Após as ações praticamente quadruplicarem de preço na bolsa em março — em um movimento majoritariamente atribuído ao desenrolar de um short squeeze —, a Casas Bahia (BHIA3) deixou claro que pretende tomar novas proteções para se defender de eventuais ofertas “hostis e oportunistas” para tomada de controle.
A varejista propôs, na noite passada (30), uma alteração do estatuto para incluir disposições sobre uma poison pill — uma pílula de veneno, em tradução literal.
Esse mecanismo determina a obrigação de lançamento de oferta pública de aquisição (OPA) pelas ações dos minoritários sempre que um investidor adquirir uma participação igual ou superior a 20% dos papéis BHIA3 emitidos.
A proposta deve ser discutida na assembleia geral extraordinária (AGE) marcada para 30 de abril.
A proposta acontece apenas alguns dias depois de o investidor Rafael Ferri atingir uma participação de cerca de 5% na varejista.
Muito conhecido dos pequenos investidores da bolsa nas redes sociais, Ferri já popularizou entre os ‘sardinhas’ teses de investimento como a da empresa de educação Cogna, além da própria Casas Bahia quando ainda se chamava Via Varejo.
No passado, Ferri chegou a ser condenado pela CVM por manipulação de mercado no caso da chamada “bolha do alicate”, como ficou conhecida a valorização e posterior queda da empresa de utensílios domésticos Mundial.
A pílula de veneno da Casas Bahia (BHIA3)
Segundo a Casas Bahia (BHIA3), as mudanças propostas para o estatuto visam à “proteção da dispersão acionária e ao aprimoramento da governança corporativa da companhia, bem como à geração de valor a seus acionistas”.
Vale lembrar que a varejista é hoje uma “true corporation”, com capital pulverizado na bolsa e sem um acionista controlador. Atualmente, cerca de 75% dos papéis BHIA3 são negociados livremente na bolsa (free float).
A empresa afirma que essa qualidade confere “diversos benefícios”, como os de governança corporativa, como:
- A viabilidade de composição do conselho de administração com membros independentes, não vinculados a acionistas e que ajudem na boa gestão dos negócios da Casas Bahia;
- A mitigação do risco de decisões tomadas em situação de conflito de interesses; e
- A garantia da busca pela adoção das melhores práticas de governança corporativa.
Dessa forma, com a pílula de veneno, qualquer acionista que venha a adquirir participação relevante na varejista estaria obrigado a tratar todos os investidores de forma isonômica, por meio do lançamento de uma OPA pelas ações BHIA3.
A administração afirma que o novo mecanismo protegeria a governança “ao dificultar movimentos hostis e oportunistas de tomada de controle da companhia”, estimulando que qualquer tentativa de compra de controle seja oferecida a todos os acionistas “de forma equânime e com o pagamento do preço justo”.
Nos termos da proposta, o preço mínimo da OPA não deve ser inferior ao maior valor determinado entre:
- 125% do valor justo da Casas Bahia;
- 125% do preço de emissão das ações no último aumento de capital;
- 150% do maior preço por ação pago pelo novo acionista relevante até a realização da OPA.
- 150% da maior cotação de fechamento das ações da companhia durante os 12 meses anteriores à data de atingimento da participação relevante.
As ações da Casas Bahia (BHIA3) operam no campo positivo na bolsa brasileira hoje, com ganhos de 3,68% por volta das 11h20, negociadas a R$ 10,70. Desde o início do mês, a valorização chega a 289% na B3.
Apesar da escalada, a maioria dos analistas ainda recomenda cautela com a varejista. De oito recomendações compiladas pelo TradeMap, seis são neutras e duas, de venda.
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