O Brasil vive amanhã (7) uma das Super Quartas mais importantes do ano, com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed) sobre a taxa de juros. Enquanto lá a projeção indica manutenção, aqui a expectativa dominante é de mais um aumento, o que abre a porta para uma questão central: o fim do ciclo de alta da Selic está próximo?
Quem responde essa pergunta é Marcel Andrade, responsável pela área de soluções de investimentos da Sulamérica Investimentos, convidado do episódio 221 do podcast Touros e Ursos.
A expectativa de Andrade e da maioria dos analistas é de que o Copom eleve a Selic em 50 pontos-base (pb), o que colocaria a taxa de juros por aqui em 14,75% ao ano.
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“Para nós, o fim está próximo. Entendemos que o Banco Central deve parar nesse aumento de 50 pontos-base agora nessa próxima reunião e observar o que vai acontecer com o mercado e como o mercado vai reagir a uma taxa de juros em um patamar alto e por um tempo significativo antes de começar o ciclo de afrouxamento monetário”, afirma.
“Parte do mercado ainda precifica 25 bp de aumento em futura reunião, mas a gente entende que os efeitos [de a Selic subir] de 14,75% para 15% não vão ser tão grandes assim. A taxa de juros está em um nível restritivo; a política monetária hoje é restritiva”, acrescenta.
Andrade lembra que a inflação estava desancorada desde o final do ano passado e que agora começa dar sinais de desaceleração. Ele cita a última edição do Boletim Focus, que mostrou que a previsão do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – passou de 5,55% para 5,53% este ano. A meta do BC é de 3%.
“Isso significa que a política monetária está começando a fazer algum efeito na economia”, diz.
O comunicado do Copom
Se Andrade tem segurança em dizer que o Copom vai elevar a Selic em 50 pb no encontro de amanhã, como prevê a maioria do mercado, o mesmo não acontece com relação ao comunicado que acompanha a decisão.
Questionado sobre a possibilidade de o documento deixar a porta aberta para mais um aumento de 25 pb, o que colocaria a Selic em 15% ao ano, ele diz que dificilmente o comunicado fechará completamente a porta do ciclo de aperto monetário no Brasil.
“Dificilmente o comunicado vai fechar a porta para possíveis aumentos, até porque a gente vai ter que observar os dados econômicos que ainda estão por vir, que vão ser liberados até a próxima reunião do Copom [em 18 de junho]”, afirma.
Andrade chama atenção também para o cenário externo, atualmente dominado pela guerra comercial de Donald Trump e todas as incertezas do tarifaço sobre os mercados e sobre a economia global.
Para saber mais detalhes do que Andrade pensa sobre os juros aqui e lá e onde investir neste momento, confira o episódio completo do podcast Touros e Ursos:
Trump vai ditar o ritmo da Selic?
A Super Quarta tem esse nome porque é o dia das decisões de política monetária no Brasil e nos EUA — e, por lá, não é novidade que Trump pressiona o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a baixar os juros mesmo em meio à guerra comercial em curso.
Segundo Andrade, embora os fatores externos adicionem complexidade, a decisão do Banco Central brasileiro deve se concentrar em fatores internos e na busca pelo controle da inflação.
“Tentar guiar a política monetária apenas pelo setor externo seria cair em um mundo muito vazio, de incertezas”, afirma ele, acrescentando que Trump muda de ideia muito rapidamente. “Guiar a política monetária apenas pelo cenário externo é tornar o BC completamente cego”.
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Os juros podem cair em 2025?
Se é difícil prever o próximo passo da política comercial do governo Trump, mais ainda é projetar quando a taxa de juros deve começar a cair no Brasil.
“A expectativa é que a Selic vai ficar em um patamar elevado durante um período ainda incerto. Não há um horizonte definido para o início do corte de juros. Embora haja discussões no mercado sobre uma possível redução no final do ano, o cenário global muito incerto torna essa uma previsão difícil de cravar”, afirma Andrade.
O responsável pela área de soluções de investimentos da Sulamérica reforça que o cenário base para a previsão de Selic em dois dígitos por muito tempo não considera um ambiente de desaceleração global e brasileira mais agressiva. Ele também lembra que 2026 é um ano eleitoral no Brasil.
