Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e um dos maiores caciques do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) criticou as medidas econômicas adotadas pelo atual governo e afirmou que espera que o PP, partido presidido por ele, deixe de vez a base do presidente Lula nas próximas eleições.
Em entrevista exclusiva à coluna nesta quarta-feira (30/4), Ciro disse “achar difícil” que o atual chefe do Palácio do Planalto consiga reverter sua queda de popularidade. Para o senador, petista está “sem sintonia com a sociedade”.
Veja o vídeo da entrevista:
“É um governo ultrapassado. O Lula não está em sintonia com o seu tempo. É um homem isolado, que não foi capaz de dialogar com a sociedade. O Lula não tem um celular. Uma pessoa que não tem um celular só vê o que lhe mostram. É uma pessoa que não tem sintonia com a sociedade. Um homem que não foi capaz de compreender o novo momento que o país vive”, afirmou o senador à coluna.
Ainda de acordo com Nogueira, o chefe do Palácio do Planalto não consegue, hoje, sequer dialogar dialogar com uma fatia do seu próprio eleitorado, como os trabalhadores por aplicativo.
“Hoje, o primeiro emprego das pessoas é trabalhar no Uber, trabalhar como entregador e tal. O Lula pensou em quê? em sindicalizar essas pessoas. Eu vi uma pesquisa outro dia que as pessoas dizem ‘não, o Lula não sabe o que é que eu faço’. Então, ele é um homem completamente ultrapassado e isolado hoje. É um homem fora do tempo. Nós temos um Lula analógico com o tempo digital”, completou o senador.
Confira a entrevista na íntegra:
Senador, como o senhor apresentaria essa nova mega federação para o eleitor, que vê juntos, o senhor, ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que virou um grande interlocutor do governo, e dois partidos com quatro ministérios do governo Lula?
São líderes políticos do país que têm uma identidade de bandeiras, de defesas de causas que vão fazer nosso país crescer. Eu vejo essa federação como uma grande bússola para o país. Uma bússola política. O Brasil foi feito de grandes ciclos políticos. O ciclo do PDS no passado, depois veio o ciclo do MDB, depois o ciclo do PSDB com Fernando Henrique. E eu acho que agora está se encerrando o ciclo do PT, com o presidente Lula. E nas eleições passadas de 2024, o Brasil mandou um grande recado de apoio ao centro no nosso país. Acho que 80% dos prefeitos eleitos no país, vereadores, têm um perfil de centro. Que é o perfil do nosso partido. Lógico também de outros partidos como PSD, MDB. O próprio Republicanos. Mas acho que essa federação deu um salto de união. Um salto, mesmo com várias divergências como você citou aqui, fomos capazes de criar um consenso que é chegado momento de trabalharmos pelo país, trabalharmos por o que produz, o que empreende, tirar as amarras do crescimento do nosso país. O Brasil cresceu nos últimos 40 anos em torno de 170%, mas nós tivemos países aí como China que cresceu 3000%, Índia que cresceu 1000%. E eu acho que temos que fazer algo diferente do que está hoje na política brasileira e essa federação se propõe a isso.
A nova federação é a mais forte do Congresso Nacional. São 109 parlamentares, 14 senadores, mais de 1,3 mil prefeitos e seis governadores. O senhor acha que o governo Lula tem que ter medo dessa federação?
Não, ele não tem que ter medo. Mas eu vejo essa federação como um grande dique de proteção à sociedade das medidas que esse governo, que está com baixa popularidade e está caindo cada vez mais, perdendo a identidade com as ruas, pode vir a tomar, que possam vir prejudicar o país. Essa federação, ela não é de apoio ao governo. Mas também não vai ser contra o Brasil. Todas as medidas que forem apresentadas pelo governo que possam fazer que as pessoas sintam confiança na política econômica do governo, vão contar com nosso apoio. Mas todas as medidas que vierem, principalmente com viés de arrecadação, de criar mais tributos, aumentar a carga tributária do nosso país, criar mais problemas para o país crescer, contarão com a oposição sistemática da federação.
O senhor falou de ciclos e citou o MDB, que foi um dos grandes bastiões do que a gente chama do presidencialismo de coalizão. A ideia da federação para os próximos anos é ser mais ou menos isso, um fiador do presidencialismo de coalizão? E o que precisa para o próximo presidente da República ter essa essa base para conseguir governabilidade, que hoje só entregando ministérios não está conseguindo. E com as emendas parlamentares também parecem não ser suficientes para garantir uma base congressual.
