“O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato [a presidente], se for candidato não deve ser eleito, se for eleito, não deve tomar posse, se tomar posse não pode governar” – escreveu o jornalista Carlos Lacerda, golpista de raiz, no seu jornal “Tribuna da Imprensa”, do Rio, lá se vão 75 anos.
Vargas governou o país como ditador entre 1930 e 1945, quando foi derrubado pelos militares que o apoiavam. Em 1950, elegeu-se presidente pelo voto popular. Tomou posse. E governou até 1954. Suicidou-se no dia 24 de agosto, véspera do Dia do Soldado, para não ser derrubado outra vez.
Lacerda foi deputado federal e depois governador da Guanabara. Apoiou o golpe militar de 1964 pensando em ser candidato a presidente no ano seguinte. Como não houve eleição, rompeu com os militares. Foi cassado e preso em 1968. Morreu em 1987, dois anos após o fim da ditadura
Disseram que Lula não deveria ser candidato, se fosse que não deveria ser eleito, se eleito não deveria tomar posse, e se tomasse não poderia governar. O Congresso é o pior da história e o mais poderoso graças ao Orçamento Secreto e à fraqueza de Dilma, Michel Temer e Bolsonaro. Lula governa com dificuldades.
Isso não significa que cessou a resistência a que ele governe quatro anos, direito que adquiriu ao derrotar seus adversários nas eleições passadas. O golpe bolsonarista de dezembro de 2022 fracassou, e o de 8 de janeiro de 2023, também. Mas o espírito golpista de boa parte dos brasileiros está vivo.
Uma coisa é opor-se a um governante eleito. Todos temos esse direito. A alternância no poder é um dos marcos da democracia. Outra coisa é o golpismo, que tem como objetivo substituir a democracia por um regime autoritário. A ditadura de 64 durou 21 anos com as consequências que ainda sentimos.
Nunca se falou tanto em preservar democracia como se fala hoje. Até Bolsonaro fala, como se não tivesse tentado suprimi-la “dentro das quatro linhas”. Falar, porém, não basta. É preciso ampliar as fileiras dos que a defendem de verdade e punir os que a ameaçam. Sem hesitação. Sem clemência. Sem anistia. Sem mimimi.
Recupere-se, portanto, Bolsonaro, para pagar pelo que fez. Ou para fugir da Justiça e pedir asilo com a desculpa esfarrapada de que é um perseguido político.
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