Os governantes, bons ou ruins, deixam sua marca na história. São identificados por seus feitos, sejam os considerados positivos ou os negativos. Vejamos. Getúlio Vargas governou por decretos leis, instalando a ditadura do Estado-Novo, dissolvendo partidos e mantendo o poder até 1946.
Na esfera positiva, é aplaudido por ter sido o governante que propiciou a vida dos sindicatos, criou o salário-mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e a Petrobras, em 1953, depois de ter voltado à Chefia da Nação, em 1950. O “pai dos pobres”, como era chamado, é ainda considerado por muitos como o melhor chefe do Poder Executivo do século XX, a ponto de ser referência do bom governante.
Identidade do governo – O Trabalhismo e o Nacionalismo
Juscelino Kubitschek cravou sua identidade no fortalecimento da indústria nacional. Mas a construção de Brasília e o Plano de Metas foram suas principais marcas. Com sua estampa simpática, o romântico mineiro conquistou as massas. Era um dançarino que apreciava ouvir o violão de Dilermando Reis tocando a marchinha “Peixe Vivo”.
Identidade do governo – O Desenvolvimentismo
Presidente em 1961, Jânio Quadros, o extravagante, proibiu biquínis nas praias e brigas de galo. Sua marca, a par de medidas polêmicas, foi a do presidente que adotou uma política externa independente. Renunciou, dando como motivo a pressão de “forças ocultas”. Mas esperava voltar nos braços do povo.
Identidade do curto governo – A Moral e os bons costumes
João Goulart, o vice de Jânio, tem sua imagem associada à tentativa de deslocar o Brasil para a esquerda do arco ideológico. Março de 1964, sexta feira, 13. Comício na Central do Brasil. Jango, diante de 200 mil pessoas reunidas na Praça da República, em frente à Estação Pedro II, inflamava a massa com um discurso, que teria sido o estopim para o golpe.
Identidade do curto governo – O Esquerdismo
O ciclo militar abriu os “anos de chumbo”, “a era das trevas”. Ao longo de seus 21 anos, o país foi governado por meio de meio de decretos-lei e de uma nova constituição. A repressão e a violência do Estado bateram nas instituições. Os Direitos Humanos eram considerados “coisa da esquerda. O famigerado Ato Institucional nº 5 foi a ação mais dura do regime e a que mais proporcionou atitudes arbitrárias. O “obreirismo faraônico” dos militares construiu grandes obras, como rodovias (a Transamazônica), hidrelétricas, usinas nucleares, avenidas, marginais e metrôs.
Identidade do longo ciclo militar – A Violência do Estado e o “Obreirismo Faraônico”.
O governo Sarney notabilizou-se pela condução do processo de redemocratização do país. Partidos políticos, até então clandestinos, foram legalizados. Abriram-se as comportas do universo da locução, com forte impulso aos eixos da democracia participativa. Referência maior da redemocratização do país foi a edificação da Constituição Federal de 1988. Na área econômica, porém, o governo não conseguiu domar o “dragão da inflação, por meio dos Planos Cruzado I, Cruzado II e Verão.
Identidade do governo – A abertura do Ciclo da Redemocratização.
O governo do alagoano Fernando Collor tem sua identidade cravada em dois pilares: o Plano Collor, que objetivava, em 1990, combater a hiperinflação no Brasil por meio do confisco de depósitos bancários acima de 50 mil cruzeiros. Um desastre. Mesmo ilustrando sua imagem com a tintura de um governo que cortou subsídios estatais, o governo demitiu milhares de funcionários públicos, congelou preços e salários e privatizou empresas estatais. Collor de Melo não resistiu às denúncias de corrupção, envolvendo seu tesoureiro de campanha eleitoral, Paulo César Farias. Antes de ser aprovado o impeachment, o presidente renunciou ao cargo.
Identidade do governo – Abertura Comercial e Corrupção.
Itamar Franco, o vice de Collor, deixou o governo com a imagem de “honesto” e, sobretudo pela implantação do melhor plano econômico da contemporaneidade: o Plano Real. Que contou com a ação decisiva e inovadora de seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, um schollar que formou um grupo de grandes economistas, responsáveis pelo engenhoso Plano Real. O Plano acabou com a hiperinflação e iniciou um conjunto de programas sociais, entre os quais, o como o bolsa-escola, o vale-gás e o bolsa-alimentação. O Plano Real garantiu à FHC o comando do país por 8 anos.
Identidade do governo- Estabilização da moeda/fim da hiperinflação.
Chegamos ao governo Lula. Que imagem o lulopetismo conseguiu construir? No Lula I, iniciado em janeiro de 1983, o PT ainda ainda se posicionava no canto esquerdo do arco ideológico. Lula chegou a ser considerado por contingentes da base da pirâmide social como “ pai dos pobres”.
Fez um primeiro governo com ênfase no assistencialismo: programas como o Bolsa Família e o Fome Zero foram reconhecidos pela ONU. Mas o PT nunca reconheceu que as ações assistencialistas eram clones reformados dos programas da era FHC.
O que se pode dizer da imagem do lulopetismo, após 30 anos de governança? A economia tem caminhado mais por curvas do que por retas. O Lula 1 foi bem recebido pela sociedade. O Lula 2 já não teve tanta aprovação. A administração mergulhou numa maré de denúncias sobre ilegalidades. A Operação Lava Jato desvendou a malha intestina de corrupção.
O governo Bolsonaro, por sua vez, conduziu o país pela via da direita. O ex-capitão do Exército deu vez e voz aos grupos conservadores. Teve conquistas relevantes, como a reforma da Previdência, a autonomia do Banco Central, a lei de Liberdade Econômica, o Marco Legal do Saneamento.
Na sequência, a administração reformista do governo Michel Temer que, em curto espaço de tempo, realizou um denso programa de reformas, entre as quais, a reforma trabalhista e a lei da terceirização. O governo Temer é, hoje, considerado o mais arrojado da contemporaneidade. Em dois anos, fez o maior conjunto de reformas que puxaram o país para o caminho do progresso. A Reforma Trabalhista a Lei da Terceirização se inserem entre as maiores conquistas da administração pública no país.
Identidade do governo – Avanços/Progressista/reformista
O Lula 3 mostra um governo sem rumos, caminhando nas curvas do “é dando que se recebe”. P. S. No meio, registram-se a era tumultuada do “poste” Dilma Rousseff e, na sequência, a administração reformista do governo Temer que, em curto espaço de tempo, realizou um denso programa de reformas, entre as quais, a reforma trabalhista e a lei da terceirização.
Identidade da era Lula – Esquerdismo/Assistencialismo/populismo/ Corrupção/Guinada ao Centro
Hoje, o país continua rachado, desunido, ao contrário do que prometia o candidato petista na campanha em que anunciava a Reconstrução do País, lema que o marqueteiro Sidônio Palmeira tenta consertar.
Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista e professor titular da USP.