A confirmação do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul (RS) acendeu o sinal de alerta entre os avicultores do Distrito Federal. Diante da ameaça do vírus tipo Influenza A (H5N1), produtores da região intensificaram as medidas sanitárias para proteger seus plantéis e evitar a disseminação da doença no centro do país.
A preocupação aumentou ainda mais após a suspeita de casos no Zoológico de Brasília, onde duas aves silvestres — um pombo e um irerê — foram encontradas mortas na quarta-feira (28/5). Os animais não faziam parte do plantel do parque, mas, como medida preventiva, o local foi fechado temporariamente enquanto as autoridades investigam as causas das mortes.
A avicultura é uma das principais atividades agropecuárias do DF, ao lado da produção de grãos. A capital abriga 184 granjas e cerca de 10 milhões de aves alojadas. Só em 2024, esse setor movimentou cerca de R$ 1 bilhão e gerou aproximadamente 5 mil empregos.
Para evitar a disseminação da doença nesses locais, a detecção em aves silvestres ou de produção exige resposta rápida. Diante dessa preocupação, o governo brasileiro reforçou as ações de monitoramento em todo o território nacional, especialmente em regiões com presença de aves migratórias ou criadouros comerciais.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) enfatiza que o vírus não é transmitido pelo consumo de aves ou ovos e que não há necessidade de restringir esses alimentos. O risco só existe para quem tem contato direto com aves doentes. E, mesmo assim, o risco de transmissão para humanos é considerado muito baixo.
No Distrito Federal, o governo local prorrogou por 630 dias a situação de emergência zoossanitária devido à gripe aviária. A medida foi decretada em 2023 e vem sendo prorrogada desde então. A situação de emergência busca intensificar as ações de prevenção da ocorrência da influenza aviária de “alta patogenicidade na capital do país”, segundo a Secretaria de Agricultura (Seagri).
Além disso, a Seagri decidiu suspender, por 90 dias, qualquer evento que reúna aves na capital do país. A medida foi publicada na Portaria nº 176, de 16 de maio de 2025.
Gema do Cerrado
Desde 2017, um grupo de primos mantém o funcionamento da granja Gema do Cerrado, localizada no Núcleo Rural Monjolinho, em Ceilândia. O foco principal do negócio é o comércio de ovos caipiras.
A granja atua principalmente no atacado e no sistema de delivery, com entregas regulares por todo o Distrito Federal, especialmente na área central de Brasília. Com quase 3 mil galinhas à disposição, a produção diária varia entre 1,8 mil e 2 mil ovos.
A propriedade recebe visitantes e estudantes de medicina veterinária, mantendo uma parceria com a Emater e sendo considerada uma “granja modelo”. No entanto, há mais de um mês, as visitas foram suspensas como medida de prevenção sanitária à gripe aviária.
“A preocupação é grande, pois a perda de um lote inteiro de aves por contaminação seria devastadora. Embora as galinhas caipiras sejam mais resistentes do que as criadas exclusivamente em confinamento, o cuidado com o trânsito de pessoas e a orientação técnica contínua são essenciais”, reforça Ney Fábio Borges dos Santos, um dos sócios da granja.
A granja funciona com o apoio de dois funcionários, responsáveis pelas atividades diárias como alimentação das aves, coleta de ovos, reposição de ração e limpeza.
Diante do foco do H5N1 em uma granja comercial no RS, a Gema do Cerrado também confinou as aves em dois galpões para que evitem contato com outros animais, principalmente aves silvestres, que podem transmitir o vírus.
“Antes, as galinhas ficavam soltas, pastando em uma área externa, cercada por piquetes. Porém, seguindo as orientações sanitárias, nós prendemos elas em galpões, e estamos fornecendo o verde dentro desses espaços. E, agora, estamos esperando passar esse período para que possamos soltá-las novamente no ar livre”, detalha o sócio.
Segundo Ney, a preocupação com o manejo das aves também é transmita para os clientes. “Passamos tranquilidade para os consumidores, do cuidado que estamos tendo com a higienização e em seguir todos os protocolos, por isso estamos nos antecipando, mesmo que o foco da doença esteja distante da granja”, salienta.
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Ney Fábio Borges dos Santos, um dos sócios da granja Gema do Cerrado
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Granja fica localizada no Núcleo Rural Monjolinho, em Ceilândia
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O local possui quase 3 mil galinhas
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Granja está em funcionamento desde 2017
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O foco principal do negócio é o comércio de ovos caipiras
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A produção diária da granja varia entre 1,8 mil e 2 mil ovos
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A granja é acompanhada pela Emater e pela Seagri
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A avicultura é uma das principais atividades agropecuárias do DF
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A granja atua principalmente no atacado e no sistema de delivery
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As galinhas caipiras, que são criadas pastando durante o dia, passaram a ficar dentro do galpão integralmente
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Granja adotou procedimentos preventivos para mitigar risco de contaminação por gripe aviária
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O estabelecimento também proibiu a visitação no local
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Granja Tia Malu
A Granja Tia Malu, localizada na Candangolândia, também redobrou os cuidados os cuidados com o manejo das aves. Entre as práticas implementadas estão o uso de cal virgem em todas as entradas e saídas, equipamentos de proteção como luvas e máscaras, controle de pragas com aplicação de veneno em áreas seguras e tela de proteção nos galpões para evitar o acesso de animais silvestres.
