Não é exagero dizer que o Coala Festival, um evento voltado à música brasileira que existe desde 2014, nasceu robusto desde a primeira edição: seu primeiro line-up trazia Tom Zé, Criolo, 5 a Seco e outros nomes que reverberam até hoje na música brasileira. Dali em diante, consolidou-se como um festival dos mais aguardados em São Paulo ano a ano. A melhor edição, diz-se, é sempre a próxima.
E isso tem a ver com a expertise do produtor curador e sócio-fundador Gabriel Andrade, que antes de criar esse ecossistema, trabalhou no Facebook. Foi de frente com o conceito de um produto Beta que ele reimaginou o formato para um festival que nunca chega à versão final.

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A nova chance de provar isso acontece neste fim de semana, com a segunda edição do Coala Festival Portugal. Após levar Gilberto Gil, Jorge Ben Jon, BaianaSystem e mais para lá em 2024, o festival regressa estendido, com Ney Matogrosso, Liniker, Timbalada, BK, Criolo novamente, e mais de 30 outras atrações nos dias 31 de maio e 1º de junho, em Cascais (vila da sub-região da Área Metropolitana de Lisboa), no Hipódromo Manuel Possolo.
Foi da capital lusa que Gabriel atendeu o Seu Dinheiro para falar sobre o evento, momentos antes de se embrenhar nesta nova edição além-mar, que une diversas gerações de vozes da música brasileira a artistas portugueses e alguns representantes da música afro lusófona (quem têm origem africana e que falam ou têm a língua portuguesa como língua materna ou língua de referência).
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O palco da música em português
Natural de São José do Rio Pardo, cidade interiorana de São Paulo, Gabriel hoje tem mais de uma década de experiência como produtor na indústria musical. Acontece que esta é sua única experiência no ofício – sim, incrível, mas o Coala Festival é a sua primeira empreitada no setor.
Antes de se embrenhar pelos bastidores, Gabriel estava na pista. Literalmente: “Sempre fui um entusiasta, frequentava muitas casas de show com os amigos. Um dia, soube que o Studio SP ia fechar, um lugar que ia quase todas as terças-feiras há anos. São Paulo já tinha uma cena pequena de lugares de música brasileira e a única casa que olhava para essa cena ia fechar. Precisava fazer alguma coisa”.
Gabriel até tentou, mas não conseguiu salvar o saudoso Studio SP, que fechou as portas em 2013. Mas a faísca estava acesa. Sem expertise, recorreu a amigos da área para se informar. Junto à inquietude de produtores musicais, Gabriel e a sócia, Fernanda Pereira, ergueriam o novo festival brasileiro no ano seguinte.
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Nos 10 anos que sucederam 2014, o Coala retornou em uma crescente, endossado por nomes como Caetano Veloso, Marcelo D2, Emicida, Karol Conká, Tulipa Ruiz, Mano Brown, Baco Exu do Blues, Duda Beat, Djonga, Maria Bethânia, Djavan, Olodum, Fafá de Belém, Lulu Santos, Os Paralamas do Sucesso e mais. Em 2022 foi também palco da última apresentação de Gal Costa.
Quando chegou a hora de expandir os horizontes, em 2024, o Coala olhou além. Mais especificamente para Portugal, um mercado novo e inexplorado, que precisou de uma reorganização geral da equipe.
“Assim como no Brasil, demoramos cerca de dois anos para realizar a primeira edição em Portugal. Aqui também foi um processo que levou mais ou menos um ano e meio entre a gente vir para cá estudar o mercado, fazer as conexões que precisávamos, para só então tomar a decisão, bater o martelo de realmente trazer o festival para cá.”
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A decisão de cruzar o Atlântico passava, necessariamente, pela escolha do line-up. ”Uma das premissas foi que, se íamos fazer uma edição nacional, teríamos que chegar com um pé na porta, né?!” A solução foi usar o festival como plataforma para ampliar a curadoria da música em língua portuguesa, algo que se repete nessa segunda edição.
Com ainda mais artistas portugueses e africanos em todos os palcos, o Coala Portugal 2025 “é uma mistura de artistas de música tradicional e de vanguarda”, diz o criador. “Tem também palco de música eletrônica, que fez muito sucesso na edição de estreia.”
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Do zero ao dez
O modelo de negócio para a realização de um festival em Portugal, especialmente em Cascais, é ponto chave para entender a dimensão do Coala, que atraiu 20 mil pessoas na estreia por lá.
“A Fernanda [Pereira, sócia], passou seis meses morando em Portugal aqui por volta de 2022 para entender onde os eventos legais aconteciam nessa região e como – muitos acontecem com apoio de Câmaras, que são como as prefeituras no Brasil. A Câmara de Cascais é uma que incentiva a cultura e o turismo. Então houve uma abertura mais fácil com eles”, relembra Gabriel.
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Nessa segunda edição, o festival atraiu mais media partners e dez marcas patrocinadoras, o dobro da edição de estreia, em 2024. Um desafio superado e que permitiu a própria ampliação da proposta original, em um local onde a cultura do patrocínio é bem diferente do que acontece no Brasil:
“Eles demoram mais para, vamos dizer assim, ‘botar fé nas coisas’. Por mais que a gente tenha a história do Coala no Brasil, chegamos [aqui] do zero. Mas tudo isso possibilitou, por exemplo, aumentar a programação do palco principal e a estrutura para atender o palco eletrônico.”
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A expectativa, naturalmente, é que esse crescimento se reflita também na venda de tíquetes para o evento. Mas não somente. Entre os objetivos de Andrade entra o poder de conexão entre Brasil e Portugal viabilizado pelo festival:
“Uma coisa que já acontece é o fato desses artistas se encontrarem aqui pessoalmente. Isso muda tudo. Às vezes os caras se encontram no backstage e ficam amigos, o que aumenta a possibilidade de colaborações. Isso está rolando, por exemplo, com o Dino D’Santiago, um famoso músico português está gravando um disco com vários feats de artistas brasileiros.”

A playlist de quem faz
Pessoalmente, Gabriel recorda a surpresa da primeira edição com o show de Carminho, artista portuguesa de renome, conhecida por sua habilidade em interpretar o fado e por sua versatilidade musical. “Nunca tinha visto ela ao vivo e acho que foi um dos shows mais bonitos que eu já vi, muito chique, muito simples e potente. Ela foi devagarinho, conquistando o público e terminou com o festival completamente em silêncio, ouvindo ela cantando. Foi marcante.”
Entre alguns dos shows mais esperados por ele no segundo Coala Festival Portugal está a reedição do espetáculo que une Timbalada e Afrocidade. A combinação de sons da música afro-baiana contemporânea fez o encontro ser um dos shows mais elogiados da 10ª edição do festival no Brasil, realizada em setembro de 2024.

Outro, é o retorno de Ney Matogrosso a Portugal. Por um feliz coincidência, o show em Cascais acontece em meio à tremenda repercussão positiva do filme Homem com H, de Esmir Filho, a belíssima e potente cinebiografia do artista. “É um casamento muito legal do festival ser logo depois do lançamento do filme”, completa Andrade.
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O Coala Festival Portugal 2025 acontece nos dias 31 de maio e 1 de junho de 2025 (sábado e domingo), no Hipódromo Manuel Possolo (Avenida da República, 371 – Cascais/Portugal).
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