Brasileiro gosta de investimento focado em renda. A meta de conseguir uma rentabilidade de 1% ao mês é o alvo de muitos investidores. Mesmo agora, com a Selic em 14,25%, o acumulado de um ano do CDI ainda não chegou lá: fechou em 11,13% em fevereiro e deve chegar nos 12% ao fim de março.
Embora muitos títulos de renda fixa acompanhem os juros, a rentabilidade desses papéis funciona como um conta-gotas, mês a mês o rendimento se acumula, de acordo com o retorno previsto no papel e o juros daquele momento.
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É possível chegar nos 14% da Selic? Sim. Mas para isso a carteira tem que olhar para títulos que paguem um pouco mais, afinal é preciso considerar os juros compostos e o Imposto de Renda.
Entre Tesouro Direto, CDBs, LCIs e LCAs, debêntures e demais títulos, saber em quais opções alocar o dinheiro e qual percentual da carteira dedicar a cada ativo pode ser uma missão complicada. Especialistas ouvidos pelo Seu Dinheiro fizeram suas recomendações para aproveitar a remuneração generosa dos juros sem correr mais riscos do que o necessário e, ainda assim, ter uma boa rentabilidade.
Antes, vale destacar que uma carteira conservadora também tem seus desafios. Embora ativos de renda fixa tenham menor risco do que os de renda variável, títulos públicos, de bancos e de empresas também têm variação de preço, oscilação de remuneração, estão sujeitos a eventos de crédito e a volatilidade dos indicadores macroeconômicos.
Por isso, na hora de selecionar quais papéis vão entrar na carteira, é importante ter em mente algumas considerações:
- Qual o objetivo para esse dinheiro?
- Qual o prazo de aplicação?
- São aportes para carregar até o vencimento ou ganhar com o preço dos títulos?
- Qual a tolerância a oscilações?
Cada uma dessas ponderações tem um peso na montagem da carteira e pode determinar quais títulos são mais indicados para o investidor — mesmo entre os conservadores, há aqueles mais dispostos a um pouco de risco e aqueles que não querem risco nenhum.
Colaboraram para esta matéria Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter, Antônio Sanches, analista de research da Rico, Larissa Quaresma, analista de investimentos da Empiricus e Humberto Vignatti, estrategista de Renda Fixa Brasil do Itaú Unibanco.
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Estratégia de alocação
A resposta mais recorrente quando se pergunta de uma carteira conservadora é: investe em renda fixa. Entretanto, renda fixa é um universo amplo, e a regra para toda e qualquer carteira de investimento é ser diversificada. Sendo assim, uma carteira conservadora de renda fixa também deve ter diversificação.
Essa diversificação pode ser no tipo de rentabilidade (pós fixada, prefixada e atrelada à inflação), nos emissores dos títulos (governo, bancos ou empresas) e nos tipos de ativos (Tesouro Direto, CDBs, LCIs e LCAs, CRIs e CRAs ou fundos).
Neste momento, em que a tendência ainda é de alta dos juros, os analistas são unânimes em uma estratégia de alocação: predominância em pós-fixados. Como esses títulos acompanham os juros para a remuneração, eles se tornam mais vantajosos.
Na sequência, a preferência é pelos títulos de inflação. Assim como os juros, neste momento a tendência também aponta para uma inflação acima da meta no Brasil neste e no próximo ano, de modo que os títulos que corrigem a inflação e ainda pagam um percentual fixo representam uma boa oportunidade de ganho real.
Os prefixados são indicados para uma exposição menor. Como a remuneração também está alta, na faixa dos 14%/ 15%, são considerados uma oportunidade de ganho, porém não no mesmo nível dos dois anteriores.
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Por fim vem uma novidade: a renda fixa internacional. Itaú, Rico, Empiricus e Inter indicam alguma exposição ao exterior mesmo na carteira conservadora. Humberto Vignatti, do Itaú, destaca que a correlação negativa entre os ativos brasileiros e os internacionais é uma oportunidade de ganho para a carteira. Além disso, ele afirma que a volatilidade e os riscos são minimizados em comparação com uma carteira 100% local.