Olha, nós vamos agora focar na questão da fazer o estatuto da federação. Depois, temos que convocar as convenções para aprovar este estatuto, aprovar a própria federação. Vencida essa data, nós vamos temos que urgentemente discutir a participação desses, mesmo que não sendo o partido que indicou, mas cria um constrangimento termos um ministro neste governo que nós não apoiamos. Pelo que eu vi do Progressista, 80% a 90% da nossa bancada, principalmente dos nossos eleitores, dos nossos filiados, tem um viés de oposição, não tem identificação nenhuma com esse governo. Então, cria um constrangimento termos ministros nesse governo. Como eu sinto isso também no próprio União Brasil. Então, é uma discussão que irá acontecer depois das convenções, essa saída do governo. Eu espero que aconteça. Por mim, meu partido nem teria entrado com nenhum indicado. Mas é uma discussão. Mas isso não vai querer dizer que vai mudar a votação dos deputados. Porque desde a chegada do presidente Bolsonaro ao poder, acabou muito esse “toma lá da cá” de ministérios. O próprio Congresso também ficou muito empoderado a respeito da questão de recursos. E eu acho isso muito salutar para a democracia. O que acontecia na prática é que, antigamente, você trocava cargos ou verbos por apoio político, mesmo que esse apoio político não tivesse identificação com o seu eleitor. Isso é muito ruim para democracia, muito ruim para a política brasileiro.
Então, com os ministérios não bastam.
O próximo presidente da República deve pegar o União Progressista como grande partido no Congresso Nacional. Só as emendas vão bastar para ter essa relação bastante “azeitada” entre Executivo e Congresso? Qual que é o futuro dessa relação?
Tem que ter identificação nos projetos. Por que não dá errado nesse governo? Porque nós não temos identificação nenhuma com essas políticas que o governo Lula quer. Aumento de Estado, esse assalto às nossas estatais, aumento de carga tributária. Isto é tudo aquilo que é contrário que nós defendemos nas eleições. Que os nossos deputados defenderam, os nossos senadores defenderam, os nossos governadores defenderam. É por isso que não tem essa identificação. Antigamente, funcionava muito porque as pessoas nem se lembravam quem era o deputado que tinham votado. Hoje, na hora que você vota uma matéria, no minuto seguinte os seus eleitores estão ali. Te cobrando, te apoiando ou te criticando. E é uma nova forma que eu acho muito mais consistente que as pessoas prestam conta do seu mandato, não só nas eleições, mas no dia a dia da sua atuação no Congresso Nacional. Então, como um político que tem um perfil de centro de direita, vai apoiar um um um partido do da esquerda, como é o Partido dos Trabalhadores? O eleitor desse político não aceita e fatalmente isso vai acontecer cada vez com uma maior força, graças a Deus.
Senador, em alguns estados, a federação gerou algumas divergências. Bahia, Acre, Pernambuco, são alguns desses exemplos de estados. Vocês vão tentar conversar com esses parlamentares que estão insatisfeitos e mais, vocês vão tentar trazer mais partidos para essa federação?
Primeiro, nós temos que dialogar bastante. Uma federação com 100 deputados, vamos chegar agora a 114 deputados com a filiação de alguns. Se abrirmos a janela hoje, nós chegaríamos perto de 150 deputados. Então, tem que ter muito diálogo e fazer um projeto consistente nesses estados. Sem que seja personalista, que não sejam projetos individuais. Pensando mais no crescimento da federação. Para que a gente possa ter pessoas que possam encampar projetos, que não seja para eleger um deputado. Mas sim para eleger um quadro político de governador, de senador, de deputados federais nessa eleição. Isso é muito importante. O fundamental de uma federação é que projetos individuais tem de ser deixados de lado pensando mais no projeto coletivo de partido ou de federação.
E no caso dos deputados, por exemplo, que ameaçam sair dos respectivos partidos, ou da União ou do PP, como é que está sendo essa conversa?
Acho que tem muito pouco. No Progressista até hoje não vi nenhum parlamentar manifestando desejo de sair. Na União ainda não sei. Mas vou lhe ser franco, hoje o movimento é muito mais de entrar na federação do que sair. Vocês vão poder comprovar quando abrir a janela partidária.
O senhor já deixou claro em várias entrevistas que o seu candidato é o presidente Jair Bolsonaro. Mas o cenário hoje é que Bolsonaro está inelegível. Diante disso, a gente tem duas opções na direita: a primeira, que está sendo capitaneada nos bastidores pelo ex-presidente Michel Temer, de unir todos os grandes governadores de direita do país. Do outro lado, o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista para à coluna, ele já deixou claro que talvez a preferência dele fosse por um familiar. Dentro desses dois cenários, qual lado o senhor fica mais confortável em apoiar?
