A ação do Bradesco (BBDC4) ainda está sendo negociada perto das mínimas históricas e com um grande desconto em relação aos concorrentes no Brasil.
No entanto, a recuperação nos lucros do bancão deve demorar mais do que o esperado, e os desafios estruturais também devem manter o retorno sobre o patrimônio (ROE) abaixo do capital próprio (COE, na sigla em inglês) por pelo menos mais dois anos.
É com base nessa previsão que o Goldman Sachs decidiu tirar Bradesco da carteira. O banco americano rebaixou a recomendação da ação preferencial de neutro para venda e ajustou o preço-alvo para R$ 11,40 — um potencial de queda de 7% em relação ao último fechamento.
O relatório divulgado nesta quarta-feira (12) também revisou a recomendação para outros bancos, mas BBDC4 foi a ação mais penalizada, operando em forte baixa na B3.
Por volta das 14h30, o papel caía 4,89%, a R$ 11,68. O forte recuo também ajudou a puxar o principal índice da bolsa brasileira para baixo, junto com a atividade fraca no Brasil e a inflação forte nos EUA. No mesmo horário, o índice operava em queda de 1,74%, aos 124.324,90 pontos.
No mesmo relatório em que cortou a recomendação do Bradesco, o Goldman Sachs também elevou a ação do Santander (SANB11) para Neutro e reiterou compra de Itaú Unibanco (ITUB4).
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Por que o Goldman Sachs rebaixou o Bradesco para venda?
“O cenário econômico desafiador no Brasil, com inflação e juros em alta e um crescimento mais lento do PIB, pode tornar a recuperação ainda mais difícil”, afirmam os analistas.
“Isso é especialmente complicado para um banco que precisa expandir sua carteira de crédito para voltar a lucrar, mas que tem um nível de capital abaixo da média e ainda precisa fazer investimentos significativos para conquistar clientes de alta renda.”
Os analistas projetam que a carteira de crédito do setor bancário privado no Brasil deve continuar crescendo a um ritmo próximo dos dois dígitos este ano — inclusive para o Bradesco —, o que deve fortalecer a margem financeira com clientes.
No entanto, o enfraquecimento do cenário econômico do país pode tornar a segunda metade do ano mais desafiadora. Dessa forma, os bancos com maior lucratividade e capitalização devem estar em uma posição mais segura para se defender.
Mas no caso do Bradesco, o banco tem um ROE menor que o dos concorrentes e até abaixo do que costumava apresentar, especialmente por conta dos gastos com a sua reestruturação. Além disso, mudanças nos investimentos fizeram seu valor contábil diminuir.
“Olhando para frente, o banco pode precisar de novas despesas com reestruturação para se aproximar dos pares, enquanto o cenário econômico mais fraco pode forçá-lo a crescer abaixo da média do setor para preservar capital”, afirma o Goldman Sachs.
Na avaliação do banco americano, o Bradesco está sendo negociado a um múltiplo Preço/Lucro de 6,3 vezes e um Preço/Valor Patrimonial de 0,8 vez para 2025.
Esses valores estão abaixo da média dos outros bancos concorrentes no Brasil, que são de 6,7 vezes e 1,3 vez, respectivamente. No entanto, o Goldman Sachs considera que esse desconto faz sentido, dado o ROE projetado de 12,4% para 2025 e 13,4% para 2026.
No quarto trimestre, o Bradesco teve um resultado neutro, de acordo com os analistas, em uma combinação de lucratividade dentro do esperado, rentabilidade atrás dos principais concorrentes privados e aumento de custos. Veja os destaques do balanço aqui.
Goldman eleva Santander Brasil (SANB11) para Neutro
O Santander Brasil, por sua vez, conseguiu manter o ROE acima do custo de capital nos últimos três trimestres, e o Goldman Sachs acredita que essa tendência pode continuar.
O bancão elevou a recomendação de SANB11 de venda para neutro, com preço-alvo de R$ 28. O valor representa um potencial de valorização de 6% sobre o fechamento anterior.
Por volta das 14h30, a ação do banco operava em leve queda de 0,04%, a R$ 26,24.
De acordo com o relatório, o Santander Brasil tem uma participação maior no financiamento de veículos, que representa 17% do total da sua carteira, enquanto a média do setor é de apenas 5%. Isso explica a postura mais conservadora na concessão de crédito e a preferência por clientes de alta renda, segundo os analistas do Goldman Sachs.
Além disso, a distribuição geográfica do Santander é mais parecida com a do Itaú do que com o Bradesco. Atualmente, o banco tem presença mais forte no Sudeste e no Sul do país, regiões que apresentam menores taxas de inadimplência, diz o banco americano.
O Santander Brasil está sendo negociado a um múltiplo Preço/Lucro (P/L) de 6,1 vezes e um Preço/Valor Patrimonial (P/BV) de 1,0 vez. O banco tem um retorno sobre o patrimônio (ROE) projetado de 17,1% para 2025 e 17,2% para 2026.
É hora de comprar Itaú Unibanco (ITUB4)
No caso do Itaú, o banco manteve recomendação de compra para ITUB4. Já o preço-alvo é de R$ 39, o que implica um potencial de valorização de 12% sobre o fechamento anterior.
A avaliação dos analistas do Goldman Sachs também foi feita com base em um modelo de fluxo de dividendos em três estágios, considerando um custo de capital próprio de 14,5%, um crescimento de 7% no segundo estágio e uma taxa de crescimento final de 5%.
No entanto, ainda existem riscos para a ação do Itaú em 2025, incluindo ROEs persistentemente baixos na Colômbia e no Chile e um crescimento mais fraco na receita. Além disso, o banco tem como desafio a maior concorrência por clientes de alta renda.
No quatro trimestre de 2024, o Itaú apresentou um lucro recorrente gerencial de R$ 10,884 bilhões no 4T24, alta de 15,78% ante o mesmo período de 2023 e apenas levemente acima das projeções dos analistas compiladas pela Bloomberg, de R$ 10,831 bilhões.
Já a rentabilidade medida pelo ROE foi de 22,1%. Confira outros destaques do balanço.
Juntos, Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) lucraram R$ 74,8 bilhões em 2024, 22,1% a mais do que no ano anterior. Veja a matéria completa aqui.
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