“Qualquer mudança, como uma redução [dos juros], ocorreria mais para o último trimestre deste ano, ligada às condições econômicas e dos dados que vão ser liberados no Brasil e muito que vem lá de fora”, afirma.
E o Fed, vai cortar os juros como Trump deseja?
Antes do Copom, o Fed anuncia a decisão de política monetária em um ambiente de bastante pressão por parte de Trump. Atualmente, a taxa por lá está na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano e a expectativa é de manutenção.
Nas últimas semanas, os mercados lá fora foram sacudidos por sinais de que Trump poderia demitir Jerome Powell da presidência do Federal Reserve por discordar da condução dos juros — considerados pelo republicano muito elevados em um ambiente, segundo ele, sem inflação.
- Em março, o índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) — a medida preferida do Fed para a inflação — subiu 2,3% em base anual, depois de uma alta de 2,5% em fevereiro.
“A gente entende que o Fed não vai se mover na reunião de amanhã. Nosso call é de manutenção [dos juros], mas para os Estados Unidos, a gente acha que o Fed deve começar o corte de juros ainda neste ano”, afirma Andrade.
Ele precifica em torno de três cortes da taxa para este ano nos EUA, a depender muito dos dados da economia norte-americana. “Acho que todo esse tarifaço ainda não afetou de fato alguns dados”, diz.
Andrade também diz que, diferente do Brasil, onde a visualização de um corte de juros é mais turva, nos Estados Unidos já é possível vislumbrar o afrouxamento monetário chegando.
“A economia norte-americana, apesar de não ter esses sinais fortes de desaceleração como alguns já começam a analisar, tem uma incerteza muito grande. Por isso, entendemos que Powell vai reduzir a taxa de juros; isso só não vai acontecer agora, em meio a tanta pressão”, afirma.
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Onde investir com juros tão altos?
Em uma segunda parte do podcast, Andrade também fala dos investimentos em meio a um cenário de Selic elevada e de incertezas comerciais no mercado externo.
Para ele, a renda fixa ainda vai trazer alegrias para os investidores brasileiros. “Além da renda fixa aqui, a renda fixa lá fora também segue atrativa, temos hoje oportunidades que a gente não via há muito tempo — seja na parte de renda fixa soberana, mas também em outros mercados como em países europeus”, afirma.
“Trazendo para o mercado local, estamos falando de uma taxa Selic de 14,75% com liquidez diária, uma inflação de 5,5% e um juro real acima de 8%. Então, para investimentos pós-fixados, entendemos que vão ser um grande componente do portfólio dos investidores, mas também a gente começa a olhar para aqueles pré-fixados e NTNBs”, acrescenta.
Andrade, no entanto, ressalta que as oportunidades de investimento nesse momento dependem também do perfil do investidor e da avaliação do quanto de risco e volatilidade ele está disposto a encarar agora.
“Primeiro é preciso descobrir qual o seu perfil de investimento e qual é a sua necessidade de caixa. Se vai precisar do dinheiro amanhã ou se é um investimento de dois ou três anos”, afirma.
Entre os ativos mais arriscados, Andrade diz que a categoria começou a performar melhor neste ano. “Até então todo mundo só queria falar de bolsa lá fora e o que a gente está vendo esse ano é o contrário: a bolsa lá fora sofrendo todos os efeitos da economia guiada pelo novo governo Trump e a bolsa aqui, que era aquele patinho feio, rendendo por volta dos seus 10%”, diz.
Ele conta no podcast que é um movimento de rotação de dinheiro no mundo, que beneficia os mercados emergentes. “Acho que o pessoal está começando a tirar o dinheiro dos Estados Unidos e indo para outras geografias. O Brasil pode ser um beneficiado. Há risco aqui, mas para quem tem um horizonte um pouco mais de médio e longo prazo, pode ser uma boa”, afirma.
Andrade também fala de outras opções de investimentos em meio ao cenário atual e a possíveis surpresas que possam surgir na decisão do Copom.
Na última parte do episódio, ele e os apresentadores Vinícius Pinheiro e Julia Wiltgen elegem os touros e os ursos da semana. E aqui vai um spoiler: Weg (WEGE3), a queridinha dos investidores, ficou entre os ursos da semana. Do lado dos ursos, Warren Buffett, o Oráculo de Omaha, que anunciou sua aposentadoria no final de semana.
Confira o episódio completo do podcast Touros e Ursos desta semana:
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