Veja a recomendação de alocação para uma carteira conservadora:
Rentabilidade Renda Fixa | % conservador |
---|---|
Pós fixada + liquidez | 75% |
Prefixada | 5% |
Indexada à inflação | 15% |
Internacional | 5% |
Títulos públicos
Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ são unanimidade nas recomendações.
O Tesouro Selic é o título pós-fixado que acompanha os juros. A remuneração acompanha a Selic, com pouco ganho a mais (Tesouro Selic 2028: Selic + 0,0583%), mas é um título bom para ter liquidez e praticamente zero volatilidade.
Os analistas indicam optar pelos títulos de prazos mais curtos para acompanhar a alta dos juros e a estabilidade que deve vir na sequência. Se 75% da alocação é em pós-fixados, a parte correspondente ao título público não deve ultrapassar a metade desse total.
Já o Tesouro IPCA+ é uma opção de renda fixa atrelada à inflação. Neste caso, a oportunidade é vista mais no médio prazo, com títulos de até cinco anos.
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Os especialistas alertam que o Tesouro IPCA+ é um título com bastante volatilidade na sua marcação de preço. Os valores oscilam diariamente e acompanham as incertezas de indicadores econômicos. Por isso, não se recomenda a exposição a vencimentos muito longos, pois quanto maior o prazo do papel, maior sua volatilidade.
Outro detalhe é que a recomendação é que se leve o título até o vencimento. Dessa forma, as oscilações de preço não afetam a rentabilidade da carteira e o investidor consegue captar 100% do ganho previsto no título. O Tesouro IPCA+ 2029 (IPCA + 7,95%) é a principal escolha dos analistas.
Título | Indexador |
---|---|
Tesouro Selic 2028 | Selic + valor fixo |
Tesouro IPCA+ 2029 | IPCA + 7,95% |
Títulos privados bancários
CDBs são o principal destaque entre as recomendações bancárias. Os papéis são principalmente pós-fixados (com pagamento de um percentual do CDI) ou prefixados.
Para a escolha, os analistas fazem duas ponderações. A primeira é em relação ao emissor: títulos de bancos grandes, reconhecidos e seguros devem ser priorizados. É comum que bancos menores e mais arriscados paguem mais, mas se o objetivo é uma carteira mais conservadora, esse risco deve ser mitigado.
Para os CDBs prefixados, a remuneração alvo deve ficar entre 14,5% e 16% para conseguir um bom retorno, considerando o Imposto de Renda. Já no caso dos pós-fixados, entre 100% e 105% do CDI, é possível conseguir títulos de bons emissores.
Além dos CDBs, as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA) também são recomendadas para a carteira conservadora. Esses títulos são isentos de Imposto de Renda e podem melhorar a rentabilidade total da carteira, além de diminuírem a volatilidade por não ter marcação de preço a mercado.
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A rentabilidade alvo é de a partir de 86% do CDI — um percentual que cobre a dedução de IR dos CDBs e ainda pode pagar um pouco a mais.
Tanto os CDBs, como as LCIs e LCAs contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investimentos de até R$ 250 mil, por instituição financeira, por CPF. Um diferencial que é destacado pelos analistas como proteção. Veja algumas recomendações:
Título | Indexador | Rentabilidade |
---|---|---|
CDB Banco BMG | % do CDI | 103,0% do CDI |
CDB Banco C6 | Prefixado | 14,95% |
LCA Fibra | Prefixado | 13,65% |
LCI ABC Brasil | % do CDI | 95,5% do CDI |
Crédito de empresas
Restam as debêntures, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRA). Para essa parcela, os analistas ponderam que é indicado evitar uma exposição superior a 5% em um único emissor e 20% no total da carteira.
Antônio Sanches, do Inter, avalia que, como os títulos de crédito privado costumam ter um valor de aporte inicial mínimo de R$ 5 mil, em média, e prazos muito longos de vencimento, investir diretamente pode elevar muito o risco da carteira. “Ao optar por fundos, a exposição é mais diluída pela quantidade de títulos, o que diminui o risco. É uma opção mais recomendável.”
Os analistas indicam fundos de renda fixa de crédito privado que não tenham liquidez imediata e que optem por empresas com grau de investimento. Há fundos que investem apenas em ativos isentos de Imposto de Renda, como as debêntures incentivadas, e que também são isentos.
