Em qualquer lista de boas pagadoras de dividendos que você encontrar pela internet, é provável que as quatro empresas com os maiores dividend yields (DY) de 2024 não estejam incluídas.
Ainda assim, no ano passado, foram essas “ilustres desconhecidas” que expulsaram a Petrobras (PETR4) do top 4 do ranking, alcançando rendimentos de dividendos de até 52%. Em 2022, a petroleira foi a maior pagadora do ano e, em 2023, alcançou o 4º lugar.
O levantamento pela Quantum Finance, considerando as cotações de 02/01/2024 a 30/12/2024, mostra que as seguintes empresas entregaram o maior retorno aos acionistas com dividendos:
- SYN Prop & Tech (SYNE3), com DY de 52,03%;
- Allied Tecnologia (ALLD3), com DY de 34,54%;
- Anima Holding (ANIM3), com DY de 29,80%;
- Embpar Participações (EPAR3), com DY de 22,94%;
- Petrobras (PETR4), com DY 21,80%.
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Vale lembrar que o dividend yield é calculado dividindo o valor total dos dividendos pagos por uma empresa nos últimos 12 meses pelo preço da ação.
Em outras palavras, o indicador mostra o quanto o investidor obteve de retorno apenas com os proventos pagos por uma companhia.
Cada um desses números conta uma história diferente. Enquanto algumas empresas tiveram o número “inflacionado” pela queda dos papéis, outras viveram um ano atípico, distribuindo em 2024 os proventos acumulados de outros períodos.
Com a ajuda de Ruy Hungria, analista da Empiricus Research e colunista do Seu Dinheiro, resolvemos reconstituir as jornadas que levaram essas companhias a se destacarem no ranking da Quantum.
E, já que o que foi pago está no passado, também descobrimos se essas ações podem repetir o feito e pagar bons dividendos em 2025.
Fenômeno passageiro?
Ocupando o primeiro lugar do ranking, a SYN Prop & Tech (SYNE3) foi criada após uma cisão parcial do negócio da Cyrela (CYRE3).
A incorporadora foca em imóveis comerciais, especificamente para shoppings e edifícios corporativos de alto padrão. O portfólio é relativamente concentrado: há empreendimentos em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
Em 2024, a companhia vendeu parte do portfólio de shoppings para o fundo imobiliário XP Malls (XPML11) por R$ 1,85 bilhão, o que marcou uma das maiores transações da história do setor.
A companhia decidiu então distribuir parte desse caminhão de dinheiro aos acionistas. Em setembro do ano passado, a Syn anunciou o pagamento de R$ 440 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 2,88 por ação.
Outro fator que contribuiu significativamente para o pagamento de proventos tão relevantes foi a redução de capital de R$ 560 milhões, feita pela empresa no começo de dezembro.
Esse valor também foi parar na conta dos acionistas, resultando em um pagamento de R$ 3,66 por ação.
Diferentemente do que aconteceu com outras ações do ranking, a SYNE3 viveu um ano bom tanto em termos de remuneração para os investidores quanto em valorização do papel: a alta foi de 182% no ano, o que faz com o que o DY de 52% seja ainda mais louvável.
No terceiro trimestre de 2024, a incorporadora registrou lucro líquido de R$ 22,6 milhões, um aumento de 534,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A má notícia, no entanto, é que esse fenômeno não deve se repetir, já que a distribuição ocorreu em razão de um evento pontual com a venda dos shoppings, na visão de Ruy Hungria.
Tirando o atraso
A segunda colocada aproveitou uma boa posição de caixa e dividendos acumulados de anos anteriores para “turbinar” os pagamentos aos acionistas em 2024.
Além disso, ainda conseguiu manter uma boa performance na bolsa, uma tarefa que não foi exatamente fácil em um ano em que a Selic voltou a subir e o Ibovespa caiu 10%.
A Allied Technologies (ALLD3) subiu 20,6% no ano e pagou dividendos na casa de 34,54%. No ranking feito também pela Quantum e divulgado no meio de 2024, ela era top 1 pagadora da bolsa.
Apesar de não ter muito destaque no noticiário financeiro, a Allied é a maior distribuidora de produtos eletrônicos no Brasil, como celulares, notebooks e TVs. Ela tem a maior rede de lojas da Samsung da América Latina.
Em março, a companhia aprovou o pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) no valor de R$ 100 milhões, o equivalente a R$ 1,07 por ação ordinária (antes da cobrança de imposto de renda, que incide sobre esse tipo de provento).
Esse valor aprovado, segundo a companhia, era “referente ao patrimônio de anos anteriores a 2024, ainda não pagos”. Em novembro, a Allied anunciou mais R$ 122 milhões em JCP.
Outro fator que ajudou a companhia foi a “boa posição de caixa”, segundo o analista da Empiricus Research. No 3T24, o valor em caixa era de R$ 315,8 milhões. Por outro lado, a dívida bruta era de R$ 556,1 milhões.
Desse modo, a perspectiva de Hungria é de que o DY tão alto da Allied não se repita para 2025.
Resultados melhores, mas ação em queda livre
Depois de uma “seca” de cinco anos de dividendos, a empresa de educação Ânima (ANIM3) voltou a fazer pagamentos para os acionistas, anunciando uma o valor de R$ 178 milhões em agosto de 2024. A quantia resultou em R$ 0,47 por ação.