“Uma das medidas foi a retirada de bebedouros e comedouros do pasto, limitando o acesso das aves à alimentação apenas dentro do galpão — uma precaução essencial, considerando o risco de contaminação por aves migratórias. Além disso, foram removidos ninhos de pássaros próximos à área de criação e restringido o acesso de visitantes que não trabalham diretamente com os animais”, informou a granja.
Com um plantel atual de 2 mil galinhas em diferentes fases de postura e 900 pintainhas, a granja alcança uma produção média de 900 ovos por dia, todos provenientes de um sistema 100% caipira.
Além do compromisso com uma criação ética, a Granja Tia Malu também se destaca pelas rigorosas medidas de biossegurança adotadas, garantindo a proteção do plantel e a qualidade dos produtos.
Cuidados com as aves
A Seagri conta com um Plano Integrado de Emergência para a Influenza Aviária, que tem como objetivo estabelecer diretrizes para a atuação coordenada de todos os envolvidos na resposta a uma eventual ocorrência de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em aves. O plano abrange desde a identificação de uma suspeita até a recuperação da condição sanitária e a retomada das atividades agropecuárias no Distrito Federal, caso a presença da doença seja confirmada.
As medidas adotadas diante de um foco de Influenza Aviária variam conforme o cenário epidemiológico e o risco de propagação. Em casos envolvendo aves silvestres, o plano do Mapa recomenda evitar interdições, priorizando o reforço da biossegurança nas criações comerciais e ações de educação sanitária.
No entanto, se o foco ocorrer em locais com grande circulação de pessoas, como parques ou zoológicos, pode representar risco à saúde pública. Nesses casos, o Plano prevê a análise criteriosa de restrições e interdições para conter o vírus, proteger a avicultura e minimizar impactos ambientais.
“O principal risco de introdução da doença no DF é, atualmente, por aves silvestres que passam por rotas e sítios migratórios nacionais onde a doença já foi detectada. Portanto, todo o território distrital, especialmente as áreas de aguadas e parques, apresentam alto risco para entrada da doença”, destaca a pasta.
“Assim, é importante a sensibilização de toda população para reconhecimento dos sinais clínicos em animais e notificação imediata bem como o fortalecimento do serviço de defesa agropecuária do Distrito Federal para detecção precoce e adoção de medidas de controle efetivas para prevenir a disseminação”, complementa.
Uma das principais orientações da Seagri-DF, por meio da subsecretária de Defesa Animal, Danielle Kalkmann, é que os criadores deixem as aves sempre protegidas, sem contato com áreas abertas ou outros animais, principalmente aves silvestres, que podem trazer o vírus.
“A avicultura (criação de aves) no DF é muito importante, tanto para quem vive da venda de ovos e de aves ornamentais quanto para quem cria para consumo próprio. Só em 2024, esse setor movimentou cerca de R$ 1 bilhão e gerou aproximadamente 5 mil empregos. Por isso, manter as granjas livres da gripe aviária é essencial para proteger a economia, a saúde dos animais e também a segurança dos alimentos”, declara.
Avicultura no DF
- Por dia, são abatidos aproximadamente 260 mil frangos em dois grandes abatedouros no DF.
- A maior parte da produção é exportada para países como Arábia Saudita, Japão, Rússia e México.
- A produção diária de ovos gira em torno de 360 mil unidades.
- Somente em 2023, o setor de frango de corte foi o destaque da pecuária local, responsável por um faturamento bruto superior a R$ 1 bilhão.
- A cadeia produtiva avícola emprega diretamente cerca de 5 mil pessoas e contribui com aproximadamente 200 mil toneladas de carne por ano.
Suspeita de casos no zoo
Fechado temporariamente desde quarta-feira (28/5) para visitas após a suspeita de gripe aviária, o Zoológico de Brasília instaurou protocolos de segurança sanitária no local.
A medida foi adotada como forma de precaução após duas aves serem encontradas mortas com suspeita de gripe aviária. Todos os veículos que precisam entrar ou sair do local estão sendo higienizados.
A Seagri começou uma operação de inspeção nas propriedades rurais dentro de um raio de 3 km ao redor do parque.
Segundo a secretaria, “as equipes técnicas estão verificando a saúde dos animais e orientando os produtores sobre sinais clínicos compatíveis com doenças aviárias, além de reforçar a importância da notificação imediata em caso de algum sinal suspeito”.
De acordo com a Seagri, além das visitas às propriedades, estão sendo inspecionadas lojas que comercializam aves vivas. “A operação também inclui o uso de drones para sobrevoos em unidades de conservação, incluindo o próprio Zoológico e o Jardim Botânico, com o objetivo de identificar possíveis animais com sintomas”, informou.
A Seagri ressaltou que, até o momento, não há motivo para alarme, pois não há confirmação da doença. Ainda assim, a secretaria recomenda que a população evite manusear aves doentes e comunique caso identifique qualquer comportamento anormal nos animais.
Gripe aviária no Brasil
- O Brasil está investigando 11 casos suspeitos de gripe aviária, de acordo com o balanço mais recente divulgado nessa terça-feira (27/5) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
- Segundo o Mapa, está sendo investigada uma nova suspeita de gripe aviária no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, que detectou o primeiro caso da doença em uma granja comercial no Brasil.
- As autoridades brasileiras também investigam casos suspeitos em aves silvestres nas cidades de Ilhéus (BA), Icapuí (CE) e Armação dos Búzios (RJ).
- O governo de Minas Gerais informou que há um foco de gripe aviária na região metropolitana de Belo Horizonte. O caso foi registrado em aves ornamentais, especificamente em cisnes-negros criados em um sítio na cidade de Mateus Leme.