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Caso a opção seja por investir nos títulos diretamente, algumas recomendações são optar por empresas consolidadas e de setores mais conservadores, como saneamento básico, transporte e energia; verificar a classificação de risco dos títulos, para se manter nos níveis AAA até A-; e tentar olhar para vencimentos menores, entre cinco e sete anos.
Título | Indexador | Rentabilidade |
---|---|---|
CRA São Martinho | % do CDI | 96% do CDI |
Debênture Localiza | IPCA+ | IPCA+ 9,05% |
Debênture Equatorial | IPCA+ | IPCA+ 7,25% |
É preciso manter em mente, porém, que títulos de crédito privado como CRIs, CRAs e debêntures, embora contem com garantias, não têm a proteção do FGC. Isso significa que o investidor fica exposto ao risco de inadimplência do emissor. Assim, se a empresa que emitiu o papel quebrar, o investidor pode ficar sem receber.
- Por isso, se você se considera um investidor extremamente conservador, talvez seja melhor não investir neste tipo de título, e se manter nos títulos públicos e papéis bancários.
Exposição internacional
A parcela internacional na carteira conservadora é uma novidade, porém já se mostra uma tendência. Anos atrás, essa recomendação não seria possível para o público geral, visto a dificuldade de se investir no exterior a partir do Brasil. Atualmente, as diversas contas internacionais que operam no país permitem a aplicação direta em ações e títulos dos Estados Unidos.
Os especialistas ouvidos pelo Seu Dinheiro destacam que essa exposição a uma moeda forte e a uma economia descorrelacionada do Brasil agrega proteção contra a inflação e diminui a volatilidade e o risco da carteira. Não é raro que, quando o dólar está em alta, os juros e ativos brasileiros estejam em baixa — essa descorrelação pode gerar um ganho adicional.
Cinco por cento para o mais conservador a 10% para o mais ousado: essa é a parcela indicada de renda fixa internacional na carteira. Entre os ativos, a preferência é pelos ETFs de renda fixa internacional, sejam os que investem apenas em Treasuries (títulos do governo norte-americano) sejam os que investem em Treasuries e crédito privado — desde que sejam títulos com grau de investimento e baixo risco.
Dois exemplos de ETFs que investem em títulos do governo norte-americano são o iShares 1-3 Year Treasury Bond ETF (SHY) e o Vanguard Intermediate-Term Treasury ETF (VGIT). Já ETFs que investem em crédito de empresas e Treasuries são o iShares 1-5 Year Investment Grade Corporate Bond ETF (IGSB) e o Schwab 5-10 Year Corporate Bond ETF (SCHI).
A carteira conservadora pode bater o CDI?
De modo geral, o objetivo de uma carteira conservadora gira em torno de CDI+ 1,00% ou 2,00%. Como o seu foco é voltado para proteção patrimonial do que ganho de capital, é mais difícil superar o benchmark com folga.
Em 2024, o CDI fechou com um acumulado de 10,88%. A taxa de referência para investimentos no Brasil acompanhou a oscilação dos juros básicos, que variou entre uma mínima de 10,50% e máxima de 12,25% no ano.
Para este ano, a Selic deve se manter em faixas maiores, entre 13,25% e 15%, de modo que o CDI também deve ser maior. Ou seja, se o retorno alvo das carteiras conservadoras no ano passado ficou na faixa de 12% a 13%, para este ano pode-se esperar algo na faixa de 14% e 15%.
Entretanto, é preciso focar em rentabilidades um pouco maiores para bater essa meta. Os fundos de crédito, a exposição à renda fixa internacional e os títulos isentos são os “coringas” que podem ajudar nesse retorno, segundo os especialistas.
Porém, Larissa Quaresma, da Empiricus, afirma que o mais importante é confiar no portfólio e não desviar da estratégia montada.
“Podem e devem ser feitos balanceamentos mensais, mas com o objetivo de colocar um pouco mais de dinheiro aqui ou ali, não mudar os fundamentos. A carteira depois de idealizada e montada deve ser mantida para o médio longo prazo, ou corre o risco de perder todos os potenciais ganhos com um resgate por impulso na hora errada”, diz.
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