Apesar do dividend yield elevado (29,8%) chamar a atenção à primeira vista, vale lembrar que a ação — que não integra a carteira do Ibovespa, principal índice da B3 — caiu quase 60% no ano, o que contribuiu para “inflar” o número.
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Após o baque da pandemia, a companhia está se recuperando. Até o 3T24, foram 11 trimestres consecutivos de ganhos de margem.
Entre outros indicadores de destaque, estão o crescimento da geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 50,5% em dois anos e recuo da alavancagem de 4,1 vezes no quarto trimestre de 2022 para 2,71 vezes no terceiro trimestre de 2024.
“A Ânima aproveitou uma melhora de resultados durante o ano para distribuir uma porção relevante da reserva de lucros, mas é algo que não deve ser tratado como recorrente”, comenta Hungria.
Um enigma na bolsa
O dividend yield expressivo da companhia no quarto lugar do ranking da Quantum Finance é digno de uma série de mistério.
Em 2024, a Embpar (EPAR3), empresa que atua tanto com logística como com o setor florestal, teve proventos na casa de 22,94% e viu o papel cair 43,33%.
No final do ano, os acionistas receberam os dividendos acumulados do ano: o pagamento obrigatório da companhia, após ter registrado lucro em 2023, e um pagamento complementar, aprovado em dezembro.
No total, o montante foi de R$ 18 milhões, um valor quase “insignificante” para as maiores empresas da bolsa, mas bastante considerável para uma empresa que tem valor de mercado de meros R$ 82,5 milhões.
No final de 2023, a empresa aprovou uma redução de capital de R$ 11,3 milhões, sem fazer o cancelamento das ações. No entanto, o processo não teve tanta clareza, o que acabou rendendo uma multa da CVM (Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado de capitais) ao diretor de Relações Internacionais.
A queda das ações em 2024 ajudou a métrica de dividendos a subir significativamente. Ainda assim, só a desvalorização do papel parece insuficiente para explicar como a companhia pagou relativamente mais dividendos que a Petrobras, uma empresa com tradição de bons pagamentos.
O fato da empresa ter uma liquidez muito baixa e ser pouco conhecida na bolsa são fatores que indicam que, provavelmente, este DY alto tenha sido uma ocorrência atípica.
Tradição é tradição
Por fim, a Petrobras (PETR4), que subiu 18,9% no ano, pagou dividendos na casa dos 21,8%, um número notório para uma empresa blue chip (com grande valor de mercado).
- As ações ordinárias, representadas pelo ticker PETR3, tiveram métricas parecidas: o DY foi de 19,9% e a alta dos papéis, de 22,18%.
Foram seis pagamentos aos acionistas ao longo de 2024, incluindo dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões aprovados no final do ano.
Com isso, a estatal provou que, mesmo com todo o risco político e polêmica sobre a distribuição dos resultados aos acionistas ao longo do ano, continuou recompensando os investidores que estão em busca de dividendos.
No relatório Global Dividend Index, da gestora Janus Henderson, referente ao segundo trimestre de 2024, a petroleira ocupou o 13º lugar na lista das maiores pagadoras de proventos.
Na edição do 3T24, no entanto, a empresa saiu do top 20 global. A quantia anunciada para o período foi de R$ 17,12 bilhões, dividida em dois pagamentos diferentes.
“Apesar de esperar um dividend yield menor do que nos últimos anos, ainda vemos a Petrobras gerando muito caixa com o petróleo e o dólar nos níveis atuais, e continuará com potencial de distribuir níveis acima de 10% de dividendos nos próximos anos, o que deve mantê-la entre as principais pagadoras de proventos da bolsa”, comenta o analista.
Apesar disso, Hungria acredita que as ações já estão negociando próximas do preço justo, mantendo uma recomendação neutra.
A Petrobras não está entre as ações recomendadas por na carteira Vacas Leiteiras, da Empiricus Research.
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As 10 maiores pagadoras de dividendos de 2024
No levantamento completo, a Quantum Finance mapeou as dez melhores pagadoras da bolsa em 2024.
A consultoria considerou apenas empresas com 100% de presença em bolsa no ano passado e com ações que tiveram pelo menos um negócio diário. Confira o ranking na íntegra:
Ranking | Nome | Ticker | Dividend yield (cotação final) | Retorno |
1 | SYN PROP TECON NM | SYNE3 | 52,03% | 182,79% |
2 | ALLIED ON NM | ALLD3 | 34,54% | 20,67% |
3 | ANIMA ON NM | ANIM3 | 29,80% | -59,65% |
4 | EMBPAR S.A. ON | EPAR3 | 22,94% | -43,33% |
5 | PETROBRAS PN | PETR4 | 21,80% | 18,91% |
6 | PETROBRAS ON | PETR3 | 19,98% | 22,18% |
7 | VULCABRAS ON | VULC3 | 19,33% | -8,90% |
8 | PETRORECSA ON NM | RECV3 | 16,97% | -13,50% |
9 | EVEN ON NM | EVEN3 | 16,77% | -26,08% |
10 | MARFRIG ON NM | MRFG3 | 16,64% | 104,76% |
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