Eu agora não já não falo mais como presidente do Progressista ou líder da federação, falo como pessoa física. Eu vou apoiar o presidente Bolsonaro até o fim. Lutarei pelo candidato que ele apoiar. Lógico que eu vou tentar interferir, caso ele não seja candidato, na escolha desse candidato que ele irá apoiar. E aí nós temos diversos nomes. Eu defendo também que nós podemos aglutinar tanto essa intenção do ex-presidente Temer e aglutinar os os governadores, que eu acho que isso é fundamental para uma vitória nas urnas, como o apoio do presidente Bolsonaro. Isso não são opostos. Acho que tem mais sintonia para convergir do que para divergir. Nós vamos trabalhar até o fim, porque se isso acontecer, fatalmente nos levará à vitória nas eleições de 2026.
O senhor tende, então, a apoiar o candidato que o ex-presidente Jair Bolsonaro escolheu. É isso?
Exatamente. Mas eu vou trabalhar muito para que ele faça uma boa escolha.
Uma boa escolha seria um familiar, como ele deseja? Cai bem para a direita apoiar um familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro? Ou eles podem estar juntos, mas não necessariamente como um cabeça de chapa.
Eu acho que tudo pode acontecer, porque nós temos na política brasileira dois grandes líderes. Tanto o Lula sendo candidato ou apoiando um candidato, quanto Bolsonaro sendo candidato ou apoiando um candidato, esses dois candidatos estão no segundo turno. Não tem como fugir disso, não dá para ter terceira via. Mas nós temos que construir. Agora, esse candidato tem que ter viabilidade. Eu acho que um um familiar do presidente Bolsonaro tem total viabilidade se ele tiver um discurso mais ao centro. Se ele se isolar na direita, não vai ser eleito.
Extrema direita difícil?
Não, não vem. Tem que vir mais para o centro. Hoje nosso eleitorado é 30% na direita, 30% na esquerda e 40% no centro. O Lula ganhou a eleição passada, porque fez um discurso mais para o centro. Apesar de ter errado e ir para a esquerda quando ganhou a eleição. Graças a Deus que ele fez isso. Mas se nós tivermos um familiar, tem de vir com um discurso mais para o centro. Mas não eu não vejo como impossível o presidente Bolsonaro apoiar um nome de um governador. Caiado, Tarcísio, Zema, Ratinho Júnior, Teresa Cristina (…) Qualquer desses nomes seriam altamente viáveis para ganhar a eleição se tiverem o apoio do presidente Bolsonaro.
Então, o governador de Goiás que já, inclusive, lançou a sua pré-candidatura, não seria um problema?
Não, eu acho que o Caiado, se eu deixei bem claro, é mais do que legítimo o Caiado colocar o seu nome, é um grande quadro. Foi, talvez, o melhor governador da história de Goiás. Tem um discurso muito forte naquele que, para mim, vai ser o tema da próxima eleição, que é a questão da segurança. Então, ele tem tudo. Agora tem que se viabilizar. Ele não vai ser candidato só porque lançou primeiro. Vai ser candidato se tiver viabilidade eleitoral e eu acho que se tentar aglutinar um apoio do presidente Bolsonaro, há uma série de situações que podem acontecer. Isso depende muito mais do Caiado, do eleitor do que de mim.
O senhor é um político experiente, foi ministro da Casa Civil e é um crítico às medidas do governo Lula, especialmente as econômicas. Como o senhor disse, as pesquisas mostram que o governo está com uma queda de popularidade. Onde é que você vê o maior erro do governo Lula hoje?
Olhar para o retrovisor o tempo todo. É um governo ultrapassado. O Lula não está em sintonia com o seu tempo. É um homem isolado, que não foi capaz de dialogar com a sociedade. O Lula não tem um celular. Uma pessoa que não tem um celular, só vê o que te mostra. É uma pessoa que não tem sintonia com a sociedade. Um homem que não foi capaz de compreender o novo momento que o país vê. Vou dar um exemplo claro: hoje, o primeiro emprego das pessoas é trabalhar no Uber, trabalhar como entregador e tal. O Lula pensou em quê? em sindicalizar essas pessoas. Eu vi uma pesquisa outro dia que as pessoas dizem “não, o Lula não sabe o que é que eu faço”. Então, ele é um homem completamente ultrapassado e isolado hoje. É um homem fora do tempo. Nós temos um Lula analógico com o tempo digital. Então, é isso que aconteceu. Eu acho que o grande problema desse governo é que é um governo velho, não pela idade. Ronald Reagan foi o presidente, talvez um dos maiores presidentes dos Estados Unidos, e era o presidente mais velho da nossa história. O Lula é um homem completamente ultrapassado, que não tem sido capaz de enfrentar os novos tempos que o mundo nos colocou, os desafios que o mundo nos colocou. E eu não vejo mais como ele se reinventar. É por isso que eu acho que ele está em declínio irreversível na sua popularidade.
