O tempo voou e a Eletrobras (ELET3) completou nesta semana três anos como uma empresa privada, celebrando avanços operacionais e na gestão, como a redução de custos operacionais e passivos de empréstimos compulsórios.
No entanto, o desempenho de suas ações ainda não reflete as expectativas do mercado. A ação ordinária da companhia está cotada a R$ 41,03, abaixo dos R$ 42 estabelecidos durante sua oferta pública de ações (IPO), quando analistas projetavam preço-alvo entre R$ 60 e R$ 70.
O que explica a Eletrobras não ter destravado o valor projetado? Entre os fatores que se encontram a estagnação das ações, que enfrentam o cenário desafiador do setor elétrico, com sobreoferta de energia e preços baixos para o megawatt-hora (MWh), além de desafios regulatórios e políticos.
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A disputa com o governo, que questionou sua limitação de poder de voto, também afetou o ritmo das reformas internas. O mercado segue atento à relação da Eletrobras com o governo, que ainda detém uma participação significativa da companhia, o que pode influenciar sua estratégia e os planos de alocação de capital.
Acordo da Eletrobras com governo deixou ‘gosto amargo’
Para Vitor Sousa, da Genial Investimentos, a ação ajuizada pelo governo Lula junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2023, levou a empresa a postergar medidas que levariam a um processo mais acelerado de melhoria (turnaround), mas que seriam polêmicas do ponto de vista político, como a incorporação das subsidiárias Chesf e Eletronorte e cortes mais profundos de funcionários.
“Tenho impressão que parte da letargia diz respeito à suspensão de uma agenda mais sensível. A empresa seguiu com outras agendas, como descruzamento de ativos, redução dos empréstimos compulsórios, mas uma parte do turnaround foi desacelerado”, diz.
Na visão dele, apesar do desfecho relativamente favorável do acordo com a União – que manteve o limite de 10% de poder de voto ao governo, embora cedendo mais assentos no conselho da companhia – “ficou um gosto amargo”, diante da avaliação de que a tese da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) não prosperaria em julgamento.
O mercado segue atento às potenciais influências do governo na companhia após o acordo. João Pimentel, do Citi, lembra que a União permanece como acionista com mais de 40% do capital total.
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“Isso apresenta um risco político contínuo, já que a Eletrobras deve navegar suas relações com o governo tanto como acionista quanto como autoridade reguladora. Mudanças nas políticas regulatórias ou aumento da intervenção governamental poderiam impactar a direção estratégica da Eletrobras, potencialmente afetando sua estratégia de dividendos e planos de alocação de capital”, escreve, em relatório.
Além disso, cita que a liderança da Eletrobras deve equilibrar interesses dos stakeholders públicos e privados, o que poderia limitar certas decisões operacionais.
Já o analista da Suno Research Bernardo Viero considera que a falta de valorização dos papéis desde a capitalização está atrelada ao atual momento do mercado acionário, esquecido frente à renda fixa por causa das elevadas taxas de juros.
“Isso faz com que a geração de resultados das empresas de maneira geral não esteja bem refletida nos preços, que na minha visão estão em desacordo com o real valor de uma boa parte dos negócios”, disse Viero.
O analista da Ativa Ilan Arbetman, por sua vez, destaca o “percalço” enfrentado pela companhia no primeiro trimestre de 2025 por causa de sua estratégia de comercialização, que a levou a um desempenho operacional abaixo do esperado.
“Mas a tese segue intacta, e os preços de longo prazo da energia estão subindo, o que favorece quem está mais descontratado”, afirma Arbetman.
Energia para venda
A liberação gradual da energia contratada sob o regime de cotas de garantia física para comercialização no mercado livre foi classificada inicialmente como um dos principais impulsos para companhia com a privatização, uma vez que o megawatt-hora (MWh) que era remunerado a cerca de R$ 90 poderia ser comercializado a valor maior.
A chamada “descotização”, correspondente a cerca de um terço da capacidade da companhia, é gradual e será concluída em 2027.
Wellington Senter, diretor da Fitch Ratings, lembra que o cenário de preços futuros da energia traçado à época da privatização foi alterado significativamente, tendo em vista o crescimento mais acelerado que o projetado na geração solar distribuída, movimento que intensifica a sobreoferta de eletricidade no País.
“O que estava no controle da companhia, ela entregou a contento, mas o que não estava, que é o cenário para o setor, principalmente de preços de energia, é mais preponderante”, explica Senter.
Ele avalia, porém, que os preços estão um pouco melhores do que há um ou dois anos, embora ainda abaixo do vislumbrado à época da privatização. Isso permitiu a recente alteração na perspectiva do rating da companhia, de negativa para neutra. A classificação, porém, segue abaixo da nota do Brasil, enquanto antes da privatização acompanhava o rating soberano.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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