB sem liquidez diária com prêmio de 2% | R$ 393.987,77 |
Repare que a diferença entre o CDB sem liquidez diária mais rentável e o CDB com liquidez diária menos rentável chegou a mais de R$ 100 mil em 20 anos (2045).
Em outras palavras, quem ficou por 20 anos fazendo aportes recorrentes em CDBs curtinhos de liquidez diária e que rendem 100% do CDI poderia ter recebido cerca de 35% a mais se tivesse optado por um CDB mais longo e com liquidez apenas no vencimento.
Winalda conclui sua análise dizendo que “cada 1% ao ano importa, e muito, no longo prazo”, uma demonstração do poder dos juros compostos no patrimônio do investidor.
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