Senador, o senhor agora está junto, na mesma bancada, que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e que o senador Sérgio Moro. As notícias recentes dão que o presidente Alcolumbre tem conversado com o Supremo Tribunal Federal para propor um projeto alternativo de anistia e que ele pediu ajuda ao senador Sérgio Moro. Seria mais ou menos o que tem se chamado de “meia anistia”. O senhor vai conversar com o presidente Davi Alcolumbre e com o senador Sérgio Moro para procurar que essa anistia proposta seja aquilo que vocês, mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acreditam ser necessário?
Olha, eu defendo a votação na ação dessa anistia. Eu defendo que, mesmo as pessoas que depredaram prédios públicos, não sejam anistiados pura e simplesmente. Elas têm que pagar por aquele crime. Achar que aquela moça do batom era uma golpista, que tramou, é um absurdo. Então, eu acho que o próprio Supremo viu que errou. Não tem cabimento a pessoa ser condenada a 14 anos de prisão e estar em casa. Então, viu que errou, que pesou na medida. Nós temos que, pelo amor de Deus, que virar essa página na nossa história. Eu acho que a gente perde muito tempo, como diz na minha terra, com um “defunto”. Vamos virar essa página. O presidente Sarney uma vez me falou: “olha, o Lula devia ter feito como Juscelino”. O Juscelino quando assumiu, teve uma discussão de golpe na época, ele virou essa página, anistiou isso. Vamos olhar para frente. Esse país tem que pensar nas pessoas que estão sendo violentadas dentro da sua casa, que estão sem emprego, que estão sem capacidade, que não estão melhorando de vida, do que ficar o dia inteiro tratando de anistia, de perseguição ao presidente Bolsonaro. Pelo amor de Deus, vamos virar essa página da nossa história. Olha, a coisa mais emblemática para mim, nós vivemos em um país democrático e o símbolo da nossa democracia é o Congresso Nacional. E não se quer respeitar o direito da maioria? Isso é um absurdo. A maioria quer votar esse projeto projeto da anistia. Tem que se colocar isso em votação, tem que se respeitar o direito da maioria. Depois o Supremo vai julgar isso, se ela é constitucional, se ela não é constitucional, mas nós temos que virar a página da nossa história dessa situação que ninguém aguenta mais essa discussão.
Mas qual o projeto de anistia? A meia anistia do Davi Alcolumbre ou a anistia que está na Câmara dos Deputados
Fica muito essa especulação, certo? Precisa ver o texto. O texto que está colocado é o texto da Câmara, que eu espero que seja votado.
O senhor apresentou uma proposta alternativa ao projeto que amplia a isenção do imposto de renda. Como é que está o andamento disso? O senhor já conversou com o presidente da Câmara?
Já apresentamos uma proposta alternativa. O relator é talvez o parlamentar mais experiente da Câmara, que é o deputado Arthur Lira (PP-AL). É uma proposta alternativa. O primeiro ponto que nos unifica é no que diz respeito ao que foi apresentado, que é manter a isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Isso é uma grande conquista. Mas fizemos uma proposta alternativa porque nós achamos que quem tem que pagar essa conta são os grandes bancos, que estão fazendo um lobby absurdo aqui no Congresso para evitar que a gente aumente. Eu quero esclarecer, eu vi um artigo ontem do secretário da Receita Federal, que foi absurdo. Parecia o presidente da Febraban fazendo aquele artigo. Ali nós estamos taxando é o lucro dos bancos, não é faturamento, não é outras situações. É o lucro. E lucros acima de 1 bilhão de reais, que é quem tem que pagar essa conta. Tirar também uma parte dessas isenções que nós temos no país, que é só 2,5%. Isso é muito melhor do que taxar 20 milhões de microempresas e do simples no nosso país que vão ser afetadas por essa proposta do governo. Então, a proposta do Progressista é muito melhor para a sociedade do que a que foi apresentada pelo governo.
Quais os desafios principais que o senhor vê na federação União Brasil e PP? Como superar essas barreiras desse modelo de federação?
Olha, é muito diálogo, não é? Fazendo um projeto. Eu volto a dizer: tem que se deixar os projetos individuais e pensar em um projeto coletivo, de construir uma grande federação, que é a maior do país em todos os níveis. Temos que pensar mais no projeto para o país. Eu espero que essa federação seja uma grande bússola política para o Brasil. É um novo ciclo que se inicia em que. Eu tenho certeza que nós vamos colocar os interesses do Brasil acima dos interesses individuais.